Gilberto Braga (1945 – 2021) é considerado um dos maiores novelistas de todos os tempos. O autor é a mente por trás de grandes clássicos da teledramaturgia brasileira, como Escrava Isaura (1976), Dancin’ Days (1978), Vale Tudo (1988) e Celebridade (2003).

Gilberto Braga
Divulgação / Globo

Braga enfrentou complicações de um AVC e faleceu por conta de uma infecção sistêmica. Ele morreu amargurado, já que não conseguiu tirar do papel nenhum de seus últimos projetos. O autor sonhava em emplacar um sucesso após o fiasco de Babilônia (2015).

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Muitos planos

Babilônia - Adriana Esteves, Camila Pitanga e Gloria Pires
Divulgação / Globo

Apesar de ser dono de uma galeria de sucessos incontestáveis, Gilberto Braga nunca escondeu sua frustração por conta do fiasco de Babilônia (foto acima), trama que escreveu ao lado de Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. A novela foi a pior audiência do horário das nove da Globo até então e passou por uma grande reformulação para tentar elevar os índices, sem sucesso.

Mesmo debilitado por conta de seus problemas de saúde, Gilberto Braga tinha o desejo de emplacar um novo trabalho. Ele temia encerrar sua carreira tendo como último destaque justamente o seu maior fracasso. Por isso, tratou de propor novos projetos à Globo.

Uma de suas ideias era uma minissérie sobre Elis Regina, mas que foi logo abandonada por conta do filme sobre a cantora. O autor também tentou emplacar uma nova versão de Brilhante (1981) para o horário das onze, rebatizada de Intolerância. Por fim, quase conseguiu tirar do papel a novela das seis Feira das Vaidades, trama que acabou engavetada por conta da pandemia.

Último desejo

Gilberto Braga e João Ximenes Braga
Divulgação / Globo

Em entrevista à colunista Cristina Padiglione, da Folha de S. Paulo, o autor João Ximenes Braga (na foto acima, ao lado de Giba) relatou que a obsessão do novelista era conseguir realizar algum de seus últimos projetos.

“Em 2015, quando voltei da viagem de férias após Babilônia, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de Babilônia”, contou.

“Não ouso dizer que antecipasse sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. […] Mas superar esse fracasso era importante para ele”, explicou o novelista.

Cancelamentos

Gilberto Braga e Malu Mader
Divulgação / Globo

Uma das ideias de Gilberto Braga era reescrever Brilhante, novela que foi bastante afetada por conta da censura da época em que foi produzida, no início da década de 1980. Com o título Intolerância, o autor queria desenvolver melhor o conflito da homossexualidade de Inácio, vivido originalmente por Dennis Carvalho.

De acordo com João Ximenes Braga, Intolerância teve seus 60 capítulos escritos e entregues pelo novelista à Globo. No entanto, a trama acabou sendo engavetada.

Já Feira das Vaidades, novela escrita com Denise Bandeira e baseada em Vanity Fair, foi aprovada para a faixa das seis. Malu Mader (foto acima) e Cassio Gabus Mendes foram os primeiros atores escalados para o folhetim. Porém, no auge da pandemia, a direção da Globo optou por não produzir novelas de época naquele momento, desistindo de sua produção.

João Ximenes Braga contou ainda que a Globo havia solicitado à Gilberto Braga uma nova novela das nove. A intenção de Giba era adaptar Intolerância para o horário. No entanto, o autor faleceu sem conseguir levar adiante o projeto.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor