Algumas tramas brasileiras, sejam novelas ou minisséries, tiveram suas produções ou até exibições impedidas de irem ao ar. Por conta de decisão judicial ou censura, essas histórias polêmicas nunca viram a luz do dia, ou precisaram ser adaptadas para serem exibidas. Vamos relembrar algumas?

Roque Santeiro (versão de 1975)

Engana-se quem pensa que a versão de Roque Santeiro que conhecemos foi a primeira a ir ao ar. Dez anos antes, a emissora carioca tentou produzir “A Fabulosa Estória de Roque Santeiro e de Sua Fogosa Viúva, a Que Era Sem Nunca Ter Sido”, que teve o título reduzido para “Roque Santeiro”.

A meta era que a história substituísse a novela Escalada. Porém, no dia de sua estreia, em 27 de agosto de 1975, a Rede Globo recebeu um ofício do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), do governo federal, censurando a novela.

O motivo da proibição foi uma escuta telefônica do governo, onde foi gravada uma conversa de Dias Gomes em que ele afirmava que Roque Santeiro era apenas uma forma de enganar os militares, adaptando a peça O Berço do Herói (que já havia sido censurada antes) para a televisão, com ligeiras modificações que fariam com que os militares não percebessem que se tratava da mesma obra.

Do elenco principal, Betty Faria havia sido escalada para interpretar a primeira Viúva Porcina, ao lado de Lima Duarte e Francisco Cuoco.

Dez anos depois, finalmente a novela foi liberada e exibida na televisão. Foi feita uma nova gravação de capítulos, com um novo elenco, embora Lima Duarte tenha sido escalado nas duas versões da história.

Despedida de Casado (1977)

Despedida de Casado teria sido uma novela produzida pela Rede Globo em 1977 – se não fosse a Censura Federal impedindo sua exibição dias antes da estreia.

Escrita por Walter George Durst, com direção de Walter Avancini, a trama contava a história de um relacionamento em crise. Quando os censores viram em vídeo os trinta capítulos de Despedida de Casado que já tinham sido gravados, a opinião mudou, trazendo prejuízo de cinco milhões de cruzeiros para a emissora.

Com as chamadas já no ar, essa decisão foi determinada na véspera de Natal de 1976, 10 dias antes da estreia da novela. A alegação era que o texto de Durst pregava a dissolução do casamento, o amor livre, a separação da família e as brigas entre gerações.

A trama, que sucederia Saramandaia (1976), de Dias Gomes, no horário das dez da noite, foi substituída por Nina (1977), escrita pelo mesmo Durst, às pressas. A nova novela era estrelada pelo mesmo elenco de Despedida de Casado, e foi a primeira em que Regina Duarte e Antônio Fagundes contracenaram juntos.

O Marajá (1993)

A trama da Rede Manchete, que contaria a vida de Fernando Collor de Mello enquanto presidente do Brasil, foi proibida pela justiça em decisão divulgada horas antes da estreia da novela.

A emissora começou a divulgar a novela, em chamadas veiculadas ao longo de sua programação, quando Collor sentiu-se ofendido e entrou com um recurso na justiça para impedir a estreia, alegando que sua honra seria arranhada pela trama que iria ao ar e que “havia risco de danos irreparáveis”.

Após vários meses e uma disputa de liminares, uma decisão judicial favoreceu o então presidente cassado por impeachment e a novela foi proibida de ir ao ar. No elenco, Júlia Lemmertz interpretava a jornalista Mariana, protagonista da história.

Em 1999, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria alegando que as fitas da novela foram escondidas de tal modo que nunca mais soube-se do seu paradeiro, principalmente após a morte de Adolpho Bloch, presidente da extinta emissora.

A Dança da Vida (2002)

Após estrear como autora titular no remake de Anjo Mau (1997), Maria Adelaide Amaral chegou a escrever A Dança da Vida para suceder A Padroeira no horário das 18h da Rede Globo. Entretanto, a novela foi proibida pela Justiça de ir ao ar.

Há relatos que afirmam que a trama falaria sobre corrupção na política, drogas e prostituição. Por conta de seus temas pesados para a faixa, o Ministério Público havia classificado a novela como imprópria para menores de 14 anos, inviabilizando sua exibição no horário, podendo ser exibida apenas às 21h.

Como a faixa nobre já estava definida, com os devidos autores veteranos já escalados, a Globo decidiu abortar a produção da novela. Em seu lugar, foi feita Coração de Estudante (2002), de Emanuel Jacobina, em tempo recorde. Do elenco principal, os atores que já haviam sido escalados para A Dança da Vida, foram mantidos na novela de Jacobina.

Compartilhar.
Avatar photo

Alexandre Pequeno é jornalista e apaixonado pelas novelas brasileiras desde a infância. A paixão foi tanta que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. Em 2018, lançou o canal Novelando, onde aborda, de forma bem humorada, sobre as tramas que marcaram a história da TV. Já publicou contos e crônicas em antologias nacionais Leia todos os textos do autor