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Por essa, nem mesmo a Globo esperava. Claro que parte da ótima audiência de Fina Estampa deveu-se ao confinamento imposto no início da quarentena. Criticada por todos os lados pela narrativa e perfis de personagens que envelheceram mal, a novela proporcionou a dose de escapismo ansiada pelo público cansado das notícias da pandemia do novo coronavírus.
E, convenhamos, Fina Estampa nada ofereceu a não ser a fantasia, sem o menor compromisso com a realidade. Era sentar na poltrona – quem estivesse disposto – e embarcar no absurdo.
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A reprise da novela de Aguinaldo Silva (finalizada nesta sexta-feira, 18) fecha com uma média de 33 pontos no Ibope da Grande São Paulo, três a mais que Amor de Mãe, a atração inédita interrompida. Diferentemente do drama de realidade de Manuela Dias, Fina Estampa fisgou o público com tramas surreais e personagens que mais pareciam saídos de um desenho animado.
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A fórmula do autor somou elementos populares, personagens caricatos – como a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o “gay pet” Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado) -, e uma heroína maniqueísta – Griselda (Lília Cabral), mulher batalhadora, de personalidade forte, mãe sofrida, boa e justa, concebida especialmente para criar empatia com o público que se identifica com essa figura idealizada.
Aguinaldo escreveu algumas das melhores novelas de nossa TV, porém Fina Estampa está longe de seus melhores trabalhos. Sem uma história consistente, marcante, inovadora ou original, o autor se perdeu do mote inicial, que contava a trajetória de Griselda – que, ao ficar rica, se questionaria se o que vale mais é a aparência ou o caráter, como bem sugere o título da novela.
Como a trama central desandou, a vilã tresloucada Tereza Cristina passou a ganhar mais espaço, despertando a atenção do público acerca de seu “segredo”. Contudo, esse segredo – cuja revelação foi ápice em dois momentos – acabou por frustrar o telespectador. O autor também frustrou o público com a não revelação da identidade do amante de Crô.
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Não apenas a vilã divertiu (ou irritou) o telespectador, mas também Crô, o gay chacota, um tipo ultrapassado, mas impagável nas cenas com Tereza Cristina. Com ele, o chofer Baltazar (Alexandre Nero) e a empregada Marilda (Kátia Moraes). Outra trama questionável em seu desenvolvimento foi a que envolveu Baltazar, machismo e violência doméstica. O personagem violentador terminou como escada para alívio cômico. Uma lástima.
Apesar de vários núcleos e personagens com histórias desinteressantes, e por mais surreal que a novela tenha sido, a aposta no tom farsesco e na comédia popular funcionou. O que talvez não teria acontecido se o autor tivesse se restringido à chata família de Griselda e seu discurso politicamente correto.
Com o bom resultado no Ibope, Fina Estampa provou ter sido uma escolha acertada no momento de início de quarentena.
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.