A primeira novela de Walcyr Carrasco no horário nobre fechava seu ciclo há exatamente sete anos, no dia 31 de janeiro de 2014, com um histórico beijo gay e um final emocionante. Foram 221 capítulos com muitas histórias, várias reviravoltas, cenas antológicas, polêmicas e situações nunca antes abordadas em folhetins, como o casal gay que virou protagonista.

Prevista inicialmente para ter 179 capítulos (mesmo número das antecessoras Salve Jorge e Avenida Brasil), a trama foi esticada pela emissora, devido ao bom resultado perante o público, e acabou terminando como uma das obras mais longas do horário dos últimos anos.

Amor à Vida, por ter ficado muito tempo no ar, apresentou ao telespectador uma grande quantidade de histórias fortes, com apelo dramático, e também com boas doses de humor. E, por não guardar conteúdo, o autor desenvolveu sua trama sem maiores enrolações. Entre os núcleos principais apresentados, todos se destacaram positivamente, assim como os atores envolvidos. Porém, não há como contestar que Félix e Valdirene (Tatá Werneck) foram os queridinhos do telespectador.

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Pontos positivos

O primeiro grande vilão homossexual da teledramaturgia foi brilhantemente interpretado por Mateus Solano, que ganhou vários prêmios devido ao seu grande trabalho. E o personagem proporcionou para o ator inúmeras possibilidades cênicas: após um início vilanesco, migrou do drama para a comédia, e depois ainda protagonizou um lindo romance com Niko (Thiago Fragoso). Porém, todas as fases mantiveram a essência do papel: o sarcasmo.

Já Valdirene, fez de Tatá Werneck uma paixão nacional e deu prestígio a uma atriz que era muito mais conhecida pelo público da internet e da finada MTV. A periguete que não conseguia ser sexy – nem sabia andar de salto alto e tentava ser famosa e rica – caiu no gosto popular e cresceu muito na trama.

Mas a novela teve um elenco estelar e praticamente todos os atores puderam brilhar. Paolla Oliveira fez de Paloma uma das melhores personagens da carreira, com direito a uma cena antológica – quando Paloma parte pra cima de Félix após saber o que o irmão fez com sua filha -, enquanto que Antônio Fagundes interpretou um ambíguo e machista César com maestria. Susana Vieira voltou aos bons tempos com sua Pilar e Thiago Fragoso foi crescendo até Niko virar ‘a mocinha’ da novela. Danielle Winits fez o país odiar sua Amarilys e, apesar de algumas caras e bocas, convenceu. Já Vanessa Giácomo aproveitou a chance dada pelo autor quando Aline virou a grande vilã da história, após a regeneração de Félix. Bruna Linzmeyer impressionou com sua atuação e emocionou em todas as cenas de Linda, uma autista que saiu da clausura graças ao amor de Rafael (Rainer Cadete).

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Pontos negativos

O núcleo de Nicole (Marina Ruy Barbosa) foi um dos pontos negativos da novela. A polêmica envolvendo os cabelos de Marina Ruy Barbosa prejudicou a trama e o autor acabou matando a garota, que estava sendo muito bem interpretada pela atriz. Com isso, a trama se perdeu e a personagem virou um fantasma que aparecia para Thales (Ricardo Tozzi). E infelizmente, Daniel Rocha (Rogério) acabou sendo prejudicado, já que seu personagem perdeu a importância que tinha. Ainda assim, Walcyr conseguiu movimentar a história com a entrada de Natasha (Sophia Abrahão), irmã de Nicole e filha de Lídia (Ângela Rebello). Entretanto, o desfecho escolhido por ele decepcionou, já que Thales não merecia terminar se casando com a irmã da menina que ele tentou dar um golpe com a ajuda de Leila.

Outro equívoco da novela foi o casal Michel (fraco Caio Castro) e Patrícia (ótima Maria Casadevall). A única função da dupla na trama era transar e as brigas e reconciliações andavam em círculos. Apesar dos atores terem tido química, o par cansou rapidamente.

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Finalmente o beijo gay

Porém, Amor à Vida apresentou muito mais qualidades que defeitos. E o final foi antológico. As duas últimas sequências engrandeceram o fim da trama e foram o ponto alto. O ex-vilão e Niko recomeçaram a vida de frente para o mar, em uma casa linda, e cuidando de César. Nada mais irônico do que um homofóbico machista terminar seus dias precisando ser cuidado por dois homossexuais, sendo um deles seu filho. Jonathan ainda apareceu para visitar seu pai, que estava plenamente feliz ao lado de seu Carneirinho, Jayminho e Fabrício. Era a imagem de uma família feliz. E para coroar a união do casal, Félix e Niko trocaram olhares, se declararam e deram um beijo que marcou a história da teledramaturgia e consagrou os atores.

Nove anos após o veto do beijo gay de América (de Glória Perez), a Globo decidiu exibir um gesto de amor entre dois homens sem qualquer artifício de disfarce – como uma peça teatral (Mulheres Apaixonadas) ou um desmaio (Queridos Amigos). Foi uma sequência memorável.

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Última cena emocionou

O mesmo pode ser dito sobre a última cena, quando Félix e César, sentados, dão as mãos diante do por do sol e selam a paz. O pai, emocionado, finalmente diz que ama seu filho, provocando o choro do rapaz, que esperou ouvir isso desde que era criança. Mateus Solano e Antônio Fagundes deram um verdadeiro show de atuação e encerraram a novela de uma forma linda e sensível. Um desfecho que não teve a palavra ‘fim’, afinal, se tratava de um recomeço. Para todos.

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Walcyr Carrasco fez uma grande estreia no horário nobre e ainda conseguiu quebrar um dos maiores tabus da teledramaturgia, que outros autores tentavam, sem sucesso, há anos. Amor à Vida caiu no gosto popular, tratou da homofobia de uma forma nunca antes vista, levantou o debate sobre o autismo, exibiu uma história envolvente e repleta de reviravoltas, e apresentou personagens que fizeram um baita sucesso.

A novela levantou o Ibope da Globo – que não conseguiu índices satisfatórios com nenhuma novela em 2013 – e terminou com 36 pontos de média geral, dois a mais que Salve Jorge. E, para encerrar esse vitorioso trabalho, o autor escreveu uma cena histórica e consagrou Mateus Solano, Thiago Fragoso e Antônio Fagundes. Nada mal para uma primeira empreitada na faixa mais cobiçada da grade da Rede Globo de Televisão.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor