Walter George Durst foi autor de muitos sucessos da teledramaturgia brasileira. Com passagens pelas TVs Tupi, Band, Globo, Manchete e SBT, o escritor deixou um grande legado para a televisão.

Tarcisio Filho
Tarcísio Filho em Chocolate com Pimenta (Divulgação / Globo)

O roteirista partiu em agosto de 1997, vítima de um câncer na medula. Seu último trabalho foi a adaptação de Os Ossos do Barão, original de Jorge Andrade, que terminava há 26 anos, em 30 de agosto de 1997, para o SBT. A trama foi estrelada por nomes como Ana Paula Arósio e Tarcísio Filho (na foto acima, em Chocolate com Pimenta).

O último pedido

Walter George Durst
Walter George Durst (Reprodução / Web)

Filho do ator, Marcelo Walter Durst revelou ao jornal Folha de São Paulo o último pedido de seu pai. Walter George havia solicitado que os médicos o deixassem vivo enquanto ele finalizava os textos do folhetim para a emissora de Silvio Santos.

“Ele nunca parou de escrever. Ainda quando escrevia ‘Os Ossos do Barão’, ele se sentia fraco, mas os exames não indicavam sintomas de câncer. Ele pediu, então, que os médicos fizessem com que vivesse até finalizar o trabalho”, contou.

O autor conseguiu entregar os capítulos. Durst morreu em 24 de agosto, com a produção ainda no ar – embora já toda gravada. O último dos 115 episódios de ‘Ossos’ foi ao ar em 8 de setembro.

Marcelo também relatou que o pai havia descoberto a doença em abril daquele mesmo ano. O escritor iniciou o tratamento imediatamente, mas como a medicação era muito pesada, ele passou a sofrer efeitos colaterais e o coração não resistiu.

Ao mestre, com carinho

Os Ossos do Barão
Rubens Caribé e Ana Paula Arósio em Os Ossos do Barão (Reprodução)

Antes do acerto com o SBT, Walter George Durst estava na Manchete, onde escreveu Tocaia Grande (1995), com base no livro homônimo de Jorge Amado.

Tanto esta, quanto Os Ossos do Barão tiveram a colaboração de Marcos Lazarini, Mário Teixeira e Duca Rachid. Na época, os três falaram sobre as contribuições do amigo para a TV brasileira.

“Com a ‘TV de Vanguarda’, que fez na TV Tupi nos anos 50, ele lançou as bases para a teledramaturgia”, defendeu Lazarini.

“Durst era um intelectual que vivia de contar histórias. Ele elaborava programas que enchiam a TV brasileira de realidade, mas com tratamento estético, muito diferente da exploração da realidade que é feita hoje na TV”, prosseguiu.

 

Projeto que não saiu do papel

Gabriela - Sonia Braga
Sonia Braga como Gabriela (Divulgação)

Marcos Lazarini também exaltou o fenômeno Gabriela (1975), outra adaptação de Amado – que impulsionou a carreira de Sonia Braga. Ainda, minisséries como Anarquistas, Graças a Deus (1984) e Grande Sertão: Veredas (1985, foto abaixo), que uniam entretenimento e crítica social, característica marcante da obra de Durst.

Lazarini hoje está na Globo, assim como Mário Teixeira, responsável por Mar do Sertão, e Duca Rachid, uma das autoras de Amor Perfeito. Ela também celebrou a parceria com Walter George:

“Ele foi um dos grandes nomes da TV brasileira. Além de profissional extraordinário, era uma pessoa extremamente generosa”.

Entre tantos elogios, um lamento. Marcos comentou que o mestre se despediu sem realizar o sonho de produzir e dirigir um longa-metragem chamado Um Certo Capitão Galdino, baseado em O Cangaceiro, de Lima Barreto.

História na TV

Grande Sertão Veredas
Grande Sertão Veredas

Walter George Durst iniciou a carreira na TV através da Tupi, escrevendo TV de Vanguarda, com adaptações de textos teatrais. Em seguida, assinou O Grande Júri que, segundo ele, possibilitava ao povo votar em um julgamento.

Nos anos 1960, Walter George passou pela Excelsior com o Teatro 63. Após o golpe militar, o autor passou a se dedicar apenas às versões de textos latinos, para não sofrer com a censura e possíveis represálias.

Em 1968, entrou para o time da Band, desenvolvendo atrações como Teatro Cacilda Becker, TV Verdade e Só Para Maiores. Um ano mais tarde, seguiu para a Cultura, produzindo Jovem Urgente.

A estadia na Globo incluiu, além de Gabriela e das minisséries citadas anteriormente, uma novela censurada pelo regime militar: Despedida de Casado (1977). Sem saída, ele precisou criar outra trama em tempo recorde, Nina (1977).

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor