Nilson Xavier

América, uma das novelas mais pedidas para reprise, está de volta, mas no Globoplay, a partir dessa segunda (25). De autoria de Glória Perez, exibida em 2005, foi sucesso de audiência, apesar de massacrada pela mídia e pela crítica, que diariamente apontavam falhas no roteiro.

Confira 10 curiosidades sobre a produção:

Briga entre autora e diretor

América

Os desentendimentos e a incompatibilidade de ideias entre Glória Perez e o diretor de núcleo Jayme Monjardim provocaram o desligamento do último. Decorridos 25 capítulos no ar e 38 gravados, a direção passou a ser comandada por Marcos Schechtman, e o núcleo, pelo diretor artístico da emissora, Mário Lúcio Vaz.

Os problemas de relacionamento ocorreram desde antes da estreia, quando Glória e Jayme não chegavam a um consenso sobre os intérpretes ideais para os protagonistas Sol e Tião. Jayme queria Camila Morgado e Marcos Palmeira. Glória, Deborah Secco e Murilo Benício, e acabou vencendo, ao ceder à vontade do diretor em outras questões da novela.

Glória Perez desabafou em depoimento a Flávio Ricco e José Armando Vannucci para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”:

“Na escrita, [a protagonista Sol] era uma mulher forte, cheia de gás, e na tela estava sempre chorando. O ajuste foi necessário para levar ao ar a história como ela estava sendo contada nos capítulos”.

Par problemático

América

Apesar de tentar levar adiante a história que queria contar, a autora não conseguiu fazer com que o público se afeiçoasse ao casal romântico central.

Sol e Tião (Deborah Secco e Murilo Benício) não cativaram o público e ambos ganharam novos interesses amorosos: ela se envolveu com o americano Eddie (Caco Ciocler) e ele caiu nos braços da veterinária Simone (Gabriela Duarte).

Glória Perez tem um histórico com rejeição a seus casais protagonistas. O público gostava mais de Dara (Tereza Seiblitz) com o cigano Igor (Ricardo Macchi) do que com Júlio Falcão (Edson Celulari), em Explode Coração (1995-1996); e mais de Maya (Juliana Paes) com Raj (Rodrigo Lombardi) do que com Bahuan (Márcio Garcia) em Caminho das Índias (2009).

Trilha e aberturas alteradas

Entre as mudanças ocorridas após a saída de Jayme Monjardim, uma das mais significativas ocorreu na trilha sonora. O diretor musical Marcus Viana, habitual parceiro de Monjardim, foi afastado e as bucólicas trilhas incidentais foram substituídas por músicas mais alegres e populares.

A abertura, com seu tema musical, também mudou. Com uma seleção de imagens mais dinâmica e cores mais claras, a nova abertura começou a ser exibida no capítulo 46. Saiu a contundente música “Órfãos do Paraíso”, de Marcus Viana, e, em seu lugar, entrou “Soy Loco Por Ti América”, em uma gravação de Ivete Sangalo.

Apesar do título, a canção – composta por Gilberto Gil e José Carlos Capinan e gravada originalmente por Caetano Veloso em 1968 – era totalmente descolada da novela, já que sua letra, na verdade, exalta a América Latina, e não os Estados Unidos, como propunha a trama.

Porém, pelo visto, o que importou foi o tom alegre da música, interpretada por uma cantora de forte apelo popular.

Tramas polêmicas

América

Cleptomania, rodeios, deficiência visual, homossexualidade, experiência quase-morte e o sonho de cruzar a fronteira dos Estados Unidos foram assuntos abordados na novela.

A autora também investiu em um tema bastante polêmico: o perigo da pedofilia na internet. Na trama, um menino de 8 anos arranja um amigo virtual de 11 anos, que na realidade é um adulto de 58.

Beijo gay frustrado

América

Uma trama da novela agitou o país: o questionamento de Júnior (Bruno Gagliasso) sobre sua sexualidade. Uma revista chegou a resvalar no preconceito com a manchete “Júnior fica curado e se apaixona por Kerry” (personagem de Marisol Ribeiro).

Criou-se grande expectativa acerca do último capítulo, em que aconteceria o primeiro beijo homossexual masculino em uma novela da TV Globo – entre Júnior e Zeca (Erom Cordeiro).

O último capítulo bateu recorde de audiência, tendo alcançado 66 pontos de média no Ibope da Grande São Paulo e 82% de share (participação de televisores ligados no canal). Porém, para a frustração da maioria, a cena, que foi escrita e gravada, não foi exibida.

O primeiro beijo gay entre dois homens em novelas da Globo só ocorreu em 2014, no último capítulo de Amor à Vida, de Walcyr Carrasco, entre Félix e Niko (Mateus Solano e Thiago Fragoso).

Sobre o beijo gay em sua novela, Glória Perez explicou ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, de André Bernardo e Cíntia Lopes:

“Eu e o Marcos Schechtmann [diretor] tivemos uma reunião com o Mário Lúcio Vaz, o Octavio Florisbal, o Manoel Martins e o Durval Honório [executivos da Globo]. O Florisbal decidiu que o beijo não deveria ser mostrado. Nós argumentamos muito, mas não conseguimos mudar a decisão. Na verdade, nem era para ir ao ar o trecho que foi, porque ali já havia a intenção do beijo. A primeira ideia era cortar até isso! Mas conseguimos que pelo menos a intenção ficasse”.

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Ataques à autora

Gloria Perez

Pouco antes da estreia da novela, Glória Perez sofreu ataques, em seu perfil no Orkut, por quem definiu como psicopatas. Na página da autora, foram escritas mais de oito mil mensagens com ataques violentos à memória de sua filha falecida, Daniella Perez.

As mensagens foram enviadas por grupos que se intitulavam “protetores dos animais”, que estariam insatisfeitos com a abordagem do tema rodeio na novela. Com a agressão, Glória resolveu fazer algumas alterações no perfil dos personagens de Caco Ciocler, Raul Gazola e Gabriela Duarte, militantes da causa.

Sobre o núcleo dos peões de rodeio, um personagem permanece na memória afetiva do público: o boi Bandido, que o peão Tião sonhava dominar e laçar.

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Dificuldades de gravar nos EUA

América

Em entrevista ao jornal O Dia, o diretor Jayme Monjardim comentou sobre as primeiras dificuldades nas gravações de América no Texas (EUA):

“Guardas da fronteira de El Paso tiraram meu equipamento. Fiquei detido por seis horas até provar que não estava fazendo nada de errado”.

Em 15 dias de gravação, eles passaram também por baixíssimas temperaturas e dificuldades até para se alimentar e falar com os parentes no Brasil.

Deborah Secco teve de passar por um laboratório como garçonete de uma filial do McDonald’s em Nova York. Sem que soubessem que era atriz, ela chegou a lavar o chão e, por não dominar o idioma, contou que foi maltratada. Seus superiores voltavam a sujar o piso que ela tinha acabado de limpar.

Inspirado em histórias reais

Deborah Secco

A cena que mostrou Sol (Deborah Secco) pega pela polícia na tentativa de entrar nos Estados Unidos dentro de uma caixa de encomenda foi inspirada em uma história real. Em agosto de 2004, uma cubana foi achada por funcionários da DHL dentro de uma caixa.

Também a sequência, no início da novela, em que um motorista de um trator se recusa a cumprir uma ordem de despejo e por abaixo um barraco. O fato aconteceu em Salvador (BA) quando o trabalhador emocionado se recusou a derrubar uma casa de família despejada, com sua máquina.

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Personagens cegos

Marcos Frota

Para comporem seus personagens cegos Jatobá e Maria Flor, os atores Marcos Frota e Bruna Marquezine fizeram laboratório frequentando o Instituto Benjamim Constant, no Rio de Janeiro, para conhecerem de perto como é o dia a dia dos cegos.

A novela ainda incorporou o programa É Preciso Saber Viver, de Dudu Braga (filho do cantor Roberto Carlos), no qual ele entrevistava deficientes.

Por causa da repercussão da novela, o deputado estadual José Dourado, do PT da Bahia, conseguiu a aprovação da lei de acesso irrestrito a cães-guia, que transitava há mais de um ano no Estado.

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Estreias

América

Primeira novela das atrizes Cléo Pires, Camila Rodrigues e Cris Vianna, e dos atores Aílton Graça e Antônio Carlos Bernardes Santana (o Mussunzinho).

América foi ainda a primeira novela da atriz Camila Morgado, revelada na minissérie A Casa das Sete Mulheres, em 2003.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor