Autora errou feio ao transformar vilão em protagonista de Vai na Fé

Samuel de Assis como Ben em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Samuel de Assis como Ben em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Nas últimas semanas, Vai na Fé tem rodeado em torno de uma única trama: o julgamento de Theo (Emilio Dantas). Os últimos capítulos da história de Rosane Svartman ficaram debruçados sobre a luta de Sol (Sheron Menezzes), Jenifer (Bella Campos) e Ben (Samuel de Assis) para acabar com o abusador de mulheres.

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Samuel de Assis como Ben em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

O plot fez com que Vai na Fé perdesse uma de suas melhores características. Elogiada pela leveza com que narrava sua história, a trama ficou mais pesada desde que se aprofundou nas histórias de abuso sexual praticado pelo vilão. Além disso, o julgamento do Theo se estendeu além da conta, fazendo a novela andar em círculos.

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Novela sombria

Emilio Dantas como Theo em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Apesar de ser uma mulher solar (com o perdão da redundância), Sol guardava um lado obscuro dentro de si. No passado, ela sofreu abuso sexual de Theo, mas não tinha a real consciência do que de fato aconteceu. Com isso, ela se sentia culpada por ter se deixado ser abusada pelo vilão.

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Mas a heroína precisou revisitar o passado quando Jenifer descobriu que não era filha de Carlão (Che Moais). Diante dos questionamentos da filha, Sol teve que reabrir as feridas e encarar seu passado de frente. Foi durante este processo que ela se deu conta de que havia sofrido um estupro.

Esta trama se desenrolou até culminar com o julgamento de Theo, já que outras vítimas do abusador apareceram. Na reta final, os crimes do malvado passaram a tomar conta da narrativa, o que deu a Vai na Fé um clima mais pesado do que o habitual. Tanto que alguns capítulos são difíceis de assistir e disparam gatilhos no espectador.

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Não sai do lugar

Renata Sorrah (Wilma) e José Loreto (Lui) em Vai na Fé (Divulgação / Globo)

Além disso, toda a narrativa envolvendo a derrocada de Theo se estendeu além da conta. São tantas audiências, depoimentos e termos jurídicos que a narrativa acabou ficando um tanto aborrecida. Dá a impressão de que a novela estacionou.

O foco nos crimes de Theo é tanto que as tramas paralelas acabaram se tornando novelas à parte, desconectadas do eixo central da narrativa. Os núcleos andam patinando em enredos que parecem mera encheção de linguiça.

Basta observar a casa de Wilma (Renata Sorrah), há tempos às voltas com as filmagens de um longa-metragem. Ou a pousada, com o avanço da doença de Dora (Claudia Ohana). Ou ainda o plot chatinho envolvendo Guiga (Mel Maia), Yuri (Jean Paulo Campos) e o filho do casal que vem aí. A novela está estagnada.

Equilíbrio

Sheron Menezzes como Sol em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Porém, é importante salientar que a autora Rosane Svartman e sua equipe tem sabido tratar de um tema espinhoso como o abuso sexual com bastante equilíbrio e sensibilidade. Vai na Fé, inclusive, marca vários gols ao fazer uma abordagem tão didática e esclarecedora sobre um tema que ainda é um tabu.

A novela das sete da Globo colabora eficientemente com um debate urgente ao esclarecer vários pontos referentes ao abuso. A trama mostra o quanto a sociedade construiu uma “cultura do estupro” difícil de ser desmontada. Tanto que, até hoje, não falta quem “passa pano” para atitudes de homens abusadores, ao mesmo tempo em que culpa a vítima pela situação.

Vai na Fé acerta ao mostrar Theo como um homem carismático, bom amigo e sujeito acima de qualquer suspeita. Ao não pintá-lo com a aparência de monstro logo de cara, a novela joga luz sobre atitudes abusivas que, em condições “normais”, poderiam passar despercebidas.

“Barriga”

Emilio Dantas (Theo) e Carolina Dieckmann (Lumiar) em Vai na Fé (Reprodução / Globo)

Porém, conforme o assunto vai avançando, é natural que o clima “pese”. Nem poderia ser diferente. Apesar de ser uma novela das sete típica, com humor e romances, Vai na Fé trata de um assunto sério. Reduzir o tom colorido conforme a discussão ganha corpo é parte do processo.

Por outro lado, teria sido melhor se a trama envolvendo o julgamento de Theo não durasse tanto tempo. Se a derrocada do vilão tivesse sido mostrada de uma maneira mais ágil, Vai na Fé não passaria essa impressão de “barriga” em plena reta final.

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