André Santana

Semanas atrás, surgiram comentários de que Bruno Luperi, autor do remake de Renascer, estava incomodado com a semelhança entre Terra e Paixão e a próxima novela das nove da Globo. Vitor Peccoli, repórter do TV História, apurou que, por conta do desconforto, a direção da emissora solicitou que Walcyr Carrasco modificasse sua história.

Rainer Cadete e Cauã Reymond em Terra e Paixão
Rainer Cadete (Luigi) e Cauã Reymond (Caio) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Luperi, inclusive, ameaçou cancelar o próximo projeto das 21h por conta do acontecido. Assim, fica explicado o motivo de Carrasco ter apostado numa trama tão rocambolesca quanto a do retorno de Agatha (Eliane Giardini).

O autor precisou armar essa virada justamente para retirar de cena o plot envolvendo a rejeição do pai por um filho, que estava presente em Terra e Paixão e é o fio condutor de Renascer.

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Mudança encomendada

Cauã Reymond e Tony Ramos em Terra e Paixão
Cauã Reymond (Caio) e Tony Ramos (Antônio) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Segundo apurou o TV História, Walcyr Carrasco precisou mudar os rumos de Terra e Paixão por determinação da Globo, no intuito de distanciar a história da atual novela das nove de sua sucessora, Renascer. Neste contexto, o autor precisou acabar com a trama envolvendo o conflito entre Antônio (Tony Ramos) e Caio (Cauã Reymond).

Em Renascer, José Inocêncio (Antonio Fagundes, na versão original) rejeitava João Pedro (Marcos Palmeira), seu filho caçula, porque a mãe dele, Maria Santa (Patrícia França), morreu no parto. O mesmo acontecia em Terra e Paixão, na qual Antônio culpava Caio pela morte de Agatha (vivida por Bianca Bin em flashbacks).

Para atender a determinação da emissora, Carrasco optou por uma solução rocambolesca. O autor escolheu “ressuscitar” Agatha, acabando de vez com o motivo da rejeição de Antônio a Caio. Tanto que o fazendeiro já pediu desculpas ao filho por isso e o assunto foi definitivamente enterrado na novela das nove.

Inconsistência

Eliane Giardini como Agatha em Terra e Paixão
Eliane Giardini como Agatha em Terra e Paixão (reprodução/Globo)

Curioso notar que, para atender a determinação da Globo, Walcyr Carrasco precisou apelar para um recurso que acabou fazendo a novela desandar. Afinal, toda a trama envolvendo a volta de Agatha parece um tanto forçada. Ficou mesmo com cara de coisa improvisada.

O novo plot foi inserido na história a partir do momento em que o corpo da mãe de Caio foi exumado e descobriu-se que o caixão estava vazio. A partir daí, vieram uma série de informações pouco convincentes: Agatha não tinha certidão de óbito e ninguém percebeu; não foi feito o inventário da falecida e ninguém estranhou; e o CPF dela seguiu ativo, sem ninguém saber.

Além disso, a história fica inconsistente. Cândida (Susana Vieira), por exemplo, se dizia muito amiga de Agatha e afirmava que a mulher era praticamente um anjo na terra. No entanto, a Agatha que voltou à história está bem longe de ser essa figura bondosa que Cândida pintava. Pelo contrário, a morta-viva se revelou uma vilã interesseira e perigosa.

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Terra e Paixão desandou

Terra e Paixão - Gloria Pires
Gloria Pires como Irene em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Com o retorno, Agatha passou a ser o centro das atenções em Terra e Paixão. Com isso, várias tramas que estavam previstas ficam de stand by e podem nem mais serem desenvolvidas como esperado.

Maior prova disso é a trajetória de Irene. Com a volta de Agatha, a personagem de Gloria Pires ficou meio perdida, sem uma função muito clara na trama. O autor tem apostado num “duelo de vilãs”, com Irene e Agatha numa queda-de-braço. Um destino bem diferente do que se esperava para a personagem de Gloria.

Ou seja, a determinação da Globo acabou fazendo Terra e Paixão desandar. O autor, obrigado a mudar os rumos da história, parece perdido sobre qual caminho deve tomar. Com isso, a novela das nove vai ficando cada vez mais sem sentido.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor