Na história da televisão brasileira, algumas novelas ficaram marcadas por cenas e incidentes que deixaram os telespectadores chocados e geraram inúmeras discussões.
Confira 10 exemplos na lista:
Os Gigantes
Novela das oito exibida entre 1979 e 1980, foi escrita por Lauro César Muniz, Os Gigantes sucedeu um sucesso, Pai Herói, e contava com estrelas no elenco, como Dina Sfat, Francisco Cuoco e Tarcísio Meira.
O resumo do que a trama mostrou deixa bem claro porque não deu certo: começou com hospital, doença, teve aborto, brigas familiares, processos judiciais e, para fechar com “chave de ouro”, terminou com o suicídio da protagonista, deixando os telespectadores em choque.
Mais depressiva, impossível. Após a novela, o autor foi, inclusive, demitido, rumando para a Bandeirantes.
Coração Alado
Durante Coração Alado, exibida entre 1980 e 1981, foi ao ar uma cena de estupro envolvendo Vivian e Leandro, personagem de Ney Latorraca. Leandro se aproveitou de uma viagem de Mel (Joana Fomm) para atacar Vivian, sua cunhada. Ela engravidou e o público não sabia se o filho era de Leandro ou de Juca.
A trama de Janete Clair também foi a primeira novela a abordar a masturbação, em uma cena quase explícita de Catucha. Foi um escândalo.
Logo após a exibição, no dia 24 de fevereiro de 1981, sumiram do arquivo da emissora todas as cópias deste script, e a fita do capítulo 171 foi apagada.
Corpo a Corpo
Exibida entre 1984 e 1985, a novela de Gilberto Braga ficou marcada pela rejeição do casal inter-racial da história.
Cláudio (Marcos Paulo) era um rapaz muito rico, de temperamento rebelde, que vivia batendo de frente com a intransigência do pai, Alfredo Fraga Dantas (Hugo Carvana), um homem conservador, arrogante, reacionário e preconceituoso. Cláudio se apaixona por Sônia (Zezé Motta), moça negra de família de classe média, arquiteta paisagista, culta e esclarecida.
Porém, o entrecho real chocou mais que o ficcional. Uma pesquisa para aferir a aderência do público sobre o casal Sônia e Cláudio surpreendeu todo os profissionais envolvidos.
Zezé Motta narrou o ocorrido para Pedro Bial no programa Conversa com Bial:
“As reações foram violentas (…) Um homem disse que se fosse ator e estivesse precisando de dinheiro e a televisão obrigasse a beijar uma negra feia e horrorosa ‘como aquela’, chegaria em casa todos os dias e desinfetaria a boca com água sanitária. (…) Teve uma empregada doméstica que disse que toda vez que o casal se beijava, ela trocava de canal porque não acreditava nesse amor. (…) Outro disse que não acreditava que Marcos Paulo estivesse tão necessitado de dinheiro para passar por essa humilhação“.
Um Sonho a Mais
Imagine, nos dias de hoje, uma novela marcar entre 50 e 60 pontos de audiência e ser considerada ruim, sofrendo intervenção. Pois foi o que aconteceu com Um Sonho a Mais, exibida pela Rede Globo em 1985 e que tinha como principal inovação o ator Ney Latorraca interpretando cinco personagens.
A trama também é lembrada por um discreto selinho entre dois homens – Anabela (Ney Latorraca) e Pedro Ernesto (Carlos Kroeber), considerado, por muitos, o primeiro beijo entre dois homens na televisão brasileira. Os personagens, inclusive, se casaram no final da história.
“Uma tentativa de fazer humor com personagens masculinos travestidos de mulheres – contando inclusive com a presença da sexóloga Olga Del Volga (criação de Patrício Bisso) – acabou chocando os telespectadores – apesar de engraçados. A censura da Nova República também se chocou e os travestidos sumiram”, contou o livro Almanaque da TV, de Bia Braune e Rixa.
Cortina de Vidro
Em 1989, o SBT tinha duas opções de novelas para escolher: uma delas era uma sinopse de Benedito Ruy Barbosa sobre o Pantanal, que a Globo não quis fazer; a outra, uma trama do jornalista Walcyr Carrasco, a ser feita por uma produtora independente, com custos bem mais baixos.
O canal de Silvio Santos não pensou duas vezes e ficou com Cortina de Vidro, que foi um desastre completo, enquanto a outra trama fez muito sucesso na Manchete.
A audiência e a repercussão de Cortina de Vidro foram péssimas. A crítica não perdoou a fraca novela, incluindo a apelativa cena onde o personagem Arnon Balakian (Antônio Abujamra) violentou a própria filha, Michele (Carola de Oliveira).
Pantanal
Apesar de ter abusado das cenas de nudez em pleno horário nobre, o maior sucesso da história da Manchete teve duas cenas marcantes.
Numa delas, o vilão Levi (Rômulo Arantes), depois de uma briga com Tenório (Antônio Petrin) acaba caindo no rio para se esquivar de um tiro e é completamente devorado pelas piranhas.
Mais perto do final da novela, Tenório, traído pela esposa Maria Bruaca (Ângela Leal) acaba de se vingando de seu amante de maneira sórdida.
Ele invade o local onde os dois estão e simplesmente castra o peão Alcides (Ângelo Antônio). A aguardada cena teve uma das maiores audiências da produção e ficou muito tempo na boca do povo.
Resta saber como a Globo vai lidar com essas questões no remake que será exibido em 2022.
De Corpo e Alma
Neste caso, o choque aconteceu por um trágico fato ocorrido nos bastidores. A jovem atriz Daniella Perez, filha da atura Glória Perez, foi assassinada pelo seu colega de elenco Guilherme de Pádua e pela mulher dele, Paula Thomaz, na noite do dia 28 de dezembro de 1992.
Os dois interpretavam um casal romântico da novela: Yasmin e Bira. Mesmo abatida pela tragédia, Glória conduziu a história até o fim e aproveitou para incluir dois assuntos polêmicos na trama relacionados ao crime: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.
O assassinato da atriz também teve repercussão em outros países, como os Estados Unidos (onde foi noticiado pela CNN), Portugal e China.
Ao final do primeiro capítulo sem Daniela, os atores e o diretor Fábio Sabag prestaram uma homenagem à atriz com depoimentos gravados, e a história prosseguiu.
A saída de Yasmin da novela foi explicada com uma viagem de estudos (a personagem era dançarina). Já o personagem de Guilherme de Pádua simplesmente deixou de existir.
Vira-Lata
Em Vira-Lata (1996), houve uma superexposição do corpo e um grande troca-troca de casais, em um horário tradicionalmente familiar.
Os telespectadores ficaram chocados com cenas apelativas, como as da infidelidade do personagem de Murilo Benício com a empregada diante das próprias filhas, com um certo erotismo vulgar.
O autor Carlos Lombardi mudou os rumos do triângulo amoroso central devido ao afastamento temporário de Andréa Beltrão, por problemas de saúde.
Para complicar, faltava a Andréa a empatia necessária junto ao público. A saída foi modificar a trama o mais rápido possível para tentar salvá-la do fracasso total.
Torre de Babel
Com história forte, abordando temas polêmicos, como drogas e violência, a novela de Silvio de Abreu foi rejeitada inicialmente pelo público, que estranhou, por exemplo, o eterno mocinho Tony Ramos caracterizado como um presidiário rancoroso e sombrio, José Clementino.
Sofrendo a forte concorrência de Ratinho, a Globo teve que tomar providências e mudou muita coisa na produção. Abreu aproveitou a explosão do shopping para eliminar personagens que não caíram no gosto do público.
Clementino foi humanizado e o núcleo de humor ganhou mais destaque. Até o tema de abertura foi alterado.
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Babilônia
Um dos maiores fracassos da história da Globo, Babilônia recebeu grandes investimentos por ser apresentada justamente no aniversário de 50 anos do canal.
De cara, sem aviso prévio, um beijo carinhoso e demorado entre as lésbicas vividas por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg causou rebuliço nas redes sociais.
A trama também abordou violência doméstica e assassinato. Para piorar, políticos da ala conservadora e líderes religiosos demonstraram publicamente repúdio à trama da novela, o que desencadeou uma campanha contra.
A novela mudou completamente o perfil de diversos personagens, que se perderam mais ainda, como as vilãs Beatriz (Glória Pires) e Inês (Adriana Esteves). O cafetão Murilo (Bruno Gagliasso) perdeu completamente sua função na história e foi assassinado, criando um “quem matou?”.
A emissora ainda diminuiu o foco em alguns núcleos e aumentou em outros, como a da família do político Aderbal (Marcos Palmeira). Como ressaltou nosso colunista Nilson Xavier, em seu site Teledramaturgia, Babilônia virou um verdadeiro Frankenstein.