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É importante começar o texto enfatizando que Além da Ilusão segue com boas qualidades e recentemente apresentou uma sucessão de cenas lindas referentes ao arco dramático de Heloísa (Paloma Duarte). Era a catarse mais esperada pelo público e honrou a expectativa. O conjunto da obra continua com saldo positivo. Todavia, a trama central se perdeu há meses e só vem piorando a cada capítulo.
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Alessandra Poggi começou sua história de forma criativa. Era muito divertido acompanhar a estupidez dos vilões e a esperteza dos mocinhos. Todos os planos de Joaquim (Danilo Mesquita) e Úrsula (Bárbara Paz) davam errado, enquanto Davi/Rafael (Rafael Vitti) e Dorinha (Larissa Manoela) sempre conseguiam se desvencilhar das maldades. Era uma ‘novidade’ muito bem-vinda até porque na maioria das novelas os malvados costumam esbanjar inteligência e os ‘heróis’ se mostram uns idiotas.
Mas, para manter uma aparente agilidade na narrativa, a autora começou a se perder quando alterou a personalidade de Dorinha. Antes feminista e à frente do seu tempo, a mocinha virou uma chorona que tem medo do julgamento da sociedade de 1945.
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Falta de lógica
Não teve lógica a personagem aceitar se casar com Joaquim depois que toda a cidade descobriu que perdeu a virgindade com Rafael. Ela jamais se submeteria a isso. O pior que é o escândalo só aconteceu porque a mesma Isadora largou Rafael em pleno altar assim que Iolanda (Duda Brack) apareceu na igreja dizendo que tinha transado com o rapaz.
A transa só aconteceu quando o mocinho estava separado de Dorinha. No mesmo período, a mocinha beijou Nelsinho (Johnny Massaro) em plena praça. Por qual motivo ela se abalaria tanto? Ah, ele mentiu. Ok, mas se isso a abalou tanto imagina quando descobrir todo o resto…
E as situações apresentadas não disfarçaram a barriga (período onde nada de relevante acontece) do enredo central. A falsa agilidade apenas fragilizou a narrativa com acontecimentos que andavam em círculos. Outro fato que cansou foi o flagra de Dorinha em Rafael sendo beijado ‘à força’ por Iolanda. Foram tantas vezes que era previsível o que aconteceria posteriormente: ele diria que não era nada daquilo, ela não acreditaria e faria ciúmes agarrando Joaquim.
Aliás, uma feminista como Dorinha se vingaria de Iolanda fazendo a rival ficar apenas com peças íntimas durante uma apresentação teatral? Não, mas a personagem fez isso. Algo gratuito e forçado.
Egoísmo
Para culminar, o conjunto ficou ainda pior semana passada. Rafael descobriu que Joaquim desvia dinheiro da tecelagem e usa Fátima (Patricia Pinho) como laranja. Fez questão de reunir todas as provas contra o rival.
A lógica seria contar tudo para Eugênio (Marcello Novaes) e Violeta (Malu Galli), o que implicaria no rompimento imediato do noivado do vilão com a mocinha e ainda o botaria na cadeia. Também teria um bônus: Eugênio saberia que Úrsula é cúmplice do filho e romperia o então ‘casamento’ com a vilã. Mas aí acabaria com metade dos ‘plots’ da novela.
Então qual foi a solução? Poggi colocou Davi para chantagear Joaquim e obrigá-lo a terminar com Isadora. A ideia foi a pior possível. Se já estava difícil para comprar tudo o que estava acontecendo, agora ficou impossível.
Davi ter medo de envolver a polícia e parar na cadeia é compreensível, mas não existe justificativa para o personagem não contar para os donos da fábrica, que sempre o adoraram. A atitude da autora apenas reforçou a falta de caráter de seu protagonista, ainda que ela o defenda o tempo todo. O que foi mostrado ao público é que Davi não liga para ninguém a não ser ele mesmo e sua obsessão doentia por Isadora.
Mas ainda não acabou. O verdadeiro Rafael Antunes (Fabricio Belsoff) acordou do coma e foi atrás de seu emprego na tecelagem. E quem o recebeu? Joaquim, claro. O vilão descobriu a identidade falsa do mocinho e agora revidou a chantagem.
Conflitos forçados
O pior é que a novela poderia ter sido desenvolvida sem nenhum dos conflitos forçados. Para que colocar Davi descobrindo sobre Joaquim se tudo voltaria à estaca zero quatro capítulos depois? Criar uma agilidade que na prática ficou inexistente? Não havia necessidade.
A produção das 18h é gostosa de assistir, tem vários personagens carismáticos e deliciosos núcleos paralelos. Tudo o que vem acontecendo na vida de Heloísa era o bastante para prender o telespectador enquanto a trama central não anda. O folhetim não ficaria lento por causa disso.
Além da Ilusão continua agradável e com muitos acertos, mas é inegável que o núcleo central perdeu o rumo, a lógica e o fôlego. Uma pena.