Com história central desgastada, Além da Ilusão vale pelas tramas paralelas

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É desalentador quando uma mocinha que parecia promissora cai na armadilha da necessidade de ser burra, chorona e chata para fazer a novela andar. Dorinha, a personagem de Larissa Manoela em Além da Ilusão, parecia ter tudo para ser grande. Pelo menos assim foi vendida, lá no início.

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Moça decidida, batalhadora, altiva, focada na carreira de estilista, Dorinha não se deixava abalar facilmente por intempéries. Dessa forma, fazia o contraponto necessário com sua falecida irmã Elisa, de perfil romântico e doce, morta na primeira fase da novela.

No início, as armações, armadilhas e o jogo de gato e rato entre o herói Davi/Rafael (Rafael Vitti) e o vilão Joaquim (Danilo Mesquita) não incomodavam. Joaquim é um vilão burro, movido pela emoção, tendo a cumplicidade da mãe, a pérfida Úrsula (Bárbara Paz). A trama vivia de ciclos de armadilhas dos vilões, que sempre acabavam descobertos e se dando mal. Era até divertido!

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E assim Além da Ilusão arrancou elogios de toda parte, com uma trama envolvente, até então bem conduzida pela autora Alessandra Poggi.

Amor emburrece?

Porém, Dorinha apaixonou-se por Rafael e assim caiu na pior das armações: tornou-se uma mocinha inconstante, revelando por trás da carcaça da mulher altiva, um perfil cheio de fragilidades.

Até aqui, tudo totalmente verossímil. Entretanto, é flagrante que essa mudança em sua personalidade serviu apenas de combustível para Rafael e Joaquim se digladiarem enquanto faltam alguns meses para o término da novela.

A pior fase – indefensável – foi o despertar de Dorinha para a rebeldia, quando envolveu-se com o bando de Nelsinho (Johnny Massaro). Era uma outra personagem, não porque começou a fumar e revoltar-se contra tudo e contra todos, mas porque não fazia o menor sentido.

De repente, para forçar uma situação, a autora transformou Dorinha em uma personagem imatura. De lá para cá, a mocinha caiu em uma espiral de atitudes e situações previsíveis que a tornaram insuportável para quem assiste.

Necessidade do roteiro

Saliento que Dorinha não é inconstante na personalidade, mas na necessidade do roteiro. Assim, de acordo com o que exige a situação, a mocinha mescla rompantes de progressismo (como quando toma iniciativa de ajudar o casal Leopoldo e Plínio) com retrocesso tacanho (como quando desiste de casar-se com Rafael porque descobriu que ele e Iolanda dormiram juntos, mesmo o rapaz tendo confessado).

O próprio Rafael, diga-se de passagem, usa sua mágica para safar-se das armadilhas dos vilões de acordo como o cronograma da novela (até agosto, quando termina).

A previsibilidade das armações chegou ao ápice recentemente quando Úrsula decidiu investigar a vida privada do médico que vai atestar sua gravidez a fim de descobrir algo com o qual pudesse chantageá-lo.

E descobriu uma amante. Ora vejam só! Quem diria, não é mesmo?

Forçar situações absurdas, ou que contradizem o perfil dos personagens (no caso de Dorinha), para fazer render a novela não só empobrece a narrativa como subestima a inteligência do público.

Tramas paralelas

Apesar da trama central ter afundado em uma espiral de situações forçadas, previsíveis e cansativas, a novela tem a seu favor as tramas paralelas, estas sim bem construídas e desenvolvidas por Alessandra Poggi. Com as melhores interpretações, inclusive.

Como toda a história envolvendo a filha desaparecida de Heloísa, com frequentes shows de Paloma Duarte e Antônio Calloni, gigantes em cena.

A garota Débora Ozório, como Olívia, a filha de Heloísa, é um talento e tanto e conquistou fãs nas redes sociais – onde comumente se lê que as protagonistas morais da novela são Heloísa, ou Olívia, ou Arminda.

Falando nela, os quiproquós entre Arminda e Mariana e todo o núcleo da rádio são divertidíssimos. As cenas em que os personagens fazem as radionovelas são bem escritas e dirigidas.

Caroline Dallarosa e Carolina Romano – Arminda e Mariana – esbanjam sintonia. Destaque também para o núcleo do cassino e para os veteranos Paulo Betti (Constantino), Alexandra Richter (Julinha), Marisa Orth (Margô) e Arlete Salles (Santa).

Além da Ilusão continua uma boa novela. Minha única crítica é em relação ao desgaste da trama central. O que prende mesmo é o que circunda o triângulo Rafael-Dorinha-Joaquim. Sobre o triângulo, por sua vez, espera-se apenas o desfecho do mágico fugitivo e que Dorinha recupere a lucidez.

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