A Globo exibe, diariamente, desde o dia 9 de agosto, a série Ilha de Ferro, lançada há três anos no Globoplay. A apresentação dos episódios da primeira temporada acontece até essa semana, para que, a partir do dia 24, entre no ar a reprise da novela Verdades Secretas.

Ilha de Ferro é um primor de técnica e direção. Porém, sofre de dois males que têm origem no roteiro, muito comuns em séries (nacionais e estrangeiras).

Primeiro é a sensação de que não acaba nunca! No Globoplay, são 12 longos episódios de 50 minutos de duração cada (em média) em que trama e personagens são maturados para tudo ser resolvido nos dois últimos capítulos. Roteiro precisa de fôlego para render tanto. Ilha de Ferro não tem. Essa crítica se estende, também, a várias produções de fora (Netflix, HBO, Fox, etc). No caso de Ilha de Ferro, o roteiro vai desenrolando histórias paralelas que pouco (ou nada) contribuem para a trama principal.

A trama: Dante (Cauã Reymond) e Júlia (Maria Casadevall) trabalham em uma plataforma de petróleo em alto mar. Ela assume o posto de direção que ele almejava. O conflito maior está armado. Alguns trabalhadores da unidade têm tramas próprias, mostradas em episódios separados. O foco é sempre a hostilidade no ambiente inóspito, quase brutal, em contraponto com os dramas pesados que cada um traz de fora (da vida no continente).

Outro fator que contribui para a sensação de arrasto é a atmosfera pesada (e isso não é ruim). Ilha de Ferro não é de fácil digestão. Não há alívio cômico ou romântico (Dante e Júlia até se pegam, mas a rivalidade é o mais importante). A tensão constante, o clima hostil e o terror psicológico a que os personagens são submetidos só dão alguma trégua ao espectador por meio dos devaneios imagéticos da direção, traduzidos nos sonhos, pesadelos e lembranças dos personagens e nas “viagens” de drogas e álcool.

O segundo problema de Ilha de Ferro: as pirotecnias da direção, que ejetam algum alívio ao peso dos dramas dos personagens, também servem para camuflar a escassez do roteiro. Bem produzida, Ilha de Ferro tem uma proposta estética interessante, que remete a trabalhos autorais de consagrados diretores de cinema. Contudo o roteiro parece não acompanhar tanto apuro estético. Fica parecendo que a direção tenta preencher os buracos da trama com algum exibicionismo técnico.

Os dois últimos episódios são eletrizantes, dignos das melhores produções de ação do cinema americano. Como série pretensamente dramática, termina em um excelente filme ação.

Entre tantos personagens-clichê de blockbusters hollywoodianos (Cauã Reymond e Maria Casadevall são praticamente super-heróis do cinema), merece destaque o trabalho de Sophie Charlotte, como Leona, a mulher de Cauã na trama. Despida de qualquer vaidade (e ainda assim bela), Sophie tem aqui o seu melhor desempenho na televisão. Pena que a atriz não continua na segunda temporada.

Em tempo: uma terceira temporada foi escrita, mas o Globoplay descontinuou a série.

Ilha de Ferro foi criada por Max Mallmann (falecido em 2016), escrita por ele e Adriana Lunardi, com direção artística e geral do cineasta Afonso Poyart (dos filmes Eu te Darei o Céu, Dois Coelhos, Presságios de um Crime e Mais Forte que o Mundo), e direção de Roberta Richard e Guga Sander.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor