2017 se aproxima do final e com ele vêm as retrospectivas e escolhas dos nomes que mais se destacaram durante o ano. Na teledramaturgia não é diferente. Tanto que acaba de ser anunciada mais uma edição do Melhores do Ano, do Domingão do Faustão. Conhecida e ironizada como “festa da firma”, por ser um evento assumidamente global, a premiação já vem anunciando os seus indicados para a votação popular. Neste ano, no entanto, percebe-se um incômodo? -? e descabido – privilégio à novela A Força do Querer, de Glória Perez.

Graças ao excelente conjunto de trama coesa, personagens ricos, ritmo ágil, elenco de primeira, texto afiado e direção impactante, a trama das nove fez um estrondoso e merecido sucesso, elevando o ibope do horário a níveis que não se viam desde Avenida Brasil (2012), último grande sucesso daquela faixa.

Com tamanho êxito, seria natural que o enredo de Glória tivesse a maioria das indicações para a premiação de Fausto Silva. Só que as categorias já anunciadas mostram que há um visível excesso neste ponto, em detrimento de outras novelas produzidas no ano que também tiveram nomes de destaque.

Um grande exemplo é Novo Mundo. A elogiada novela das seis de Alessandro Marson e Thereza Falcão, exibida simultaneamente, agradou pelo seu misto de romance, aventura e história do Brasil e destacou a entrega de intérpretes como Letícia Colin (impecável como Leopoldina), Caio Castro (em grande momento como Dom Pedro), Vivianne Pasmanter e Ingrid Guimarães (as hilárias Germana e Elvira), Guilherme Piva (o divertido Licurgo) e boas revelações como Isabella Dragão (a idealista Cecília) e Roberto Cordovani (o cruel Sebastião). Porém, nenhum deles teve ao menos uma indicação. A trama das seis, ao menos por enquanto (pois ainda há categorias a serem anunciadas), foi totalmente esquecida. Algo imperdoável.

Rock Story, no horário das sete, também tinha nomes que mereciam ser lembrados, casos de Vladimir Brichta (o roqueiro Gui Santiago), Alinne Moraes (a complexa Diana), Ana Beatriz Nogueira (a impagável Dona Neia) e Danilo Mesquita (o jovem Nicolau). Ao menos a história de Maria Helena Nascimento foi representada pela indicação de João Vicente Castro, ótimo na pele do inescrupuloso Lázaro.

Em compensação, A Força do Querer domina categorias inteiras, como Personagem do Ano e Atriz Coadjuvante. O fato de a premiação só proporcionar três indicações já torna a situação ainda mais difícil, mas as escolhas se mostram ainda mais ilógicas. Para a primeira categoria, foram escolhidos Abel (Tonico Pereira); Eurico (Humberto Martins) e Silvana (Lilia Cabral). Todos foram excelentes, mas deixar de fora tipos de outras novelas, como as já citadas Germana, Elvira e Dona Neia, é algo lamentável.

O mesmo ocorre em Atriz Coadjuvante: Débora Falabella e Zezé Polessa foram indicadas. As duas estiveram muito bem como Irene e Edinalva, mas outros nomes mereciam muito mais, como Vivianne, Ingrid, Ana Beatriz e até mesmo Maria Fernanda Cândido, da própria “Força”.

Em categorias que não foram anunciadas ainda, mas cujos atores já divulgaram indicações pelas redes sociais, as injustiças continuam. Rodrigo Lombardi (o advogado Caio) divulgou recentemente que está na disputa pelo prêmio de Melhor Ator. Com respeito ao desempenho dele, mas sua boa atuação não chegou a ser excepcional a tal ponto. O mesmo vale para Drico Alves, que foi bem como Yuri, o cosplayer que se disfarça de Goku, que anunciou sua menção no prêmio de Melhor Ator ou Atriz Mirim.

As escolhas erradas não se resumem à trama de Glória Perez. Nas categorias Ator/Atriz de Série, há vagas preenchidas por atores de Os Dias Eram Assim, a “supersérie” das onze. A presença deles se justifica apenas pela nova (e impopular) nomenclatura das novelas das 23h, excluindo nomes de destaque em séries de fato, como Matheus Abreu, Cauã Reymond, Antônio Calloni e Eliane Giardini (todos de Dois Irmãos), Drica Moraes, Luísa Arraes e Fábio Assunção (os três ótimos em A Fórmula).

Aliás, Dois Irmãos sofre do mesmo problema que afetou Ligações Perigosas no ano passado, bem como Rock Story no começo do ano: as produções exibidas nos primeiros meses costumam ser esquecidas. Felizmente, há as merecidas nomeações de Júlio Andrade e Marjorie Estiano, impecáveis como os médicos Evandro e Carolina da grandiosa série Sob Pressão.

Outra obra primorosa que infelizmente também não foi lembrada é Malhação?-?Viva a Diferença. A impecável temporada de Cao Hamburger trouxe nomes promissores como Bruno Gadiol (Guto) e o quinteto principal formado por Daphne Bozaski, Manoela Aliperti, Gabriela Medvedovski, Ana Hikari e Heslaine Vieira. É imperdoável vê-los de fora, bem como Bárbara França, que veio da temporada anterior, a irregular Pro Dia Nascer Feliz.

Em compensação, a talentosa Vitória Strada foi indicada como Revelação por Tempo de Amar, atual novela das seis, que não tem nem dois meses de sua estreia. Outro erro foi a indicação de Karla Karenina, ótima como a empregada Dita da última novela das nove, mas que já está na televisão desde a clássica Escolinha do Professor Raimundo dos anos 90.

Deve-se frisar aqui que não há a intenção de diminuir o enredo de Glória Perez, que mereceu todos os elogios e teve muitos destaques que merecem ser premiados, como Juliana Paes (Bibi), Paolla Oliveira (Jeiza), João Bravo (Dedé), Emílio Dantas (Rubinho), Elizângela (Aurora), Jonathan Azevedo (Sabiá), Silvero Pereira (Nonato) e Carol Duarte (Ivana/Ivan). O que se contesta aqui é o exagero no número de vagas para atores desta novela em detrimento de outras produções. Um equilíbrio com outros nomes seria mais justo e não tornaria esta sensação de privilégio tão gritante.

O Melhores do Ano precisa ser repensado. As injustiças não são uma novidade e sempre estão presentes, porém, este ano, ficou evidente a excessiva valorização de A Força do Querer. A novela das nove foi a que mais repercutiu no ano e, por si só, já seria natural que chamasse mais atenção nas premiações. Porém, não foi a única boa obra exibida em 2017. Tramas de outras faixas, como Novo Mundo, Rock Story, Dois Irmãos e Os Dias Eram Assim (mesmo esta última não tendo boa repercussão) também têm nomes de destaque que poderiam ser lembrados.


Compartilhar.