O que deu certo e o que deu errado até agora em Verdades Secretas 2
07/12/2021 às 17h45
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Indecente. Imoral. Viciante. Obscena. Violenta. Vingativa. A Globo não poupou adjetivos para a campanha de Verdades Secretas 2, a primeira novela exclusiva do Globoplay, a plataforma de streaming da emissora.
Reprisada atualmente, Verdades Secretas foi um fenômeno da faixa das onze, em 2015, e entrou para a lista dos muitos sucessos de Walcyr Carrasco, ainda se consagrando vencedora do Emmy Internacional.
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No entanto, a continuação vem dividindo opiniões. Com 40 capítulos já disponibilizados, já é possível fazer um balanço do que deu certo e o que não funcionou na trama (há spoilers).
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O plano de marketing foi muito bem elaborado. A divulgação é constante, tanto nas chamadas da Globo, quanto nas redes sociais. Sempre fazendo questão de focar nas cenas de sexo intensas que a trama tem (os estoques de tapa-sexo se esgotaram nas gravações).
Recorde de visualizações
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Claro que a intenção é provocar um burburinho pela elevada temperatura de várias sequências. A prova é a intenção de deixar um gostinho de quero mais no público por conta da forma como os capítulos são liberados. A novela tem 50 capítulos e 10 são colocados no Globoplay a cada 15 dias, apenas para assinantes. Os 10 últimos irão ao ar no dia 15 de dezembro.
O primeiro capítulo foi disponibilizado em uma live, no dia 20 de outubro, aberta para não-assinantes. Uma ótima estratégia para alcançar um novo público. E deu certo. A produção já é a mais assistida da história do Globoplay, com mais de 26 milhões de horas consumidas no serviço de streaming.
O terceiro lote de capítulos rendeu 3,4 milhões de horas, um resultado ainda maior que o segundo lote. Ou seja, o autor emplaca mais um grande sucesso em sua carreira.
Mas Verdades Secretas 2 não vem repetindo o êxito da primeira no quesito qualidade. Há equívocos que precisam ser mencionados, ainda que acertos também sejam visíveis na continuação.
Trama de Angel é cansativa
A parte mais cansativa da nova história é justamente o enredo de Angel (Camila Queiroz, que protagonizou uma polêmica recentemente quando acabou desligada da Globo em uma não renovação de contrato repleta de acusações de ambas as partes).
Tudo que cerca a investigação do assassinato de Alex (Rodrigo Lombardi) beira o ridículo. Seria bem mais crível se o novo enredo não tivesse uma passagem de tempo de mais de cinco anos.
Por que Giovana (Agatha Moreira) demorou tanto tempo para iniciar uma investigação e reivindicar sua herança? Por mais que a família milionária de Guilherme (Gabriel Leone), que morreu em um suspeito acidente de carro no primeiro capítulo, tenha feito de tudo para abafar o caso e encobrir o crime, como pode a polícia ter deixado vestígios de sangue facilmente identificados por luminol e uma bala na lancha em que Alex foi morto por Arlete? Ninguém viu ou quis encobrir?
Outro ponto sem qualquer nexo é o fato do fio de cabelo da personagem ter sido encontrado no local do crime e ter servido como prova para a prisão da protagonista. A própria Angel tinha admitido que estava com o então marido na lancha, mas que ele tinha batido a cabeça e caído no mar. Aquilo provava o quê?
Investigador burro
Aliás, Cristiano (Rômulo Estrela) é um dos investigadores mais burros já vistos. O seu amor súbito por Angel não teve qualquer construção e soa risível o ex-policial cair em todas as mentiras esfarrapadas contadas pela investigada.
Para culminar, seu parceiro, Eurípedes (Jonathan Azevedo), é o pior conselheiro que uma pessoa pode ter. Porém, é preciso mencionar que os atores estão muito bem em cena e a química que Rômulo tem com Camila Queiroz e Agatha Moreira é um dos pontos altos da produção.
Aliás, Giovana é a personagem que se destaca no roteiro. A atriz está bem mais segura e realmente parece que a patricinha da escola, vista em 2015, virou uma mulher sedutora e que consegue tudo o que quer.
O único atrativo do conflito de Angel é a rivalidade mesclada com tensão sexual entre a protagonista e a filha de Alex. A temperatura sempre sobe quando as duas se encontram.
Já o conflito envolvendo Angel e Percy (Gabriel Braga Nunes), inspirado na trilogia de sucesso 50 Tons de Cinza, não funcionou. No início era interessante ver a perversidade de um sujeito claramente doente e o temor de sua ‘vítima’, mas ao longo dos capítulos as cenas caem na repetição.
Direção tem altos e baixos
A direção de Amora Mautner tem altos e baixos. O excesso de neon em todas as cenas é a marca que a diretora quis imprimir e chegou a usar em algumas cenas de A Dona do Pedaço, do mesmo Walcyr, em 2019. Todavia, cansa a visão do telespectador acompanhar o mesmo padrão em toda cena. Talvez em uma série de 10 capítulos funcionasse. Mas em uma novela de 50, não.
Ao mesmo tempo, Amora acertou em cheio quando adotou as passagens de cenas sempre aéreas, mostrando o topo dos vários prédios de São Paulo, e focando as sequências de longe, nas janelas, todas sem cortinas, como se o telespectador fosse um voyeur.
Ela também foi muito feliz na forma de apresentar alguns momentos, iniciando os diálogos antes dos personagens se encontrarem. Enquanto o público está vendo um personagem cumprimentando o outro no elevador, por exemplo, o áudio já é da conversa de ambos no escritório. Um recurso diferenciado. E ainda há um bom aproveitamento da bem selecionada trilha sonora.
Outro ponto que merece crítica foi a pressa da atrativa trama de Laila (Érika Januza). Em um dia, Blanche (Maria de Medeiros) receitou para a modelo anfetamina para emagrecer e no dia seguinte a personagem já estava viciada e tendo surtos. Não houve construção e tinha tempo para um bom desenvolvimento. O impacto teria sido bem maior.
Érika Januza se destaca
Ainda assim, o núcleo foi um dos que despertaram interesse na novela. Érika Januza se entregou por completo e protagonizou fortes cenas. O desfecho da personagem é chocante, surpreendente, e a atriz dá um show do início ao fim da cena. É um monólogo sem texto.
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Aliás, após a figuração de luxo em Amor de Mãe (2019), a intérprete ganhou uma personagem que valorizou seu talento. Walcyr já tinha presenteado Érika com outra boa personagem: a juíza Raquel, de O Outro Lado do Paraíso (2017). Agora a atriz fez boas cenas com Sérgio Guizé (Ariel) e a grande Maria de Medeiros. O cinismo de Blanche é revoltante e a intérprete brilha.
Já os novos dramas de Verdades Secretas 2 se mostram bastante atrativos. A saga de Lara (Julia Byrro, uma grata e linda revelação) vem sendo bem conduzida e a cena mais impactante da trama é protagonizada por ela, quando a menina mata o padrasto que tenta estuprá-la.
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A personagem tem uma trajetória parecida com a de Angel na primeira parte. Mas não tem a inocência que Arlete tinha. É perceptível a malícia da garota que veio para São Paulo fugida com o intuito de se tornar modelo, tirar a mãe da cadeia – Araídes (ótima Maria Luisa Mendonça) assumiu o crime da filha e acabou em uma clínica psiquiátrica – e se vingar de Angel. Isso porque ela é irmã bastarda de Guilherme e culpa a rival pela desgraça que virou sua vida, já que a viúva se recusou a seguir ajudando a família com uma mesada. É um clichê que raramente falha na teledramaturgia.
Curiosidade
Toda a situação envolvendo Matheus (Bruno Montaleone) também provoca curiosidade para os próximos desdobramentos. O garoto entra para o Book Azul e acaba se envolvendo com uma família inteira por interesse.
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Primeiro, o rapaz vira parceiro fixo de Betty (Deborah Evelyn), que se encanta pelo garoto de programa. Não demora para a mulher presentear o personagem com recompensas financeiras cada vez mais altas. Aliás, a atriz vem protagonizando cenas quentes e vale citar a ousadia do autor em colocar uma mulher de 50 anos bem resolvida sexualmente.
Mas o caso da estilista é descoberto por seu enteado, Gioto (Johnny Massaro), que ameaça Matheus. Só que a intimidação não dura muito porque ele também acaba seduzido por Matheus. Os atores protagonizam sequências de sexo intensas e que já podem ser consideradas as mais ousadas da novela.
Como se não bastasse o triângulo, Matheus ainda seduz Irina (Julia Stockler), irmã de Gioto e enteada de Betty. E vai ganhando dinheiro de todos. Tudo com a orientação de sua avó, a picareta Berta, vivida pela maravilhosa Zezé Polessa. Ao que tudo indica, nem Lorenzo (Celso Frateshi), o marido traído de Betty, vai escapar da sedução do garoto de programa. O contexto – inspirado no filme de 1968, Teorema, onde um visitante seduz todos os integrantes de uma família burguesa (a empregada, o filho, a mãe e o pai) – chama atenção e todos os atores convencem.
Rainer Cadete brilha
É necessária uma menção especial ao Rainer Cadete, que tem feito de Visky um dos destaques da continuação. O personagem já tinha brilhado na primeira parte e rendeu prêmios ao intérprete, mas agora o ator consegue estar ainda mais à vontade e suas cenas com Ícaro Silva, que vive o modelo Joseph, são cheias de química.
Rainer também repete a bem-sucedida parceria com Dida Camero, intérprete da ferina Lourdeca. O braço direito de Blanche acaba passeando por todos os núcleos, o que implica em constantes aparições. Outro bons nomes do elenco são João Vitor Silva (Bruno), Rodrigo Pandolfo (Benji), Júlio Machado (Nicolau), Daniel Andrade (Lúcio) e Rhay Polster (Chiara).
Verdades Secretas 2 não repete a trajetória irretocável de Verdades Secretas. Os erros visíveis afetam o conjunto e prejudicam o resultado, mas a primeira novela exclusiva do Globoplay também tem trunfos que precisam ser reconhecidos.
Mesmo quem não gosta, acaba assistindo e querendo saber os futuros acontecimentos. Essa qualidade Walcyr Carrasco sempre teve: prender o telespectador. Mesmo quando não está tão inspirado, como é o caso da continuação que rendeu bastante dor de cabeça para o autor nas gravações finais.
Entre falhas e acertos, o fato é que o Globoplay saiu lucrando bastante. Mas uma pergunta fica: vale a pena produzir Verdades Secretas 3?