Classificação indicativa, beijo técnico, Capitu e “odeio a Camila”: dez polêmicas de Laços de Família

07/09/2020 às 1h00

Por: Duh Secco
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Há 20 anos, a Globo exibia Laços de Família, um dos maiores sucessos da faixa das 20h de todos os tempos! E como todo grande êxito, o folhetim de Manoel Carlos se viu no centro de inúmeras polêmicas. O TV História lista agora dez “tretas” que rolaram nos bastidores deste novelão. Confira:

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– Uma disputa judicial envolveu o título da novela. A autora Solange Castro Neves, então na Record TV, entregou uma sinopse à direção da emissora, em junho de 1999, tendo ‘Laços de Família’ como sugestão de título. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial, no entanto, atestou que a Globo havia registrado o título antes desta data. A novela de Solange acabou indo ao ar como Marcas da Paixão.

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– A presença de Vera Fischer (Helena), afastada do horário das oito desde Pátria Minha (1994), serviu como chamariz de audiência. A atriz estava no auge da beleza, tendo posado recentemente para a Playboy, e da serenidade, após sucessivos escândalos envolvendo seu ex-marido, Felipe Camargo, e a dependência química. No início da novela, boatos maldosos davam conta de que os beijos de Helena e Edu, o então estreante Reynaldo Gianecchini, estavam extrapolando a ficção. A fofoca, que envolvia ainda a jornalista Marília Gabriela, então namorada de Gianecchini, surgiu após um selinho de Vera no ator durante a festa de lançamento de Laços de Família e cresceu com a química dos atores em cenas de alta voltagem sexual.

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– Paulo Zulu também serviu para atrair a atenção do público. O modelo vivia Romeu, um instrutor de esqui aquático apaixonado pela aluna, Cíntia (Helena Ranaldi). Tornou-se lenda a gravação em alto-mar na qual, acreditando que o microfone estava fechado, Zulu elogiou a boa forma física de Ranaldi. O microfone, porém, estava aberto e, em terra firme, Ricardo Waddington, diretor geral e então marido da atriz, ouviu o galanteio.

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– Num dos primeiros testes de elenco, Waddington achou que valia a pena inverter as personagens inicialmente pensadas para Giovanna Antonelli e Vanessa Mesquita. Por conta de seu ar maternal, Giovanna assumiu Capitu, a garota de programa que bancava seus pais e o filho pequeno, e Vanessa ficou com Simone, a prostituta arrivista.

Organizações moralistas e uma parcela do público questionavam a “glamourização” das garotas de programa, exposta, segundo estes, em frases nas quais Capitu e Simone comentavam o alto valor que recebiam de seus clientes e na forma como elas estavam inseridas em um ambiente familiar. De fato, Maneco ousou ao levar ao vídeo prostitutas distantes dos estereótipos comumente vistos na ficção, o que assustou os mais conservadores. A inspiração para as personagens veio de uma matéria do jornalista Gilberto Dimenstein sobre o alto número de universitárias envolvidas com prostituição.

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– A atriz mirim Carla Diaz, então no elenco de Chiquititas (1997), do SBT, recusou um salário de 20 mil reais para assinar com a Globo e participar de Laços de Família. Acabou ficando de fora do set por um bom tempo. Explica-se: a menina Larissa Honorato, que vivia Nina, filha de Clara (Regiane Alves) e Fred (Luigi Baricelli), foi substituída por Julia Magessi após sofrer um trauma psicológico, devido a gravação de uma cena de intensa discussão entre os seus pais da ficção. Por este motivo, e pelo fato de ‘Laços’ conter cenas de sexo e violência, o juiz Siro Darlan determinou a proibição de menores de 18 anos nas gravações e a alteração do horário da novela, que só poderia ser exibida, a partir de então, após às nove da noite.

A ação judicial citava ainda a eventual prisão do diretor Ricardo Waddington e do produtor Ruy Mattos, além de multas diárias de 70 mil reais, caso o estabelecido não fosse cumprido a partir do dia 28 de outubro de 2000. A única atriz menor de idade que seguiu na produção, graças a uma ação impetrada pelo pai, Manoel Carlos, foi Julia Almeida, que vivia Estela, irmã de Edu. Por fim, a TV Globo recorreu e, sob os critérios e determinações da justiça, os atores voltaram aos estúdios tempo depois. Por conta do veto à presença de menores de idade, porém, Lilian Mattos, que vivia Helena em cenas de flashback, foi substituída por Adressa Koetz.

– Laços de Família também enfrentou protestos do Departamento Nacional de Trânsito, após a cena em que Íris (Deborah Secco) dirige perigosamente pelas ruas do Rio de Janeiro. E o veto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) às gravações da novela em qualquer uma de suas paróquias. A atitude se deu por conta da dissonância dos preceitos do catolicismo com os “valores deturpados” vistos na novela – a noiva em questão, Camila (Carolina Dieckmann), grávida, subia ao altar com o ex (Edu) de sua mãe, Helena. Tais assuntos, polêmicos, renderam um encontro dos atores Vera Fischer e Tony Ramos com o então ministro da Justiça, José Gregori, e o presidente em exercício, Fernando Henrique Cardoso. A intenção era discutir a recém-criada e polêmica classificação indicativa, bem como a interferência da justiça em uma obra de ficção.

– Mesmo a grande campanha de Laços de Família – o incentivo à doação e medula óssea – sofreu críticas, em razão da “facilidade” com que Helena engravidou, aos 44 anos de idade, numa única noite de sexo e sem um tratamento de fertilidade. As chances de isso ocorrer na vida real, diziam estudos citados pela imprensa brasileira na época da novela, não iam além de 8%. Para desenvolver o roteiro, o autor contou com a assessoria do médico Jorge Damatta, do Centro de Medula Óssea do INCA, para chegar ao tipo de patologia enfrentando por Camila, a que necessitava de transplante a curto prazo e cuja solução ideal seria a doação de um irmão.

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Optou-se então pela leucemia mielóide aguda. De quando a doença passou a ser abordada na novela até o último capítulo, a média de cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea saltou de 20 para 900 por mês, um crescimento de 4.400%. O número de consultas sobre a doença no Ministério da Saúde passou de 67, antes do adoecimento de Camila, para 458 na penúltima semana de janeiro, a doze capítulos do término da novela. A abordagem do tema rendeu à Globo o mais importante prêmio de responsabilidade social do mundo, o BITC Awards for Excellence 2001, na categoria Global Leadership Award.

– Na web, muito antes das redes sociais, Laços de Família causou um fenômeno, visto anteriormente em Por Amor. Tal e qual Eduarda (Gabriela Duarte), da novela de 1997, Camila ganhou um site: “euodeioacamila.cjb.net” listava cinco motivos para detestarmos a menina: dissimulada, infantil e chorona, vivia com cara de tédio, traiu a confiança da mãe e achava Íris intrometida. O site chegou a receber visitas de telespectadores da Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos e Japão.

– O cantor João Gilberto acionou um advogado especializado em direito autoral para estudar a possibilidade de processar a Som Livre, por não ter sido consultado sobre a inclusão de sua versão de ‘Corcovado’, feito pelo selo Verve, na abertura da novela. A Som Livre, porém, já havia se entendido com a Universal, gravadora do cantor e dona do selo em questão.

A trilha de Laços de Família vendeu feito água! O repertório internacional conquistou o primeiro lugar na lista de discos mais vendidos de 2000. Uma das canções que mais bombaram neste ano chegou a tocar em cenas da novela, mas não foi incluída em seus CDs: ‘Amor I Love You’, de Marisa Monte, embalou o momento em que Cíntia pensava na noite de amor que tivera com Pedro (José Mayer).

– Em 2004, o Superior Tribunal de Justiça barrou a reprise de Laços de Família. A TV Globo utilizou-se, entretanto, de uma classificação indicativa, selo “livre”, conquistada em 2003, diante da promessa de exibir um “novo produto”, sem cenas de sexo e violência. A edição, porém, deixou escapar duas cenas “pesadas”: Danilo (Alexandre Borges) e Ritinha (Juliana Paes) aos amassos na piscina e Camila e Edu, nus, na noite de núpcias. A audiência da trama, em Vale a Pena Ver de Novo, foi considerada fraca, de início, embora tenha ocorrido elevação dos números da reprise anterior, Deus Nos Acuda (1992). Os índices subiram quando Camila adoeceu, tal e qual acontecera na exibição original da trama.

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