O que deu certo e o que deu errado em Pega Pega, que está de volta na Globo

No dia 6 de junho de 2017, Pega Pega iniciativa sua trajetória na faixa das sete da Globo, substituindo Rock Story. A trama volta nesta segunda (19), em edição especial, no lugar da inédita Salve-se Quem Puder, preparando terreno para Quando Mais Vida Melhor.

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No final da exibição original, em 8 de janeiro de 2018, o último capítulo da novela fez jus à máxima “depois do roubo é que começa a roubada”, slogan de ar punitivo que norteou a campanha de lançamento da novela, numa investida da Globo de desassociar a trama policial “de mentirinha”, ambientada no Rio de Janeiro, do enredo “de verdade” que se desenrolava em Brasília.

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Malagueta (Marcelo Serrado), Júlio (Thiago Martins), Sandra Helena (Nanda Costa) e Agnaldo (João Baldasserini) expurgaram na prisão a responsabilidade pelo roubo de 40 milhões de dólares, quantia entregue pelo empresário Eric Ribeiro (Mateus Solano) ao bon-vivant Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso) pela posse do hotel Carioca Palace.

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Também condenados foram Sabine (Irene Ravache), Lígia (Ângela Vieira) e Athaíde (Reginaldo Faria). Numa sacada genial da autora, Cláudia Souto, este último repetiu o gesto de Marco Aurélio, criminoso de colarinho branco da clássica Vale Tudo (1988), também interpretado por Reginaldo: deu uma banana ao Brasil antes de fugir para o exterior. Marco Aurélio, porém, acabou impune.

Talvez tenha sido justamente por fugir da realidade que Pega Pega alcançou tanto sucesso – a média do folhetim foi a maior desde a icônica Cheias de Charme (2012). O público embarcou na fantasia proposta pela autora.

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Contudo, Cláudia Souto, de texto rápido e eficaz, acabou tropeçando no enredo. Evidente que o ponto de partida se esgotaria em semanas. Ainda assim, Cláudia conseguiu converter as prisões dos quatros ladrões em pontos de virada que salvaram o roteiro da morosidade. Outros mistérios surgiram com o desenrolar dos capítulos: outrora promissores, passaram a incomodar tamanha embromação. Caso da identidade do responsável pela morte de Mirella (Marina Rigueira) e da adoção de Dom (David Júnior) por Sabine.

A narrativa também acabou prejudicada pela apatia do casal protagonista, Eric e Luiza (Camila Queiróz). O desajuste se deu logo no primeiro capítulo: como tornar crível a relação de uma patricinha com o pai de família que a leva para a ópera enquanto a filha está desaparecida? Ou que marca um jantar após sair do necrotério onde foi reconhecer o corpo de sua herdeira?

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Aliás, tudo o que diz respeito a Bebeth (Valentina Herszage) – da insossa canguru Flor, que a acompanhava no início, ao dilema de ter sido gerada por Maria Pia (Mariana Santos) – passou longe de arrebatar o telespectador; digno de nota, apenas, o período em que ela almeja perder a virgindade como o namorado, Márcio (Jaffar Bambirra).

Com um núcleo central troncho, sobrou espaço para os coadjuvantes ganharem a cena. Diferente de Eric e Luiza, o casal Agnaldo e Sandra Helena se revelou acertado desde a primeira cena.

O mesmo se pode dizer da química de Malagueta e Maria Pia – que grande atriz é Mariana Santos. Também oriundos do Zorra, Rodrigo Fagundes (Nelito) e Marcos Veras (Domênico); este, enfim em um personagem sem o “ranço” dos quadros insossos que protagonizava no humorístico.

Falar de Elizabeth Savala (Arlete), Nicette Bruno (Elza) e Cristina Pereira (Prazeres) é “chover no molhado”. Fabulosas! Ainda, Bruna Spínola e Jeniffer Nascimento, as camareiras Cíntia, de boa índole, e Tânia, de caráter questionável.

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Convém salientar o destaque dado a atores negros – Milton Gonçalves (Cristóvão), Virgínia Rosa (Madalena), Ícaro Silva (Dílson) e Edvana Carvalho (Dulcina). E aos homossexuais, do bem resolvido Douglas (Guilherme Weber, excelente!), da drag queen Rúbia (Gabriel Sanches) e do “fora do meio” Siqueira (Marcelo Escorel), o delegado vaidoso, tão comum nos tempos de hoje.

Cabe ainda ressaltar o bom desempenho de Vanessa Giácomo como a policial Antônia; é pena que seu parceiro de cena, Thiago Martins, não tenha correspondido a contento. O veterano Marcos Caruso, talvez extenuado pelos sucessivos trabalhos, também não foi capaz de distanciar Pedrinho de personagens anteriores, como Feliciano, de A Regra do Jogo (2015).

De sucesso incontestável – nos números e nas redes sociais – Pega Pega chegou ao fim sem deixar saudade, ao menos para mim. Foi um passatempo, apenas. Como uma companhia agradável na hora do jantar que, em dado momento, deixa o assunto esgotar. E que, quando não está ali, também não faz falta. O grande propósito, talvez, fosse este mesmo.

A realidade tão dura favorece a ficção que opta pela leveza, pelo lúdico, pelo óbvio. Não é demérito seguir esta linha, especialmente para autores estreantes, mais cobrados do que os tarimbados. Nesta primeira empreitada, Cláudia Souto saiu-se bem dentro do que propôs. Resta corrigir os erros de agora no próximo trabalho, Cara & Coragem.

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