André Santana

Amor Perfeito foi uma novela que se desenvolve em banho-maria. Um dos motivos para a temperatura morna foi a mocinha Marê (Camila Queiroz), que até iniciou a novela com sangue nos olhos, mas, durante boa parte da trama, se tornou presa fácil nas mãos de Gilda (Mariana Ximenes), com quem passou a disputar o amor de Orlando (Diogo Almeida, foto abaixo).

Orlando (Diogo Almeida) em Amor Perfeito
Orlando (Diogo Almeida) em Amor Perfeito (reprodução/Globo)

Assim, a autora Duca Rachid repetiu na atual trama das seis o maior defeito de suas novelas. A obra da novelista é marcada por mocinhas pouco espertas, que se deixam levar pelos vilões ardilosos sem reagir.

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Vilã esperta?

Amor Perfeito - Mariana Ximenes
Mariana Ximenes como Gilda em Amor Perfeito (Paulo Belote / Globo)

Gilda é a grande vilã de Amor Perfeito e, durante toda a trama, aprontou poucas e boas para cima de Marê. A personagem de Mariana Ximenes demonstrou sangue-frio e esperteza ao traçar as mais diversas armadilhas para acabar com a mocinha.

Mas será que Gilda foi tão esperta assim? Ou foi a pouca inteligência de Marê que acaba auxiliando a megera a se dar bem? Afinal, enquanto a vilã conseguiu prever todos os passos da heroína e esteve sempre pronta para dar o bote, Marê pouco se movimentou e acabou caindo em todas as armadilhas.

Tanto que Gilda descobriu que Marcelino (Levi Asaf) era o filho perdido de Marê antes da rival. Enquanto isso, a mocinha, que conviveu com o garoto diariamente, nunca foi capaz de desconfiar disso. É mole? Marê acordou na reta final, quando sugeriu a Orlando um casamento de fachada com Gilda. A mocinha também foi a responsável por induzir a vilã a apostar num investimento errado, o que lhe custou a presidência do Grande Hotel Budapeste.

Porém, não demorou demais para Marê tomar uma atitude?

Galeria das mocinhas sonsas

O Profeta - Carol Castro, Fernanda Souza e Nívea Maria
Carol Castro (Ruth), Nívea Maria (Lia) e Fernanda Souza (Carola) em O Profeta (Divulgação / Globo)

Com essa falta de sagacidade, Marê repetiu características de outras mocinhas criadas por Duca Rachid. A autora, que assinou várias novelas das seis ao lado de Thelma Guedes, concebeu várias heroínas que não eram lá muito espertas.

Em O Profeta (2006), por exemplo, Sonia (Paolla Oliveira) era feita de gato e sapato por Ruth (Carol Castro), além de ter se tornado uma presa fácil nas mãos do terrível Clóvis (Dalton Vigh).

Com Rose (Camila Pitanga), de Cama de Gato (2009), não foi diferente. A faxineira até tinha uma personalidade mais forte, mas isso não a impediu de cair feito tonta nas armações mais estapafúrdias de Verônica (Paolla Oliveira).

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Heroínas fracas

Cordel Encantado - Bianca Bin e Cauã Reymond
Bianca Bin (Açucena) e Cauã Reymond (Jesuíno) em Cordel Encantado (Divulgação / Globo)

Mas não parou por aí! No sucesso Cordel Encantado (2011), Açucena (Bianca Bin) irritou o público com sua pouca esperteza. Tanto que a princesa era constantemente sequestrada pelo vilão Timóteo (Bruno Gagliasso) e sempre precisava ser salva por Jesuíno (Cauã Reymond).

Bianca Bin, aliás, repetiu o tipo mocinha sonsa na novela seguinte da dupla de autoras, Joia Rara (2013). Amélia também não era a heroína mais esperta do mundo e penou nas mãos do vilão Manfred (Carmo Dalla Vecchia).

Por fim, em Órfãos da Terra (2019), Laila (Julia Dalavia) também se manteve passiva diante das barbaridades de Dalila (Alice Wegmann). Ou seja, Marê apenas deu sequência ao legado das mocinhas insossas criadas por Duca Rachid.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor