No dia 8 de novembro, a Globo estreia, após o Jornal Nacional, a novela Um Lugar ao Sol, assinada por Lícia Manzo, com direção artística de Maurício Farias. A produção marca o retorno das novelas completamente inéditas na faixa das nove da noite da emissora.

Por causa do Covid-19, seus 107 capítulos foram escritos durante a pandemia e Um Lugar ao Sol estreia já totalmente gravada, o que faz dela uma “novela fechada”. Não há, desta forma, a possibilidade de fazer alterações no decorrer de sua exibição, de acordo com as exigências do público/audiência – o que caracteriza as “novelas abertas”.

A trama central é sobre gêmeos (vividos por Cauã Reymond) separados na primeira infância, de condições sociais opostas e que se conhecem adultos. Enquanto o rico é morto, o pobre assume seu lugar e sua vida.

Um clássico do folhetim, já visitado por muitos autores, de Ivani Ribeiro a Janete Clair, passando por Aguinaldo Silva e João Emanoel Carneiro: O Outro, Mulheres de Areia, A Usurpadora, Cara e Coroa, Da Cor do Pecado e tantas outras. O próprio Cauã Reymond já viveu gêmeos, na minissérie Dois Irmãos, exibida em 2017.

Na última quinta-feira (28/10), a Globo promoveu a coletiva de imprensa (virtual), com a autora, diretor e parte do elenco.

Perguntada sobre o risco de levar ao ar uma obra já pronta, sem a possibilidade de aferir a aceitação do público, Lícia Manzo argumentou:

“Isso resultou em um tempo maior de feitura [roteiro e direção], no tempo de preparação do capítulo. Se eu tenho tempo para errar, provavelmente eu vou chegar em um resultado melhor, que infere em um cálculo maior (…) A gente tem uma segurança maior. A gente está trabalhando em um ritmo um pouco menos industrial e, nesse sentido, um pouco menos arriscado“.

Questionei Lícia sobre a escolha por uma trama tão recorrente em novelas. A autora foi enfática:

“Não acredito em trama repetida. Acredito em modo de contar. Acho que a autoria vem antes da história”.

“Vou tentar comunicar [ao público] como para mim é original. Porque não importa a troca [dos gêmeos]. Não é o fato o que está em jogo. É a repercussão do fato dentro dos personagens. Eu estou mais interessada na subjetividade dos personagens e nas camadas psicológica e social que esse jogo me traz”.

Lícia ainda assegura que não é seu objetivo inovar nada.

Eu não persigo uma novidade. Persigo uma história que me mova, que seja verdadeira para mim. E, nesse sentido, acho que ela é nova, porque é minha, porque nasceu de uma necessidade legítima minha de contar essa história”.

Lícia narrou como concebeu a trama de sua novela: “Na hora não lembrei de O Clone e Mulheres de Areia – embora sejam novelas ótimas que estejam no nosso imaginário, no meu também”.

Impactada com depoimentos de jovens que, ao completarem a maioridade tiveram de deixar o abrigo para menores onde foram criados, a autora, ao assistir ao documentário Meus 18 Anos, da GloboNews, começou a pensar a trama central de Um Lugar ao Sol.

Ao perceber na maioria daqueles jovens a esperança preservada de estudar e ter um futuro, uma pergunta me veio de imediato: no Brasil de hoje, com apenas 14% dos adultos com curso superior, cerca de 13 milhões de desempregados, e um quarto da população vivendo em situação de pobreza – serão seus sonhos realizáveis?”, refletiu a autora.

Lícia imaginou um protagonista nessas condições, com um sentimento de que as oportunidades lhe tivessem sido usurpadas.

A história era realista, me parecia boa, mas eu não tinha um elemento de folhetim. Ele quer outra vida, ele quer uma vida que foi vetada a ele. Como na história do duplo, que diz que todos nós temos, que alguém está vivendo a sua vida em algum lugar em uma trama paralela que não é a sua. E se essa outra vida existisse em algum lugar e ele ficasse obcecado por isso?”.

Então a história é muito mais sobre alguém que fica obstinado pela vida que foi roubada dele. Você pode pensar ‘ah, o gêmeo foi separado’, mas pode pensar também que no Brasil oportunidades são roubadas, diariamente, da maior parte da população, e que é legítimo que eles olhem pro outro lado com muita cobiça”.

Então minha tentativa é não vilanizar esse irmão que toma o lugar do outro. Ele não conspira, nem faz nada nesse sentido. Ele é um criminoso semiacidental”.

O diretor Mauricio Farias saiu em defesa da autora:

Lícia foi buscar a tragédia que passa por dentro do folhetim. Ela busca, dentro dessa trama aparentemente folhetinesca, as consequências da tragédia, o destino operando [sobre os personagens], que às vezes joga em um caminho que não tem mais como retornar. Como é a vida“.

Lícia usa o folhetim para fazer uma narrativa absolutamente contemporânea. Usa isso com uma elegância e uma precisão muito interessantes. A novela vem com vários avanços na narrativa. O mais interessante são os temas que acompanham, os assuntos que Lícia traz sob o formato do folhetim“.

Lícia: “A novela pode ser lida da proposta realista, mas é também um folhetim clássico”.

AQUI tem tudo sobre Um Lugar ao Sol: a trama, o elenco completo, personagens e muitas curiosidades.

Compartilhar.
Avatar photo

Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor