Ator, diretor e dublador: Francisco Milani foi um dos grandes talentos do humor e da dramaturgia brasileira. Presença marcante na televisão, incluindo uma passagem marcante pela Escolinha do Professor Raimundo, comandada por Chico Anysio, ele teve que se ausentar das telas para fugir da ditadura militar.

Francisco Milani

Em seus últimos dias de vida, Milani lutou bravamente contra um câncer no reto com metástase em estado avançado. Francisco surpreendeu com os pedidos que fizera aos familiares e amigos quanto à despedida.

Cruzando o país para fugir da ditadura

Francisco Milani

Natural do Rio de Janeiro, Francisco Milani começou sua carreira aos 23 anos, atuando no humorístico TV de Vanguarda, exibido em 1959 pela extinta TV Tupi. Ele decidiu viver da atuação após ver um clássico do teatro.

“Eu nunca tinha ido a um teatro em minha vida. Os amigos tanto insistiram que eu fui assistir à peça ‘Eles não usam black-tie’. Foi um marco, um soco no estômago! Saí do espetáculo chorando, emocionado e decidi: ia ser mesmo um ator”, contou ao jornal O Globo, em 4 de outubro de 1981.

Naquela época, contudo, o Brasil começava a viver o momento mais crítico do Golpe Militar de 1964 – o governo caçou, torturou, matou e exilou inúmeras pessoas contrárias ao regime. Comunista assumido, Milani estava na lista de perseguidos e precisou fugir. Para sobreviver, ele trabalhou por alguns anos como motorista de caminhão, percorrendo todo o país.

O ator voltou à ativa em 1970, quando viveu Luiz, um promotor em Irmãos Coragem. Contratado da Globo, ele esteve outras novelas, como Selva de Pedra (1972), Cavalo de Aço (1973), Brilhante (1981), Barriga de Aluguel (1990), Vamp (1991) e Cara & Coroa (1995), entre outros trabalhos, como a minissérie Anos Rebeldes (1992), quando curiosamente viveu um agente da ditadura.

Uma estrela do humor

Francisco Milani

Foi no humor que Francisco Milani mostrou toda a sua versatilidade. Ao lado de Jô Soares, ele integrou o humorístico Viva o Gordo (1981). Além de atuar, Francisco também dirigiu o programa, que fez enorme sucesso na década em questão. Outro grande êxito nesse período foi o papel de Chefe, na série Armação Ilimitada (1985).

Com a saída de Jô Soares da Globo, Milani passou a trabalhar com outro grande humorista. A partir da temporada 1988, ele encarnou vários personagens em Chico Anysio Show. Na Escolinha do Professor Raimundo (1990), o ator e comediante interpretou Pedro Pedreira, um advogado que sempre rebatia as informações do professor. Para ele, Anysio era um verdadeiro mestre.

“O Chico é um gênio, independente da direção. Se ele tivesse nascido nos Estados Unidos, teria uma estátua no Time Square. Mas aqui… Ficou 30 anos no ar sendo considerado um mestre e, agora, só porque se afastou seis meses, já dizem que está ultrapassado”, lamentou em matéria de O Globo, em 5 de maio de 1996.

Na dublagem, ele também fez história, emprestando sua voz para diversos personagens – entre eles, Thomas Sullivan Magnum, da série Magnum, exibida pela Globo na década de 1980. Francisco Milani também foi narrador do Casseta & Planeta, Urgente! entre os anos de 1994 e 1997.

“Uma experiência traumática”

Cara & Coroa - Francisco Milani

Feliz em todas as áreas que atuou, Milani amargou um período difícil em 1988, quando foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro. Sua passagem pela política foi curta, já que ele não gosto de ver de perto com as coisas no meio funcionavam.

“Foi uma experiência traumática. Descobri que na política não há lugar para a ingenuidade e para as boas intenções. Voltei ao convívio dos meus colegas humoristas na televisão, aqui os palhaços são mais sérios”, brincou.

A despedida de Francisco Milani

A Grande Família - Francisco Milani

Em 1999, Francisco entrou para o elenco do Zorra Total com um personagem de muito sucesso: Seu Saraiva, um homem sem paciência que sempre falava “pergunta idiota, tolerância zero!”, caiu no gosto do público. Além disso, esteve presente em A Grande Família, a partir de 2003, vivendo o rabugento Tio Juvenal.

Participação especial, Juvenal tornou-se presença recorrente com a morte de Rogério Cardoso, intérprete do Seu Flor, vítima de um infarto fulminante.

Tempos depois, Francisco Milani descobriu que tinha um câncer retal metastático em estado avançado. No dia 13 de agosto de 2005, ele faleceu aos 68 anos.

Para o velório, ele havia solicitado três coisas: que a cerimônia fosse curta e que tocassem os hinos do Corinthians e da Internacional Socialista.

Sua ex-esposa, a atriz Joana Fomm, contou que Milani se lamentava por não ter podido fazer uma peça ao lado dela.

“Ele lutou bravamente contra a doença. E a última que me disse foi: o que eu lamento é não poder participar da peça com vocês”, revelou ela ao Jornal do Brasil, de 15 de agosto de 2005.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor