A reprise de “Totalmente Demais” vem superando o sucesso da exibição original, entre 2015 e 2016. O êxito é fruto do ótimo trabalho de Rosane Svartman e Paulo Halm, que estrearam como novelistas da melhor forma possível na faixa das sete da Globo. Mas a reexibição tem comprovado a riqueza de Carolina Castilho, personagem lindamente interpretada por Juliana Paes e que teve um grande destaque na história. Era uma das quatro protagonistas, mas a melhor personagem do enredo.

Carolina sempre foi o perfil mais dúbio da história, passeando pela vilania e fragilidade o tempo todo. A até então diretora da Revista Totalmente Demais fez muitas armações para prejudicar Eliza no concurso com o intuito de ganhar a aposta feita com Arthur, herdando assim a empresa do seu grande amor. Porém, como o agenciador de modelos se ‘apaixonou’ pela mocinha, a personagem não interrompeu suas ‘maldades’, mesmo com o fim do concurso. A sua atitude mais condenável foi o plano elaborado com Rafael (Daniel Rocha), onde os dois doparam a menina para simular que a garota havia dormido com o fotógrafo. Ainda fizeram Leila (Carla Salle) de bode expiatório.

E Carol tinha o costume de esbanjar arrogância diante de seus funcionários, com exceção de Pietro (Marat Descartes), seu grande amigo. Também utiliza de ironias e deboches para enfrentar seus inimigos, como a colunista Lorena (Adriana Birolli). Analisando superficialmente, a poderosa mulher seria uma vilã. Mas nunca foi. Esse era apenas um lado seu, o que sempre era exposto como forma de defesa, principalmente diante de Arthur para não mostrar a mulher amorosa e frágil que guardava dentro de si.

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Muitas de suas atitudes foram condenáveis e injustificáveis, entretanto, no fundo, a personagem só queria ser feliz profissionalmente e no amor, além de ser mãe.

Após muitas armações plantadas ao longo da história, Carolina colheu muitas consequências na reta final. A primeira foi seu desmascaramento diante de todos, quando Arthur mostrou, durante a festa de Cassandra (Juliana Paiva), que a ex-amante foi a responsável pelo doping de Eliza. A segunda foi a mais dolorosa de todas: a descoberta sobre a sua infertilidade através de um exame, vendo seu grande sonho ruir diante de seus olhos. A terceira se deu com a constatação do processo iniciado por Eliza contra ela. Porém, apesar de tudo isso, a personagem conseguiu se reerguer mais uma vez. Voltou aos velhos tempos, quando ainda morava no subúrbio e sonhava em ser a mulher poderosa que de fato havia se tornado.

Carolina abriu um brechó em parceria com sua irmã, Dorinha (Samantha Schmutz), e ainda iniciou um processo de adoção. E foi justamente durante esse processo que a complexidade da personagem se evidenciou ainda mais. Ela se encantou com Gabriel (Icaro Zulu) assim que o viu e não demorou para ambos iniciarem uma relação afetuosa.

As cenas de Juliana Paes com o menino são repletas de sensibilidade, destacando o talento da atriz, que dominou o papel por completo. Porém, Carol sofreu um novo baque quando descobriu que não poderia adotar o menino em virtude do processo movido por Eliza. Para culminar, ainda soube que o garoto é soropositivo, apesar da doença não ter diminuído em nada o amor que a empresária já sentia por seu filho. Um verdadeiro turbilhão emocional passou a fazer parte da vida daquela mulher, que teve toda a sua dor transmitida com maestria pela intérprete.

E a cena mais linda da novela foi exibida logo após Carolina ganhar a guarda de seu filho. O texto dos autores, dito através do juiz, foi belíssimo e toda a sequência de emoção da Carol, ao som de “Rise Up” (Andra Day) —- tema da personagem —-, enquanto Gabriel correu em direção ao abraço da mãe, sensibilizou profundamente. Um momento delicado e que foi transmitido com perfeição através de um conjunto primoroso envolvendo direção, diálogos e a atuação entregue de Juliana Paes.

Essa personagem é a mais complexa da trama e não era qualquer atriz que conseguiria passar toda complexidade do papel. Mas Juliana conseguiu. Deu um show em todos os momentos de vilania da Carolina —– protagonizando grandes cenas e honrando a importância daquele perfil tão rico —-, ao mesmo tempo que emocionou nos instantes de fragilidade de uma poderosa mulher que tirava a máscara de forte diante da irmã e do melhor amigo. A intérprete foi muito exigida ao longo da novela, correspondendo sempre. Ainda vale mencionar a sua evidente química com Fábio Assunção (vista logo no primeiro capítulo), durante as idas e vindas daquele casal nada tradicional, cujas apostas norteavam a relação de grande tensão sexual.

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Juliana Paes estreou na televisão vivendo a empregada Rita em “Laços de Família” (2000) — atualmente reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo” — e desde então emendou várias novelas. Entre as suas personagens mais marcantes estão a Jaqueline Joy (“Celebridade” – 2003) e a Maya (“Caminho das Índias” – 2009). O momento de maior reconhecimento se deu com a Bibi Perigosa, de “A Força do Querer”, em 2017, também reexibida atualmente. Na trama de Glória Perez, a atriz roubou a cena na pele de uma mulher que transbordava passionalidade.

Já em “A Dona do Pedaço”, exibida ano passado, Juliana viveu seu auge. Maria da Paz foi seu papel mais popular e a própria reconhece o feito. A boleira caiu na boca do povo e nunca mais será esquecida. Mas Carolina Castilho merece estar na lista de suas melhores personagens. A exuberante mulher de “Totalmente Demais” está no top 3 da carreira da atriz com tranquilidade.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor