Há praticamente 41 anos, em 11 de maio de 1975, a cidade de São Paulo parou para ler a edição daquele dia do Notícias Populares, tradicional jornal popular que pertencia ao grupo da Folha de S.Paulo. A manchete principal estampava em letras garrafais: “Nasceu o diabo em São Paulo”.
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Surgia aí uma lenda que movimentou a cidade por alguns dias, vendeu milhares de exemplares de jornais e segue até hoje na cabeça dos mais velhos: o bebê-diabo.
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Série de reportagens
A primeira reportagem informava que uma criança havia nascido em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, com chifres, rabo e falando.
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“Durante um parto incrivelmente fantástico e cheio de mistérios, correria e pânico por parte de enfermeiras e médicos, uma senhora deu a luz num hospital de São Bernardo do Campo a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”, descrevia o texto.
De temperamento forte, a sagaz criança teria tocado o terror no berçário da maternidade, furioso ao ver a luz do dia.
“Feche a janela. Ou fecham, ou mato a todos”, gritou, ameaçando a enfermeiras.
Circulação do jornal dobrou
Com o sucesso, foram produzidas nada menos que 27 reportagens sobre o fenômeno. O interesse pelo assunto chegou a dobrar a circulação do periódico durante o período.
Na segunda reportagem, o bebê-diabo teria sumido após dizer que não pertencia a esse mundo. A partir daí, nas edições seguintes, o NP, como era conhecido o jornal, passou a publicar testemunhos de incidentes que estariam ocorrido em todo o ABC paulista, onde fica a cidade, incluindo colisões de carros, atropelamentos e discussões.
Posteriormente, grupos de moradores saíam às ruas da cidade para encontrar a pequena criatura, munidos de crucifixos e outros apetrechos religiosos. Com medo, o público se recolhia cedo, trancava as portas e aguardava mais notícias no dia seguinte. Além daquela região, relatos da aparição do bebê-diabo começaram a surgir em outras localidades, como Marília, no interior de São Paulo.
Com o passar do tempo, a lenda foi esfriando e o público acabou perdendo o interesse. Na penúltima reportagem, foi informado que o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, queria caçar a criatura; na última, publicada em 8 de junho daquele ano, falava-se sobre o surgimento de um novo bebê-diabo. O assunto morreu ali para virar, definitivamente, uma lenda.
A verdade por trás do bebê-diabo
Segundo o repórter Marco Antônio Montadon, da Folha de S.Paulo, a criança nasceu com “duas saliências na testa e prolongamento do cóccix”, o que explicaria os “chifres” e o “rabo”. Eram más formações, que foram corrigidas com uma simples cirurgia.
O próprio Montadon transformou o tema numa crônica de terror, fictícia, publicada na Folha. José Luiz Proença e Lázaro Campos Borges, do Notícias Populares, pediram a um repórter para recontar a história, transformando a trama no nascimento do bebê-diabo.
O editor-chefe do NP, Ebrahim Ramadan, não queria dar prosseguimento no assunto, mas a direção do jornal deu a ordem para continuar. Com o passar dos dias, os repórteres se divertiam criando histórias a respeito da pequena criatura.
O fato foi lembrado recentemente na série de comédia Notícias Populares, exibida pelo Canal Brasil e disponível no Globoplay.