Foi-se o tempo em que números de Ibope norteavam as decisões das emissoras. Na Globo, pelo menos, os índices já não são mais suficientes. A atração também precisa fazer “buzz”, gerar um buchicho. Ou melhor: engajar. O engajamento não só atrai novos espectadores (curiosos para assistir ao que todos comentam), como também, em consequência, leva ao Globoplay.
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O portal Notícias da TV informou que a atual novela das sete, Cara e Coragem, teve suas gravações aceleradas e o final antecipado. A ordem é enterrar logo o morto e encerrar o caso.
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A trama de Cláudia Souto não vai mal apenas na audiência. É uma produção que ninguém comenta, ninguém se importa. Não gera engajamento nenhum e tão pouco é procurada no streaming. Isso é o pior que pode acontecer com uma novela.
Fale mal, mas fale!
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Em contrapartida, a trama das nove, Travessia, também considerada um fracasso de audiência, é, ao menos comentada.
É aquela atração que o público se dispõe a ir às redes sociais para falar mal, zoar, xingar. O chamado “bonde do recalque”, expressão criada por Glória Perez em 2012, quando sua novela Salve Jorge despertava engajamento não porque as pessoas gostassem.
Dez anos depois, Glória repete o feito de Salve Jorge em Travessia. É mais divertido apontar as falhas no roteiro e as interpretações canastronas de alguns atores do elenco do que ressaltar a história ou envolver-se com ela. O velho e bom “fale mal, mas fale!”.
Ninguém comenta
A audiência de Cara e Coragem, na casa dos 21 pontos (Ibope da Grande SP), é até superior à produção antecessora no horário, Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), que fechou sua média por volta dos 20,5.
Um aparte: para efeito de comparação, as duas novelas anteriores foram consideradas sucessos de audiência (na TV aberta e no streaming) e de engajamento: Salve-se Quem Puder (2020), com 26 pontos, e Bom Sucesso (2019), com 29 pontos.
Entretanto, Quanto Mais Vida, Melhor! foi gravada durante a pandemia (em meio às restrições sanitárias, muito antes da exibição na TV) e engajava nas redes sociais, além de ter sido muito buscada no Globoplay. Já Cara e Coragem, nada disso.
Ninguém se importa
Cara e Coragem padece do pior cenário para qualquer telenovela: a história que não desperta o interesse do público. A trama, privilegiando o tom policialesco em detrimento da comédia romântica, começou confusa demais e cheia de personagens. Isso afastou o telespectador que não se interessou mais pela novela e não voltou.
Para piorar, há poucos personagens realmente carismáticos, bons. Talvez apenas a dupla formada por Kiko Mascarenhas e Jeniffer Nascimento, Duarte e Jéssica. Os restantes são todos burocráticos demais. Taís Araújo (Clarice / Anita) tira leite de pedra, enquanto Paolla Oliveira (Pat) e Marcelo Serrado (Moa) parecem estar no lugar errado, na hora errado e na novela errada.