Dyego Terra

Walcyr Carrasco é um dos poucos autores de novelas em atividade na Globo que sabe atender o espectador. Ele não pensa duas vezes antes de revirar suas tramas para agradar ao público, mesmo que isso signifique desagradar a crítica.

Terra e Paixão - Rainer Cadete e Tatá Werneck
Rainer Cadete (Luigi) e Tatá Werneck (Anely) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Em Terra e Paixão, o dramaturgo já percebeu que diversos personagens ainda não disseram a que veio. A própria protagonista Aline (Barbara Reis) não é unanimidade na imprensa e na internet.

Para entregar o que o espectador parece se interessar e, claro, arrematar mais alguns pontinhos no Ibope, Walcyr resolveu investir em dois personagens que vêm roubando a cena: Luigi, de Rainer Cadete, e Anely, de Tatá Werneck.

Queridos pelos internautas, os dois passaram a dar expediente em todos os núcleos e estão aparecendo, digamos, em excesso. Ontem (8), eles trocaram o primeiro beijo.

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Amados por um e odiados por outros

Rainer Cadete em Terra e Paixão
Rainer Cadete como Luigi em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Nem todo mundo, porém, vê com bons olhos essas aparições em quase todas as cenas. Há quem critique o investimento do novelista no trambiqueiro que se finge de italiano para aplicar golpes em uma das herdeiras dos La Selva, Petra (Debora Ozório).

Há também quem reclame da atuação do ator, da falta de originalidade do personagem ou do fio condutor que garante tamanha importância dentro do enredo.

Contudo, quem assiste a novela todos os dias – ou seja, quem faz ser sucesso de audiência e repercussão – aprova o personagem.

Assim, mesmo irritando críticos e figuras ativas nas redes sociais, o golpista segue em evidência dentro do folhetim, ao contrário de vários outros personagens que, até hoje, não emplacaram.

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Punto e basta

Terra e Paixão - Debora Ozório, Rainer Cadete e Tony Ramos
Rainer Cadete (Luigi), Debora Ozório (Petra) e Tony Ramos (Antônio) em Terra e Paixão (João Miguel Júnior / Globo)

É importante frisar que Terra e Paixão nunca pretendeu ser uma produção inovadora, pelo contrário. Carrasco, com o objetivo de recuperar os números perdidos com Travessia, se comprometeu a fazer o “arroz e feijão” de sempre.

Logo, há espaço para Luigi ontem, hoje e amanhã dentro da narrativa. Ele é o típico “pícaro”, figura presente na literatura espanhola: não é exatamente tão puro e inocente como um mocinho, tanto que investe em atitudes controversas, sempre com comicidade, o que atrai o público. O falso europeu da novela das nove já se tornou o “malvado favorito” de meio mundo.

A insistência no personagem fala mais da dificuldade do escritor em tornar outras figuras do folhetim tão atrativas do que dos excessos em torno de Luigi.

O triângulo amoroso principal, com Aline, Caio (Cauã Reymond) e Daniel (Johnny Massaro), nunca convenceu. Antônio (Tony Ramos) e Irene (Gloria Pires), os principais vilões, pouco evoluíram até aqui.

Ainda, o esquecimento de Odilon (Jonathan Azevedo), par de Anely que foi deixado de lado, perdendo espaço para o “italiano” mais amado do Brasil no momento.

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E agora, Walcyr?

Walcyr Carrasco
Walcyr Carrasco no Conversa com Bial (Reprodução / Globo)

Com a virada que Terra e Paixão experimentou no capítulo exibido na última quinta-feira (6), Luigi corre o risco de perder espaço. Ele segue envolvido com o vício em remédios de Petra enquanto almeja a sucessão de Antônio. Já o foco dos próximos capítulos, ao que tudo indica, deve ficar na vingança de Irene contra Aline e Caio.

Walcyr Carrasco, certamente, não irá abrir mão de um de seus trunfos. É quase certo que Luigi seguirá tendo destaque, ainda que o autor não demonstre, no momento, para onde irá levá-lo.

Contudo, é necessário ponderar. Mocinhos, vilões e outros núcleos importantes acabarão esgotados e sem possibilidades. Luigi é ótimo, mas a novela das nove pede equilíbrio.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor