No final de 1997, nos primórdios da internet comercial no Brasil, muito antes do surgimento das redes sociais e de sites de petições, foi realizada a primeira campanha de cancelamento contra uma personagem de televisão.
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Os internautas, revoltados com o comportamento mimado de Eduarda, vivida por Gabriela Duarte em Por Amor, da Rede Globo, criaram um site que possibilitava enviar mensagens para o autor Manoel Carlos.
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Por Amor estreou no dia 13 de outubro de 1997. A novela perguntava ao público: o que você seria capaz de fazer por amor? Na trama, Helena (Regina Duarte) e Eduarda engravidam ao mesmo tempo. No dia do parto, Eduarda perde o útero e seu filho morre, enquanto o bebê de Helena nasce saudável. Desesperada pelo momento trágico e pensando no fato da filha não poder engravidar novamente, Helena pede ao jovem médico César (Marcelo Serrado) para trocar as crianças, o que é feito.
Desde o início da história, Eduarda não conquistou o público. Ciumenta, mimada e frágil, vivia pegando no pé do noivo, Marcelo (Fábio Assunção), e rejeitava o pai, Orestes (Paulo José), que era alcoólatra.
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Campanha na internet
O público logo se cansou e alguém teve a ideia de montar um site na internet, na extinta plataforma Geocities, que possibilitava criar sites simples de forma gratuita. “Eu Odeio a Eduarda” entrou no ar no final de 1997 e logo chamou a atenção da mídia, que começou a repercutir o fato. Num mundo ainda sem buscadores precisos como o Google, o acesso ao material só se dava com esse tipo de repercussão.
No site, era possível enviar uma mensagem para Manoel Carlos pedindo a morte da personagem. Também existia um arcaico jogo onde se podia jogar tomates no rosto de Eduarda. Tudo muito rudimentar, mas inédito.
A atriz falou sobre o site à Folha de S. Paulo de 12 de abril de 1998, quando a novela se aproximava do fim.
“Nunca me senti pessoalmente atingida. Se a página chamasse Eu Odeio a Gabriela Duarte, ficaria chateada, mas não foi o caso. Eu tenho de dizer que isso tudo criou uma polêmica muito saudável em torno do meu trabalho”, disse.
Ela também achava que se outra atriz tivesse feito a Eduarda, a personagem seria completamente diferente.
“Talvez o público não a odiasse tanto naquele período. Mas sou eu que estou fazendo, e ninguém pode dizer que está errado. Ela é a minha Eduarda”, ressaltou.
Em contraponto aos que odiavam a personagem, mas com menor repercussão, foi criado outro site, “Eu Adoro a Eduarda”, para manifestar apoio à moça.
Mudança de planos
Tamanha repercussão fez o autor Manoel Carlos mudar de ideia: na sinopse original, Eduarda deveria morrer para que pudesse ser solucionado o polêmico caso da troca dos bebês.
Mas, segundo o autor disse à mesma reportagem da Folha, dois fatores o fizeram escolher outro desfecho. “A virada de Eduarda, mostrando que ela não é apenas uma menina mimada e arrogante, e a expectativa do público, que prefere ver a personagem feliz, de preferência nos braços de Marcelo, no final da trama”, explicou a reportagem.
“Sou um autor que ouve a voz das ruas, e as pessoas pedem para que Eduarda não morra”, concluiu Manoel Carlos.
E ela não morreu mesmo, tendo um final feliz ao lado de Marcelo.