Mesmo sendo bem produzida, novela das seis da Globo naufragou em 1982

– “Um jogo sem chances de empate”. Assim Walter George Durst, autor de Terras do Sem Fim, definia a disputa de Sinhô Badaró (Carlos Kroeber, na foto com Fernando Torres) e Horácio da Silveira (Jonas Mello), figuras centrais do enredo. Coronéis da Guarda Nacional, Sinhô e Horácio lutavam pelo poder e pela propriedade da maior extensão de terras férteis, ainda não desbravadas – as matas do Sequeiro -, na zona do cacau, transformando os arredores num verdadeiro campo de batalha.

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– No primeiro capítulo, Badaró e Silveira celebravam o resultado de uma eleição. Os dois cantavam vitória, já que ambos haviam fraudado a votação. Contudo, quem decidia o resultado, naquele tempo, era o governador da Bahia. A partir desta luta de iguais, com lances ora dramáticos, ora divertidos, Walter George criticava o coronelismo, tão marcante na obra de Jorge Amado e tão presente em muitos recantos do país, ainda hoje.

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– Durst conhecia bem o universo de Amado: foi ele o responsável pela adaptação de Gabriela, novela das 22h exibida no rastro das comemorações dos 10 anos da Globo, em 1975, que fez de Sônia Braga uma das maiores estrelas do país.

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– Em consonância com Gabriela, a abertura, com ilustrações do artista plástico Aldemir Martins, responsável não só pela vinheta da produção dos anos 1970, como também pela capa de alguns dos muitos livros de Jorge Amado.

– Para reproduzir três cidades cenográficas, numa área de 1.600 m2, a Globo apostou em materiais primários, utilizando-se, principalmente, de madeira resistente à água. As casas e estabelecimento simulavam os municípios de Ferradas, Ilhéus e Tabocas. Nos cenários, a cargo de Leila Moreira e Mário Monteiro, ambientes interiores e exteriores, o que possibilitou a redução do tempo de gravação em estúdio.

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– Embora ambientada na Bahia, as primeiras cenas de Terras do Sem Fim foram realizadas em Pirapora, Minas Gerais. Algumas das sequências foram realizadas numa “gaiola”, embarcação utilizada para atravessar o Rio São Francisco.

– Com um elenco onde a presença masculina era mais forte, a figurinista Maria Lúcia Areal se viu praticamente “obrigada” a caprichar nos figurinos femininos. As mulheres do elenco foram enaltecidas em vestes de cores vibrantes, como o visto acima com Maria Cláudia, intérprete de Margô. Exceto Donana Badaró (Nívea Maria), com roupas nas cores azul-marinho e marrom, arrematadas por botas de montaria. A paixão pelo capitão João Magalhães (Cláudio Cavalcanti, parceiro recorrente de Nívea na ficção) determinou a mudança visual da moça, que passou a optar por vestidos cor-de-rosa e chapéus transparentes.

– João Magalhães era um jogador inveterado que, se fazendo passar por engenheiro militar, consegue ludibriar tanto Horário da Silveira como Sinhô Badaró. Nos capítulos finais, ele admite ter se aproximado da família de Donana apenas por oportunismo; a esta altura, o rival político do clã, Horácio, assume o poder político em Ferradas.

– Era também a história do advogado Virgílio Cabral (Paulo Figueiredo), que se deixa envolver pela segunda esposa de Horácio, seu contratado. Diferente do amigo João, ele não consegue concretizar seu romance no fim da história: cai numa tocaia articulada por Silveira, no momento em que se dirigia a um encontro com Ester (Sura Berditchevsky), a amada em questão.

– Virgílio também mantinha um caso com a prostituta Margô (Maria Cláudia), que se incomodava com a relação dele e de Ester. A senhora de “difícil vida fácil” se envolvia com Juca Badaró (Otávio Augusto), praticamente capanga do irmão Sinhô, casado com a fofoqueira Olga (Bárbara Bruno, filha de Nicette Bruno e Paulo Goulart).

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– Cota nepotismo: a talentosa Nívea Maria estava, outra vez, no elenco de uma produção dirigida por seu então marido, Herval Rossano – que após comandar o horário das 18h, ininterruptamente, de 1975 a 1981, deixava a Globo para trabalhar no exterior. E Bárbara Fazzio, intérprete de Agripina (ou Vampireza) era esposa do autor, Walter George Durst.

– O elenco contava ainda com Antônio Pitanga (Viriato), Edwin Luisi (Silveirinha), Elza Gomes (dona Menininha), Fernando Torres (Dr. Carlos Zude), Germano Filho (Dr. Genaro Torres), Heloísa Milet (Julieta Zude), Isaac Bardavid (Argemiro), José Lewgoy (Coronel Maneca Dantas), Juciléia Telles (Raimunda), Mário Cardoso (Rui Dantas), Milton Gonçalves (Damião), Sebastião Vasconcelos (Coronel Teodoro das Baraúnas), Stenio Garcia (Amarelo Joaquim) e Thelma Reston (Auricídea).

– Estrela da Tupi, Jussara Freire estava prestes a estrear na Globo quando perdeu o papel de Ester para Sura Berditchevsky. A atriz já havia gravado cerca de 15 capítulos quando a direção optou pela troca. Jussara, pasmem, não foi sequer requisitada para outras produções durante a vigência deste seu primeiro contrato com a Globo. No ano seguinte, ingressou na Band. Em 1984, a atriz migrou para o SBT; em 1990, arrebanhou todos os prêmios de TV por seu desempenho como Filó, em Pantanal, da Manchete. A estreia na emissora-líder se deu quase 20 anos após o primeiro acerto entre as partes: em 2001, na minissérie Os Maias; em 2002, enfim, a primeira novela, Coração de Estudante.

– Apesar de todo o esmero da produção, do apuro do texto e da excelência dos atores, Terras do Sem Fim não encontrou o êxito. Em seu último mês – fevereiro de 1982 – os números oscilaram entre 30 e 42 pontos, segundo o Ibope (ou 1 milhão e 710 mil / 2 milhões e 394 mil telespectadores). Para efeitos de comparação, no mesmo período, a novela das 19h, Jogo da Vida, atingia 59 pontos; a das 20h, Brilhante, cerca de 68 de média. Com isso, a trama acabou sendo encurtada em dois meses.

– As investidas da Censura – que vetou a reprodução, às 18h, da sensualidade latente nas obras de Jorge Amado – influenciou o encurtamento da novela (que contou com apenas 90 capítulos). Terras do Sem Fim saiu do ar cerca de dois meses antes do estipulado, dando lugar a O Homem Proibido, adaptação de Nelson Rodrigues que também incomodou os censores, a princípio.

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– Os críticos também apontaram o conteúdo dos livros de Amado escolhidos para a adaptação como um dos mais graves problemas do enredo. Eram obras mais densas, escritas logo no início da carreira literária de Jorge, bem diferentes do tom quase cômico que fez o sucesso de Gabriela, no mercado de livros e na TV.

– Terras do Sem Fim foi vendida para países como Cuba, Portugal e Suíça, onde foi exibida duas vezes. Também para a Itália, que acompanhou a trama através da Telemontecarlo, emissora da qual a Globo foi acionista. A novela dividia a faixa matutina com Guerra dos Sexos (1983); esta era exibida às 9h; ‘Terras’ às 12h.

– O folhetim nunca foi reprisado no Brasil.

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