André Santana

Amor Perfeito chega à última semana registrando índices de audiência satisfatórios para a Globo. No entanto, a direção do canal esperava que a trama escrita por Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. tivesse maior engajamento na web e repercussão. Neste quesito, o folhetim ficou aquém do esperado.

Ana Cecília Costa e Carmo Dalla Vecchia em Amor Perfeito
Verônica (Ana Cecília Costa) e Érico (Carmo Dalla Vecchia) em Amor Perfeito (Divulgação / Globo)

Mas, no geral, a novela das seis cumpriu sua missão, saindo de cena acumulando erros e acertos. A trama acertou em cheio com as escalações de Mariana Ximenes e Paulo Gorgulho, além de ter acertado a mão na reta final. Mas a história derrapou com “cura gay” sem sentido e personagens que não foram desenvolvidos adequadamente.

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Os acertos

Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito
Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)

Não dá pra falar dos acertos de Amor Perfeito sem exaltar a escalação de Mariana Ximenes como Gilda. A atriz, um dos melhores talentos de sua geração, brindou o público ao construir uma vilã clássica, mas com momentos de humanidade. Fazia tempo que a Globo devia uma boa personagem à artista.

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Outro acerto foi Paulo Gorgulho, que entrou aos 45 do segundo tempo para viver Leonel – a princípio, o personagem seria de Felipe Camargo. O veterano, sumido das novelas da Globo há anos, voltou por cima com um personagem que passou a maior parte da trama fora de cena, mas que nunca de fato foi esquecido do enredo. O ator brilhou nas duas fases da trama.

Paulo Gorgulho em Amor Perfeito
Paulo Gorgulho em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)

Aliás, Mariana Ximenes e Paulo Gorgulho são os donos da novela nessa reta final. Os roteiristas acertaram a mão nos últimos capítulos, com uma trama eletrizante, ótimos ganchos e viradas surpreendentes. A novela chega ao fim com a temperatura em alta.

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Os erros

Babu Santana - Amor Perfeito
Babu Santana como Frei Severo em Amor Perfeito (Divulgação / Globo)

Mas nem tudo foram flores em Amor Perfeito. A novela contou uma boa história, mas parece ter distribuído mal as viradas da narrativa. Isso ficou claro com o início apressado, que esgotou a história principal em poucos capítulos. Depois disso, a trama entrou numa espécie de banho-maria, praticamente empurrada com a barriga. Apenas na reta final o fôlego foi recuperado.

Além disso, vários personagens coadjuvantes que tinham boas histórias acabaram não tendo o devido espaço. Frei Severo (Babu Santana), por exemplo, sofria por ter matado um homem sem querer no passado, mas seu drama não foi explorado. Já Lívia (Lucy Ramos), Wanda (Juliana Alves) e Aparecida (Isabel Fillardis) só ganharam histórias próprias nos últimos capítulos.

Se estes personagens tivessem tido espaço para terem suas tramas desenvolvidas antes, é bem possível que Amor Perfeito não tenha tido o momento de marasmo citado acima. Os autores deviam ter dosado melhor a presença dos personagens e valorizado o talento dos atores escalados, todos muito bons em seus papéis.

Cura gay

Amor Perfeito - Domingos de Alcantara e Carmo Dalla Vecchia
Domingos de Alcantara (Romeu) e Carmo Dalla Vecchia (Érico) em Amor Perfeito (Manoella Mello / Globo)

O terceiro erro foi a “cura gay” promovida no personagem Érico (Carmo Dalla Vecchia). Antes da trama estrear, o ator celebrou a oportunidade de viver um homem gay numa trama de época, vislumbrando as questões que isso poderia levantar. Mas, na prática, o relacionamento entre o advogado e Romeu (Domingos de Alcantara) foi pouco mostrado e serviu apenas para a chantagem de Gilda.

Quando a sexualidade de Érico não servia mais à trama principal, o personagem simplesmente engatou um romance com Verônica (Ana Cecília Costa), com quem se casou e teve filho. Ou seja, na prática, Érico era um personagem heterossexual, que só teve um breve romance gay para justificar a chantagem da vilã.

Mesmo que esta falha seja corrigida no último capítulo – já que existe a possibilidade de Érico reatar com Romeu -, o estrago já foi feito. Num momento em que a Globo parece recuar em seu avanço na abordagem da diversidade sexual em suas novelas, a história de Érico pegou bem mal. Foi até um desrespeito ao ator, homossexual assumido, que esperava fazer história com o personagem. Não fez.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor