Exibida entre 8 de setembro de 2003 e 7 de maio de 2004, Chocolate com Pimenta foi um dos grandes sucessos de Walcyr Carrasco no horário das seis. A novela obteve tanto êxito quanto O Cravo e a Rosa e Alma Gêmea, outras duas produções do autor que foram estrondosos sucessos às 18 horas. A trama, que tinha uma fábrica de chocolates como foco principal, conquistou o público e já foi reprisada duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo, em 2006 e 2012. Recentemente, foi exibida pelo canal Viva, no ano passado. O resultado? Outro sucesso.

Walcyr escreveu uma deliciosa comédia romântica que se passava em 1920, onde a protagonista era uma mocinha humilde, ingênua e desengonçada, que vai morar na cidade de Ventura com uma parte da família que não conhece, após perder o pai assassinado por grileiros no sul do país. Família essa composta por caipiras que moram em uma fazenda. Não demora muito para a mocinha se sentir acolhida. Entretanto, seu estilo brejeiro provoca repulsa nos moradores preconceituosos do lugar.

Interpretada lindamente por Mariana Ximenes, Ana Francisca, mesmo com seu jeito nada feminino e visual risível, despertou atenção do galanteador Danilo (Murilo Benício), sobrinho do prefeito (Vivaldo – Fúlvio Stefanini), o homem mais cobiçado da cidade, alvo de várias meninas do colégio onde estudava. A aproximação, que resulta no início de um namoro, desperta a inveja de Olga (Priscila Fantin), que se alia a tia do rapaz (Bárbara – Lilia Cabral) para destruir o romance.

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A trama principal é iniciada quando Ana é humilhada durante a festa de formatura de sua turma. A menina leva um banho de tinta verde na frente de todos os moradores da cidade, que caem na gargalhada – situação inspirada no clássico filme “Carrie – A Estranha” (1976). Já grávida de Danilo e achando que participou da armação, a protagonista só pode contar com Ludovico (Ary Fontoura), dono da fábrica de chocolates ‘Bombom’, seu amigo que inicialmente fingiu que era um simples faxineiro. Após revelar que é milionário, o empresário a leva para Buenos Aires, se casa para dar um nome a ela e ao bebê, e lhe dá aulas de etiqueta.

Ana Francisca volta à cidade rica e bem-sucedida, sete anos depois, com o intuito de se vingar de todos que a humilharam no passado. Um enredo que sempre funciona na teledramaturgia. A partir de então, a novela se desenrola, destacando todos os núcleos com maestria, repletos de personagens carismáticos e típicos de uma boa trama de época. Como havia uma grande quantidade de vilões (todos voltados para um tom farsesco irresistível), que se aliavam contra a mocinha, mas brigavam entre si o tempo todo, a novela mantinha bom ótimo ritmo e com chance para todos se destacarem.

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Entre os personagens mais marcantes estão a inesquecível Jezebel, vivida magistralmente por Elizabeth Savalla, que fazia uma ótima parceria com Ary França, o mordomo Epaminondas. A atriz também se destacava ao lado de Fúlvio Stefanini, um prefeito galinha e corrupto que só pensava em traição, e Rosane Gofman, que interpretou a hilária Roseli, secretária da fábrica de chocolates, cujo bordão era “eu sou muito eficiente”.

O núcleo da roça foi outro acerto. Era um prazer assistir as cenas de Laura Cardoso (Carmem), Carla Daniel (Dália), Osmar Prado (Margarido), Marcello Novaes (Timóteo) e Drica Moraes (Márcia). Uma família de caipiras carismáticos e inocentes. Marcello e Drica formaram um ótimo par romântico e a manicure ambiciosa foi um dos muitos pontos altos do folhetim, assim como seu bordão: “eu sou chique, bem”.

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Mariana Ximenes e Murilo Benício honraram o posto de protagonistas e transbordaram química nas cenas românticas do casal, que encantou o telespectador, cuja música “Over the Rainbow” virou a marca do par. Vale citar também que a trama foi a última do grande Cláudio Corrêa e Castro – ele veio a falecer em abril de 2005, que interpretou com maestria o sovina banqueiro Conde Klaus.

Além dos ótimos personagens e dos grandes atores já mencionados, é preciso lembrar e elogiar também Lília Cabral; que fez uma vilã impecável, Rosamaria Murtinho (a doce Margot), Priscila Fantin (Olga), Ângelo Paes Leme (o atrapalhado Soldado Peixoto), Ernani Moraes (delegado Terêncio), Denise Del Vechio (a solícita Dona Mocinha), Antônio Grassi (o jogador compulsivo Reginaldo), Nivea Stelmann (a invejosa Graça), Samara Felippo (a sofrida Celina), Rodrigo Faro (o honesto Guilherme), Tarcísio Filho (o canalha Sebastian) e Kayky Britto, que convenceu ao interpretar Bernardete, o menino que era vestido como menina.

Na exibição original, o último capítulo marcou 46 pontos de média, com 68% de share. Na época, cada ponto correspondia a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo. A trama bateu a audiência de suas três antecessoras (Agora é que são Elas, Coração de Estudante e Sabor da Paixão) desde o primeiro capítulo, na média, e ainda se tornou o segundo melhor Ibope da emissora nessa faixa nos anos 2000.

Chocolate com Pimenta foi uma excelente novela e repleta de atrativos. Um dos maiores sucessos de Walcyr Carrasco, dirigido pelo saudoso Jorge Fernando. A trama das seis mereceu a elevada audiência que conseguiu na época, refletindo a qualidade da produção, que ainda é lembrada por muitos noveleiros. Uma produção que deixou saudades e deu água na boca.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor