Em 1996, um crime mexeu com o Brasil: Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha do presidente Fernando Collor de Mello, foi assassinado em sua casa, em Maceió (AL), ao lado de sua namorada, Suzana Marcolino.

Após a confirmação do assassinato, uma pergunta surgiu em todo o país: quem matou PC Farias? O caso teve uma cobertura ampla da mídia, muitas teorias foram colocadas na mesa e até um Você Decide sobre o crime foi realizado.

Muitos falavam em queima de arquivo, já que PC sabia muita coisa, mas o perito Badan Palhares afirmou que foi um crime passional: Suzana matou Farias e, logo após, cometeu suicídio.

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A mídia explorou ao máximo o crime: a imagem do casal morto na cama correu o país e a Folha de S.Paulo estampou em sua capa uma foto do corpo de PC no IML.

Mas um jornalista teve a ousadia de mostrar imagens chocantes em rede nacional: o saudoso Goulart de Andrade declarou que iria exibir cenas da autópsia de Paulo Cesar Farias.

Goulart estava na Rede Manchete e levou seu estilo único de fazer jornalismo para a emissora de Adolpho Bloch. O jornalista já conhecia Badan, que foi o perito na investigação do assassinato do seringueiro Chico Mendes, e cedeu-lhe as fotos da exumação do corpo, que foram exibidas em rede nacional.

As imagens da autopsia do ex-tesoureiro de Collor chegou às mãos do jornalista, que anunciou ao longo da semana que mostraria a fita, sem cortes, em seu programa.

No dia 11 de agosto de 1996, foram exibidas, sem censura alguma, cenas de uma autopsia para todo o país, e a Manchete ainda estampou na tela sua logo, mostrando que aquilo era exclusividade da emissora.

Não é necessário descrever o que foi exibido naquele dia, mas quem assistiu garante que foram cenas chocantes, nauseantes e de uma falta de respeito com os familiares da vítima.

Após a exibição das imagens, Goulart anunciou que iria vender uma fita do caso PC e as imagens da autopsia por R$ 29,90. O apresentador foi pressionado por entidades que defendem a ética na medicina e recuou. E tudo isso não ajudou a aumentar a audiência do programa: a atração marcou apenas um ponto no Ibope em São Paulo.

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Em 2013, Goulart de Andrade deu uma entrevista para o portal Terra e afirmou que não tinha arrependimento algum de ter exibido aquelas imagens.

“Eu fui lá mostrar como era uma necrópsia. Sabe como é necrópsia? “Já ouvi falar”. Já viu uma? “Não”. Então vai ver agora porque eu vou te mostrar. Eu saio com a consciência de que eu estou fazendo eticamente aquela coisa. Eu posso não estar coincidindo com a interpretação e o olhar de outras pessoas”, afirmou ao repórter Osmar Portilho.

Goulart foi um repórter excepcional, soube como ninguém contar uma história e mostrar que o horário da madrugada é rentável e tem público. Mas esse fato marcou sua carreira, mostrando que o bom senso é essencial no jornalismo.

Colaborou Gabriel Sarturi

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor