Bebendo em “fontes carrasquianas”, Orgulho e Paixão prima por clima solar e romances

A alternância de estilos tem ditado o tom do horário das seis. Após a aventura histórica de Novo Mundo e o melodrama de Tempo de Amar, é a vez do clima solar e romântico de Orgulho e Paixão, nova novela das 18h, que estreou na última terça-feira (20). Assinada por Marcos Bernstein, roteirista de obras primorosas como o filme Central do Brasil (1998), a série A Cura (2010) (ambas com João Emanuel Carneiro) e a novela A Vida da Gente (2011-12, ao lado de Lícia Manzo), a trama é uma nova chance para o autor após o fracasso de Além do Horizonte (2013-14), às 19h.

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Com base nas obras da escritora inglesa Jane Austen, autora de livros como ‘Orgulho e Preconceito’, ‘Razão e Sensibilidade’, ‘Emma’, ‘A Abadia de Northanger’ e ‘Lady Susan’ (todos presentes na novela), a trama dirigida por Fred Mayrink é a terceira de época seguida, pautando sua ação no início do século XX (portanto, alguns anos antes do enredo de Alcides Nogueira, que se passava no fim dos anos 20). A ambientação também traz novos ares: sai a conexão entre Rio de Janeiro e Portugal, que marcou as duas antecessoras, entram São Paulo e o fictício Vale do Café.

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É lá que vivem as protagonistas da história: Elisabeta (Nathalia Dill), Jane (Pamela Tomé), Lídia (Bruna Griphao), Cecília (Anaju Dorigon) e Mariana (Chandelly Braz). Filhas de Ofélia (Vera Holtz) e Felisberto (Tato Gabus Mendes), as cinco irmãs Benedito, são diferentes entre si. Elisabeta é feminista por convicção e gosta de contrariar as regras machistas da sociedade da época. Jane segue a linha romântica, que sonha com o príncipe encantado. Mariana, de espírito livre e aventureiro, não quer se casar por conveniência. A sonhadora Cecília, quase sem vaidade nenhuma, está sempre às voltas com os livros. E a caçula, Lídia, é a mais ousada, sempre metendo os pés pelas mãos e disposta a tudo para ter um pretendente, funcionando como uma “piriguete” de época.

Logo no início da história, a família Benedito participa de uma grande festa idealizada por Ema Cavalcante (Agatha Moreira), melhor amiga de Elisabeta e neta do Barão de Ouro Verde, Afrânio Cavalcante (Ary Fontoura), que esconde da neta sua decadência. A libertária Elisabeta dá de cara com Darcy Williamson (Thiago Lacerda), herdeiro de um milionário inglês, com o qual havia se desentendido em uma loja de roupas.

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No melhor estilo “gato e rato”, os dois confrontam suas personalidades até o momento em que irão se render ao amor, para desespero de Suzana (Alessandra Negrini). A sedutora e manipuladora aliada da poderosa e fria Julieta (Gabriela Duarte), a Rainha do Café, faz de tudo para se aproximar de Darcy com claro interesse em sua fortuna. E, ao mesmo tempo, outros romances já dão o ar da graça, como o encantamento de Camilo (Maurício Destri), filho de Julieta e amigo de Darcy, por Jane; bem como a paixão de Rômulo (Marcos Pitombo), um bon vivant da região, por Cecília. Deve-se, no entanto, tomar cuidado com a condução dos casais, para que não caiam no equívoco de uma construção rápida demais, deixando a sensação de um enredo jogado.

Os primeiros capítulos indicaram que a história pretende caminhar por um estilo bastante solar, com muito romantismo e comédia. A direção de Fred Mayrink, investindo nos exageros, faz lembrar as conhecidas novelas de Walcyr Carrasco no horário das 18h – para se ter uma ideia, até mesmo uma cena no chiqueiro já foi apresentada.

A proposta ‘over’ também se vê presente pelas atuações do elenco. Chama a atenção o bom desempenho de Nathalia Dill, que está muito bem como a protagonista Elisabeta e já mostrou ter química de sobra com Thiago Lacerda. Também merecem elogios a boa sintonia dos pares formados por Maurício Destri e Pamela Tomé e especialmente de Anaju Dorigon e Marcos Pitombo, que têm tudo para agradar na pele de Cecília e Rodolfo, bem como as boas atuações de Bruna Griphao (excelente como Lídia), Grace Gianoukas (ótima como Petúlia, um capacho de Susana) e Gabriela Duarte, que desde Passione (2010-11) não participava de uma novela inteira e merece muito ser valorizada.

Alessandra Negrini, mesmo vivendo mais uma vilã em sua carreira, forma uma excelente dobradinha com Grace e Gabriela e está segura na pele de Susana. Uma ressalva deve ser feita para Agatha Moreira, cuja interpretação tem sido um tanto “efusiva”, mesmo para uma proposta mais farsesca – algo que se tem percebido desde as chamadas. Acredita-se que ela deve corrigir o tom ao longo do tempo.

Ainda se destaca a bonita abertura, com direito à belíssima versão de Lucy Alves (que esteve justamente em Tempo de Amar, onde emocionou como a doce Eunice) para ‘Doce Companhia’, gravada originalmente por Fernanda Takai a partir do original em espanhol de Julieta Venegas. No entanto, a tipografia dos créditos de abertura, mais clara e em letras brancas, dificulta a leitura dos nomes.

Orgulho e Paixão, nestes primeiros capítulos, se mostra uma novela simpática, com um universo vibrante e repleta de romance e comédia. O enredo de Marcos Bernstein e a direção de Fred Mayrink dialogam de forma a lembrar o “estilo carrasquiano” de novelas como O Cravo e a Rosa (2000), Chocolate Com Pimenta (2003) e Alma Gêmea (2005), aclamadas obras do autor de O Outro Lado do Paraíso. Resta conferir como a condução da história será feita e se haverá algum ajuste nos “exageros”.


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