Uma trama promissora, combalida pela rejeição do público ao debate proposto. Assim podemos definir O Dono do Mundo, novela de Gilberto Braga que chegou ao fim há exatos 27 anos, afrontando o telespectador que a rechaçou: o vilão Felipe Barreto (Antonio Fagundes), supostamente redimido ao longo do folhetim, retomava o mau-caratismo de sempre. Felipe havia deflorado, no quarto capítulo, a mocinha Márcia (Malu Mader), seduzida durante a lua-de-mel – que o cirurgião plástico se encarregou de protelar, ocupando o recém-casado Walter (Tadeu Aguiar) com problemas de trabalho. A audiência se dissipou após o ocorrido, fundamental para o desenrolar da narrativa (com a vida destruída pelo amoral Felipe, Márcia empreendia uma aterradora vingança).
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Os números em queda, algo aterrador para a faixa na época, motivaram pesquisas de opinião, manifestações públicas de Roberto Marinho sobre as mudanças impetradas no roteiro e chamadas especiais durante a programação enaltecendo os feitos da emissora no campo da teledramaturgia. A Globo, contudo, não tinha total domínio da situação. E nada pode fazer contra as novelas mexicanas do SBT, que, se não tomaram a liderança de O Dono do Mundo, contribuíram para que a trama não estourasse no ranking de audiência.
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Carrossel e Rosa Selvagem estrearam no mesmo dia que a concorrente global. Carrossel se iniciava às 20h, já surrupiando preciosos pontos do Jornal Nacional. Às 21h, entrava no ar Rosa Selvagem. A novela infantil sempre registrou índices maiores do que a adulta, que foi, em muito, impulsionada por ela e favorecida pela crise que se abateu sobre a trama de Gilberto Braga. O sucesso de ambas levou o SBT a investir cada vez mais nas novelas mexicanas, levando O Dono do Mundo a bater de frente com outros três títulos: Simplesmente Maria, Quinze Anos e Ambição. Relembre estas produções abaixo.
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Carrossel
Produzida pela Televisa em 1989, Carrossel se tornou um fenômeno tão logo se iniciou a sua exibição no SBT. Seus personagens eram populares, sua música-tema grudou feito chiclete, e um sem número de artigos – incluindo LPs, fitas K7 e álbuns de figurinhas – se reproduziam pelo mercado. A trama, exibida por aqui entre maio de 1991 e abril de 1992, trazia como protagonista a doce professora Helena (Gabriela Rivero), sonho de dez entre dez crianças na época. Ela administrava o conflito de seus alunos, em especial o de Cirilo (Pedro Javier Viveros), menino pobre e negro, apaixonado pela mimada Maria Joaquina (Ludwika Paleta). Guardo boas recordações da novela, que acompanhei não só em 91, como nas reprises de 93 e 95. Lembro do carrinho motorizado que Cirilo ganhava do pai, quando este acertava na loteria, e do acidente envolvendo a mãe de Maria Joaquina. As outras crianças também ajudaram a fazer o sucesso de Carrossel: a gordinha Laura (Hilda Chavez), o fortão Jaime Palilo (Jorge Granilo) e a doce Marcelina (Georgina Garcia). O SBT levou ao ar uma versão brasileira da novela, em 2012, também com merecido sucesso.
Rosa Selvagem
A atriz Verónica Castro se tornou popular no Brasil com Os Ricos Também Choram, primeira produção mexicana exibida pelo SBT. Em 1991, Verónica voltou a arrebatar os telespectadores daqui como Rosa, de Rosa Selvagem. A novela de 1987 estreou juntamente com Carrossel e se estendeu até 4 de outubro de 1991, antes do término de O Dono do Mundo. Rosa era praticamente um menino, de tão mal ajambrada. Um dia, roubando maçãs do quintal de uma mansão, conhece o milionário Ricardo (Guillermo Capetillo), que se casa com ela apenas para importunar suas irmãs ambiciosas, Dulcina (Laura Zapata) e Cândida (Liliana Abud). Lembro de acompanhar Rosa Selvagem na reprise de 1993, na faixa Novelas da Tarde.
Simplesmente Maria
A empregada Maria (Victoria Ruffo) é iludida pelo patrão, que a engravida e a abandona. Anos depois, a moça ascende socialmente, o que a leva a reencontrar seu antigo amor. O argumento, que já havia inspirado uma produção da Tupi, retornava ao ar em 9 de setembro de 1991, nesta versão mexicana. Entre Carrossel e Rosa Selvagem, o SBT passou a exibir Simplesmente Maria, dando início a uma fórmula empregada até hoje pela emissora, que visa manter o público de uma produção que se encerra (no caso, Rosa Selvagem) para outra que está começando. E que, nessa primeira tentativa, já apresentou bons resultados. Embalada pela novela infantil, Simplesmente Maria, registrou em seu início, impressionantes 23 pontos. Carrossel, nesse momento, já não batia de frente com O Dono do Mundo por muito tempo, uma vez que a grade havia sido alterada – com a trama infantil às 20h15, ‘Simplesmente’ às 20h45 e ‘Rosa’ às 21h15.
Quinze Anos
Com o término de Rosa Selvagem, Simplesmente Maria passou a ocupar a faixa das 21h15. Mas o SBT manteve três novelas em sua grade noturna, estreando, logo após Carrossel, a novela juvenil Quinze Anos, que trazia em seu elenco duas das maiores estrelas mexicanas, em início de carreira: Adela Noriega e Thalia. A trama, que debatia os conflitos de Maricruz (Adela) e Beatriz (Thalia), duas adolescentes precisando enfrentar a vida adulta que se aproximava, durou pouco na tela do SBT, apesar dos bons índices, chegando ao final em 30 de novembro.
Ambição
Uma das novelas mexicanas mais cultuadas de todos os tempos; a última a disputar audiência com ‘Dono’. Talvez você não se lembre do enredo, mas certamente irá se recordar da vilã do tapa-olho Catarina Creel (María Rubio), reverenciada até mesmo pela teledramaturgia brasileira (em Aquele Beijo (2011), de Miguel Falabella). A trama policial destoava do tom lúdico de Carrossel e do dramalhão de Simplesmente Maria. Talvez esse diferencial explique o sucesso da novela. Vale a pena destacar aqui o anúncio do SBT para promover a estreia de Ambição, citando O Dono do Mundo: “Já que o Felipe ficou bonzinho e a Márcia já não quer mais vingança, assista a uma novela onde as intrigas vão começar agora. […] Será que Catarina é mais maldosa do que a Constância e a Karen juntas?“, concluía, numa referência às personagens de Nathalia Timberg e Maria Padilha em O Dono do Mundo.