O Canal Viva foi criado em 2010 com um único objetivo: presentear o telespectador com reprises de várias novelas, séries e programas da Globo, sem cortes. E a missão estava sendo cumprida com louvor ao longo desses oito anos de existência. Várias atrações e folhetins foram reprisados sem edições, preenchendo a grade do canal a cabo e matando as saudades do público. Porém, parece que agora a regra mudou.

A reprise de Bebê a Bordo, novela de Carlos Lombardi exibida em 1988, começou a ser editada no dia 30 de abril e, segundo Cristina Padiglione, a razão é a fuga da audiência em virtude de fortes críticas a respeito do conteúdo ‘apelativo’ do enredo. O canal iniciou a reprise em 15 de janeiro e só agora passou a retalhar a trama. A explicação dada pela jornalista é bastante controversa, pois os números no Ibope nunca foram uma preocupação para canais pagos. Claro que todos querem um bom retorno, mas dificilmente tomam atitudes mais drásticas para elevar os índices, como mudar a programação repentinamente.

E o Viva, questionado pelos telespectadores e parte da imprensa sobre o assunto, recusava-se a comentar. A única resposta era a burocrática frase: “A edição de Bebê a Bordo segue critérios de programação do Canal Viva”. Obviamente, não satisfez ninguém. Os questionamentos continuaram. Então, a emissora resolveu se pronunciar na última quarta-feira (02/05): “O Viva comunica que todos os capítulos de Bebê a Bordo estarão disponíveis, na íntegra, no Viva Play, a partir de 7 de maio. Na TV, a exibição seguirá com capítulos editados”.

Ou seja, admitiu que está cortando a trama e ainda comunicou que terá que acessar seu aplicativo para assisti-la completa, igual ao Globo Play. O canal só se esqueceu que o público já paga para isso. O Viva não é aberto, como a Globo, é parte do pacote de TV a cabo. É um absurdo. Um contrato foi rompido com quem prestigia o canal, cuja maior propaganda era justamente a exibição de todas as novelas na íntegra, ao contrário do que sempre aconteceu no Vale a Pena Ver de Novo, por exemplo.

E o mistério em torno desses cortes continua, afinal, a explicação não oficial em torno de críticas conservadoras e fuga de audiência é difícil de comprar. Principalmente levando em consideração várias reprises de novelas fracassadas ou até polêmicas que o Viva já reexibiu, sem qualquer problema, como O Dono do Mundo e Fera Ferida, citando apenas dois casos. O canal vem reprisando também Explode Coração (1995/1996), péssima novela de Glória Perez, e Sinhá Moça (1986), enredo de Benedito Ruy Barbosa. As duas, no entanto, não sofreram cortes. Por qual razão? O caso de Bebê a Bordo é uma mera exceção? Ou expõe uma brecha para cortes em qualquer outra futura reprise? Nada foi explicado.

Segundo o jornalista Ricardo Feltrin, a audiência de Bebê a Bordo é 0,3 pontos, um índice jamais alcançado pelo canal – a reprise anterior, de Tieta, por exemplo, marcava 1,3. Realmente é uma queda brusca. Um imenso fracasso. Mas não justifica os cortes, pois, como já mencionado, não é canal aberto que precisa disputar audiência a todo custo.

Para culminar, o Viva ainda vem quebrando outras promessas. A anunciada reprise de Roda de Fogo (1986) foi cancelada e substituída por A Indomada (1997), sem qualquer explicação. O sucesso de Aguinaldo Silva estreia em julho, entrando no lugar de Explode Coração. Ainda cancelaram a reexibição de Brega & Chique (1987), trazendo de volta pela segunda vez Vale Tudo (1988), cuja estreia está prevista para junho, no lugar de Bebê a Bordo. Ou seja, em uma semana houve um festival de amadorismo e desrespeito.

É verdade que a atual safra de reexibições do Viva é uma das piores desde a sua inauguração. As três novelas deixam bastante a desejar, sendo até compreensível a tal baixa audiência especulada. Entretanto, pensassem nisso antes da escolha para a reapresentação. A equipe da emissora resolver simplesmente cortar uma delas para antecipar seu desfecho, agindo como se fosse um canal aberto e esquecendo das promessas de exibir todos os folhetins na íntegra é um total desrespeito com os assinantes. Pior ainda é cancelar reprises já anunciadas e substituí-las por outras, sem qualquer explicação, e justamente na mesma semana da polêmica dos cortes no enredo de Carlos Lombardi. Inadmissível.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor