“Cancerofobia”: leucemia de Camila multiplicou doadores, mas também gerou pânico

Com a emblemática cena de Camila (Carolina Dieckmann) raspando os cabelos ao som de “Love by Grace”, de Lara Fabian, exibida nesta semana, Laços de Família passa a destacar o drama da filha de Helena (Vera Fischer), acometida por leucemia.

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Na exibição original da novela, entre 2000 e 2001, a trama de Manoel Carlos conseguiu uma proeza ao conscientizar a população e fazer disparar o número de doadores de medula óssea. Mas, ao mesmo tempo, de acordo com os médicos ouvidos pela imprensa na época, muita gente também ficou em pânico ao ver as cenas na tela da Globo.

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“Até os médicos estão espantados: a cada dia, aumenta o número de pessoas interessadas em se tornar doadoras de medula óssea. De novembro, quando a leucemia começou a ser abordada pela novela, até a segunda semana de janeiro, a média de cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) saltou de cinco por semana (20 por mês) para 225 por semana (900 por mês) – um crescimento de 4.400%”, informou matéria do jornal O Globo publicada em 21 de janeiro de 2001.

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Outro indicativo foi o Disque-Saúde, do Ministério da Saúde, serviço que tirava dúvidas do público sobre doenças. “O número de consultas passou de 67 em novembro para 458 só nas três primeiras semanas do ano”, enumerou a reportagem, que ainda trouxe outros dados interessantes.

Mas, para mostrar o lado negativo, a mesma publicação entrevistou o hematologista Fábio Nucci, que destacou que a novela disseminou pânico entre os telespectadores.

“Nunca tinha visto alguém procurar minha especialidade espontaneamente, sem outra indicação médica. Elas aparecem com uma equimose (marca roxa) na perna porque deram uma pancada numa mesa e já pedem para fazer um hemograma. Eu explico que todo mundo que tem sangue fica com o local da pele roxo, se der uma batida”, explicou. “Eles assistem à novela, veem aquele drama e acham que estou escondendo a verdade, que há algo mais grave acontecendo com eles”, completou.

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Dramaticidade

Outro depoimento foi dado pela então diretora do Instituto Estadual de Hematologia (HemoRio), Kátia Motta, que criticou a dramaticidade da história.

“Nem toda leucemia precisa de transplante. O tratamento da doença evoluiu muito em 25 anos. Antes de se preocuparem em doar células da medula óssea, as pessoas poderiam lembrar de doar sangue, que é o gênero de maior necessidade nos hospitais”, disparou.

“Todas as vezes que uma novela ou filme mostra alguém sofrendo de câncer começa uma verdadeira cancerofobia”, disse o oncologista e diretor do Instituto Paulista de Cancerologia, Guilherme Mendes Filho, ao jornal O Estado de S. Paulo de 1º de abril de 2001. “Até minha mulher outro dia veio me acordar querendo saber se sua dor no joelho poderia significar leucemia”, completou.

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Lado negativo

Como Camila fica curada na novela, o autor criou outra personagem para mostrar que, infelizmente, nem tudo termina bem. Marcela (Paula Tolentino), que fica amiga da garota e de Helena, também tem leucemia, mas não resiste.

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“Camila sobreviverá, mas Marcela morrerá. É uma forma de ajudar na campanha de doação de medula e mostrar a dura realidade da doença”, explicou Manoel Carlos ao jornal O Globo, que ainda explicou que contou a assessoria de médicos do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e entrevistas feitas pela pesquisadora Gabriela Miranda para escrever as cenas.

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