A supersérie das 23h, apesar de sua alta audiência, continua com uma trajetória problemática. Os Dias Eram Assim peca pelo desenvolvimento arrastado dos seus enredos e pela repetição de situações. Apesar disso, a novela de Ângela Chaves e Alessandra Poggi apresentou na última segunda-feira as suas melhores sequências, mobilizando um conflito paralelo: a descoberta de que Nanda (Julia Dalavia) é portadora de AIDS.

Irmã da mocinha Alice (Sophie Charlotte), Nanda cresceu com o espírito libertário mostrado pela protagonista nos primeiros capítulos da história – e que foi abandonado quando ela se casou com o vilão Vitor (Daniel de Oliveira).

Ao longo das passagens de tempo, o jeitão livre e independente da garota se reflete em seu comportamento sexual e também no uso de drogas, escandalizando a mãe conservadora, Kiki (Natália do Vale) – que vê sua outra filha seguir o mesmo caminho da mocinha.

Ao longo do tempo, em meio a um romance com o primo Caíque (Felipe Simas), a personagem começou a se sentir mal e emagrecer – a atriz inclusive perdeu 8 kg para a nova fase. E, no capítulo desta segunda, a garota desabou ao descobrir ser portadora da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (tradução da sigla inglesa original), que atravessou sua época mais devastadora, vitimando milhões em todo o mundo em um período onde os perigos eram muitos e a informação e o tratamento, poucos.

A agonia de Nanda resultou nas melhores cenas apresentadas pela novela das 23h e permitiu a Julia Dalavia viver suas melhores sequências na carreira. Apesar de a trama da AIDS também ter sido relativamente afetada pelo mau desenvolvimento da história, as sequências emocionaram muito e a atriz deu um show absoluto. Foi impossível não se sentir tocado pelo desespero da garota, que sempre viveu como queria, contestando as convenções da época.

A entrega de Júlia permitiu um desempenho visceral especialmente em três momentos: no começo do capítulo, quando Nanda recebe o diagnóstico; no meio, em uma triste cena em que ela aparece seminua no banheiro, chorando o seu estado (vale destacar o talento da atriz em se entregar a uma cena de nudez sem erotismo nenhum) e o devastador encerramento, em que, banhada em lágrimas, ela assume sua doença para a família – com direito a uma mensagem final com os dizeres “AIDS ainda não acabou”.

Vale destacar também os bons desempenhos de Natália do Vale, Sophie Charlotte, Izak Dahora (conhecido pelo Saci do Sítio do Pica-Pau Amarelo e intérprete do médico Domingos) e Felipe Simas. Todos brilharam junto à arrebatadora atuação da garota.

Dalavia é uma novata promissora. Sua primeira aparição se deu na fraca Em Família (2014), onde viveu a Helena no primeiro capítulo (personagem herdada por Bruna Marquezine e Júlia Lemmertz). Logo depois, em Boogie Oogie (2014-15), interpretou a jovem Alessandra.

Também participou da primeira fase de Velho Chico (2016), como a mocinha Tereza (mais tarde defendida por Camila Pitanga). Mas seu grande momento viria na ótima série Justiça (2016), onde interpretou Mayara, filha de Fátima (Adriana Esteves), que se prostitui no bordel de Kellen (Leandra Leal) e adota o nome Suzy para vingar a injustiça feita com a mãe.

E as cenas desta segunda reafirmaram o que a atriz já havia começado a mostrar nos papeis anteriores. Sua competência cênica impressiona para uma jovem intérprete e o roteiro desta vez favoreceu que Julia Dalavia e seus pares brilhassem nestas sequências devastadoras.

A descoberta de Nanda portadora da AIDS, em uma época onde a doença fazia muitas vítimas e o acesso ao tratamento era difícil, rendeu os mais emocionantes momentos de Os Dias Eram Assim, proporcionando as melhores cenas da carreira de Dalavia. Fica a torcida para que ela tenha a mesma valorização em seu próximo trabalho: O Outro Lado do Paraíso, de Walcyr Carrasco, próxima novela das 21h.


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