Carcereiros tem qualidade e uma boa proposta, mas cansa com o tempo
10/05/2018 às 10h00
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Após dois adiamentos e o lançamento da produção no aplicativo Globo Play, em junho de 2017 – os 12 episódios foram disponibilizados com bastante antecedência -, a Globo finalmente estreou Carcereiros nesta quinta-feira (26/04), série coproduzida com a Gullane Filmes e escrita por Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Dennison Ramalho (com colaboração de Marcelo Staroubinas). Dirigida por José Eduardo Belmonte, a trama é protagonizada por Rodrigo Lombardi e aborda a dura vida dos agentes penitenciários do país.
A série teve problemas sérios antes de ir ao ar. Domingos Montagner era o ator escolhido para interpretar o protagonista, mas morreu afogado no Rio São Francisco, enquanto gravava Velho Chico (2016). A morte chocou o Brasil e a tragédia jamais será esquecida. Então, após o choque, a produção escalou Rodrigo para substituí-lo. As gravações foram feitas sem problemas e finalizadas. Entretanto, não puderam estrear por causa de uma sucessão de rebeliões violentas em presídios do Espírito Santo e do Norte do país. A emissora não achou apropriado.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Passado esse período de horror, outro empecilho foi observado: o ator já estava em A Força do Querer (interpretando o advogado Caio) e, para não abusar de sua imagem, o adiamento novamente se fez necessário. A saída da Globo foi, como mencionado inicialmente, lançar a série completa em sua plataforma de streaming.
Assim, Carcereiros pôde ser vista primeiro pela Globo Play e só agora, após todos esses acontecimentos (que poderiam render até uma outra série), pela televisão. E a produção merece elogios, pois a qualidade das filmagens é visível, assim como a acertada escalação do elenco.
LEIA TAMBÉM:
● Não merecia: rumo de personagem desrespeita atriz de Mania de Você
● Sucesso da reprise de Alma Gêmea mostra que Globo não aprendeu a lição
● Reviravolta: Globo muda rumo da maior tradição do Natal brasileiro
Baseada no livro homônimo de Drauzio Varella, a história é bem estruturada pelos autores e mistura ficção com documentário através de depoimentos de carcereiros já aposentados ou ainda em atividade. Algumas vezes essas inserções quebram o ritmo dos episódios e se mostram bastante didáticas, mas não comprometem o todo. Cada episódio, aliás, tem início, meio e fim. Os enredos são independentes, embora tenha um foco central que se mantém: o cotidiano do protagonista, que tem um pai (Tibério – Othon Bastos), uma esposa (Janaína – Mariana Nunes) e uma filha de outro casamento (Lívia- Giovanna Rispoli).
O telespectador acompanha a vida infernal de Adriano, sempre questionando o porquê dele ter escolhido aquela ‘rotina’. Na verdade esse questionamento acaba sendo direcionado a todas as pessoas que decidem ser agentes penitenciários. Afinal, eles, querendo ou não, cumprem as penas junto com os presos. Estão todos os dias dentro dos presídios, vivenciando aquele inferno e sendo ameaçados constantemente, podendo morrer a qualquer instante. O objetivo da série, por sinal, é esse: mostrar o cruel serviço desses trabalhadores através do protagonista. Tanto que o principal ‘vilão’ do enredo é o sistema prisional.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Rodrigo Lombardi está muito bem na pele do forte Adriano e protagoniza muitas cenas pesadas, principalmente quando o carcereiro enfrenta os presidiários sem medo. Tony Tornado, intérprete do agente Valdir, é a grata surpresa da série. Não por causa da irretocável atuação, afinal, o seu talento é conhecido há muitos anos; mas, sim, pelo destaque que ganhou. Finalmente um perfil que faz jus ao ator competente que é, após tanto tempo fazendo figuração no Zorra.
Othon Bastos, Giovanna Rispoli, Mariana Nunes, Aílton Graça (Juscelino), Maria Clara Spinelli (Kelly), Nani de Oliveira (Vilma) e Thogun (excelente como Engenheiro, o presidiário mais temido) também merecem menção, assim como as ótimas participações de Matheus Nachtergaele, Carol Castro, Caco Ciocler, Gabriel Leone e Chico Diaz.
Porém, as histórias vão cansando com o tempo. Principalmente em virtude das semelhanças dos conflitos e do cenário principal não ser nada convidativo. Não deu vontade, por exemplo, de assistir a vários episódios seguidos na Globo Play. Uma pausa se fazia necessária em vários momentos. E não é uma série que marcará. Embora seja complicado fazer previsões, é fácil afirmar que daqui a um tempo será esquecida. Mas, apesar disso, é um produto de qualidade que merece elogios. Foi, inclusive, premiado em Cannes, na França, em abril de 2017, na segunda edição do MIPDrama Screenings, evento que marcou a abertura do MIPTV (feira do mercado de televisão).
Carcereiros – cuja equipe idealizadora é quase a mesma da fracassada Supermax, também ambientada em um presídio – tem uma proposta válida e que rende bons momentos para os atores, provocando uma reflexão no público a respeito da vida escolhida (pela necessidade ou vocação) por pessoas que se veem mergulhadas em um inferno que não tem fim.