A décima sétima edição do Big Brother Brasil tinha o grande desafio de não ter Pedro Bial apresentando, mas havia outra missão a ser encarada: apresentar um bom elenco, após o fenômeno Ana Paula (participante que entrou para a história do reality ano passado, provocando uma imensa repercussão e elevando a audiência). Embora Tiago Leifert jamais consiga ser igual ao apresentador anterior (nem teria como), ele acabou se encontrando no comando do formato. Porém, o time selecionado fracassou incontestavelmente.

A seleção parecia promissora e houve uma clara preocupação em priorizar a diversidade, fugindo daqueles padrões que o público do BBB já estava acostumado, onde os sarados, jovens e ‘gostosonas’ eram maioria e os ‘normais’ exceções. Quase todos da atual edição se encaixavam na categoria de pessoas ‘comuns’ e o time chegou a empolgar no começo. Mas foi um mero ‘fogo de palha’. Com o passar das semanas, foi ficando evidente que vários ali não se entregaram ao programa e muito menos se mostraram jogadores carismáticos.

O que costuma mover um bom reality show é a formação de alianças e ótimos embates, despertando rivalidades empolgantes. Tanto que isso resulta em torcidas ferrenhas em provas do líder, do anjo, da comida, enfim… O jogo bem disputado provoca um clima de tensão constante ao mesmo tempo que não impede momentos de diversão.

E absolutamente nada disso tem acontecido na atual edição. Não há qualquer tipo de vínculo mais forte entre os participantes e nem uma disputa que desperta interesse. É uma temporada fria, sem alma.

Os selecionados não criaram afetos no programa. Todos se aliam por conveniência e os laços mudam a cada paredão, de acordo com quem retorna da berlinda. Ninguém defende ninguém. É cada um por si, ainda que tentem disfarçar, aparentando amizades inexistentes. Claro que um jogo que vale um milhão e meio de reais provoca interesses e disputas, mas nunca na história do reality houve um grupo que não tenha demonstrado ao menos carinho por alguém, nem que seja para chegar à final. Talvez a única exceção seja Ilmar, que demonstra um claro afeto por Marcos, embora não receba de volta esse sentimento na mesma proporção (afinal, o médico não deu a imunidade do Anjo para o amigo e ainda fez questão de tentar ‘queimá-lo’ em um discurso deprimente sobre os supostos erros que teria cometido).

Para culminar, todos fogem de confrontos diretos. Não há enfrentamentos e nem maiores discussões. Os populares ‘barracos’ são elementos extintos nessa edição. E nem é uma reclamação a favor da ‘baixaria’, pois um mero desentendimento defendendo interesses já valeria. Mas eles preferem agir com comentários pequenos e pelas costas, fingindo respeito pela frente. Ou seja, é um conjunto péssimo para qualquer reality. Um verdadeiro banho de água fria em quem esperava algo atrativo para acompanhar ao longo de quase três meses.

Essa falta de verdade provoca uma perda de interesse em torcer por alguém. Até porque falta carisma e atitude nesse grupo. Nem mesmo lealdade há, vide as várias traições que ocorreram, como o voto de Roberta em Mayara e depois em Emilly, a tentativa de Emilly em destruir a amizade de Marcos e Ilmar, e o voto de Rômulo em Ilmar, por exemplo – nem assim resultando em enfrentamentos, vale ressaltar.

Um dos poucos focos de conflitos, despertando alguma atenção, era Elis. A participante era uma fofoqueira nata e tentava colocar um contra os outros o tempo todo. Era uma quase vilã, mas tinha humor e carisma, características vitais para um bom entretenimento. Taxada de “agente do caos” por Tiago Leifert, a ‘louca’ acabou sendo queimada a cada dia pela edição, que valorizava seus atos com uma lente de aumento, como se ela fosse uma malvada em meio aos anjinhos da casa. O resultado foi uma eliminação com mais de 80% de rejeição em um paredão triplo. O curioso é que no dia da saída dela, o apresentador fez questão de elogiar seu jogo, tentando incentivar os demais a se entregarem ao programa. Mas foi tarde, até mesmo para os demais acreditarem naquilo – afinal, Elis acabou eliminada.

O que sobrou no reality, infelizmente, é um conjunto desanimador. Marcos e Emilly formam um casal insuportável, onde ele é um banana manipulado por uma menina fútil, egoísta e mimada. Rômulo se mostra um defensor da moralidade ao lado de Marcos e os dois cansam com seus discursos em prol da perfeição do ser humano, como se fossem discípulos de Cristo. Pedro, Roberta e Vivian ficaram juntos por força de circunstância e a agora dupla (Pedro foi eliminado na última terça) só fala, ao invés de agir, demonstrando um contraponto raso ao jogo de Marcos e Emilly. É uma aliança frágil e artificial. Já Ieda altera bons momentos de jogo com outros desnecessários, reclamando dos outros pelas costas e fugindo do confronto. Já Marinalva e Daniel são duas plantas que nada acrescentam. A única exceção é mesmo o já citado Ilmar, que vem se mostrando uma pessoa verdadeira, com qualidades e defeitos, se entregando mesmo ao programa.

A última tentativa da produção de tirar a edição do marasmo foi na segunda-feira (06), quando um muro dividiu a casa, tendo um lado mexicano e um americano, fazendo uma clara referência ao presidente dos EUA, Donald Trump.

Entretanto, a situação foi claramente criada para beneficiar Emilly, que é a única ‘rendedora’ de assunto naquela mansão. Afinal, o mais votado pelos participantes teria uma falsa eliminação (já ocorrida com Maroca no BBB 13 e com Ana Paula no BBB 16) e ficaria do outro lado do muro, podendo escolher quatro colegas para lhe acompanhar.

Era óbvio que Emilly tinha muito mais chances de ser a escolhida, pois foi para o paredão com seis votos. E foi exatamente o que ocorreu, para a alegria da produção, que não sentiu um pingo de constrangimento de ter realizado essa ‘virada’ com a votação do público em curso. Ela foi a falsa eliminada, levando Marcos, Ilmar, Daniel e Marinalva. O resultado disso foi ‘apenas’ um auxílio e tanto para a menina ficar em seu segundo paredão, aumentando sua popularidade – antes do muro, Pedro sairia pelas enquetes tendo cerca de 54% dos votos e depois do muro ele saiu com mais de 70%, pois não rendeu nenhum maior conflito na casa.

O BBB 17 vem se mostrando uma grande decepção e já pode ser considerada uma das piores edições do reality, empatando com a sexta edição, lembrada como a mais fraca até hoje. Não por acaso a média geral da atual edição é a pior em 16 anos de programa. Falta carisma, lealdade, atitude e muita verdade nos participantes. Falta tudo.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor