Autora de Travessia ri dos próprios absurdos que escreve: “Não ligo”
18/10/2022 às 17h45
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Pobre de quem não sabe voar!”, declarou Gloria Perez ao rebater críticas que recebeu enquanto escrevia Salve Jorge (2012). Cada vez que a vilã Lívia Marine (Claudia Raia) matava seus inimigos com uma seringa na jugular, ou quando uma delegada recrutava uma escrivã para se infiltrar numa quadrilha de traficantes internacionais, vinham mais e mais críticas. Mas Gloria Perez preferia voar…
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Em Travessia, nova novela da autora, não é diferente. No primeiro capítulo, Guerra (Humberto Martins) conseguiu errar um tiro disparado há pouca distância de Moretti (Rodrigo Lombardi) que, por sua vez, escapou do inimigo pulando de uma janela de maneira quase suicida. E saiu intacto!
“É tudo tão despudorado”
LEIA TAMBÉM:
● Não merecia: rumo de personagem desrespeita atriz de Mania de Você
● Sucesso da reprise de Alma Gêmea mostra que Globo não aprendeu a lição
● Reviravolta: Globo muda rumo da maior tradição do Natal brasileiro
Mas, enquanto a internet aponta cada absurdo da novela, Gloria Perez ri. Uma matéria da Folha de São Paulo, publicada em 1º de setembro de 2005, revelou que a autora até se diverte com algumas das loucuras que escreve. Gloria relembrou uma sequência que concebeu para a novela Carmem (1987), da TV Manchete, na qual uma mulher dá seis tiros no marido, mas erra todos eles, mesmo estando próxima do alvo.
Ao ser perguntada se a cena de Carmem foi a mais absurda que já desenvolveu, Gloria disse que não, já que são vários os momentos do tipo que ela já apresentou ao longo de sua carreira.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“É tudo tão despudorado”, cravou.
Folhetim
Em 30 de março de 2017, quando se preparava para estrear A Força do Querer, Gloria Perez falou à Folha sobre a maneira como escreve seus folhetins. Segundo a autora, o segredo era não temer o ridículo.
“Se você tem medo de ser ridículo, não faz nada na vida”, admitiu. “Novela é folhetim. E para escrever folhetim você tem que ser muito desavergonhado. Porque você precisa usar os truques do folhetim sem medo e vergonha, senão você não faz. Não tem nenhuma história do mundo que renda 200 capítulos para você contar. Só vai conseguir através do truque, uma característica do gênero. Não ter vergonha de fazer novela é não querer transformá-la numa série, em algo que ela não é”, analisou Gloria.
Gloria contou ainda que o truque do folhetim é copiado até pelas séries, que são menos cobradas pelo público do que as novelas.
“O folhetim tem uma regra básica, o sensacionalismo tem que estar acima da coerência. E isso o pessoal das séries americanas pegou completamente para si. Eles usam do sensacionalismo de forma fantástica. Não tem coerência, mas você não quer nem saber, porque cumpre a função do folhetim, de te pegar pela emoção. Tem essa série How to Get Away with Murder, se a gente fizer isso em novela… A mulher mata uma pessoa, à noite, os alunos limpam tudo e quando chega a polícia, tá tudo limpo. Entendeu?”, arrematou a novelista.
“Não ligo para os críticos”
Além de rir de si mesma, Gloria Perez também revelou que não se importa com o que a crítica aponta sobre suas novelas. Para ela, o importante é que o público embarque na emoção.
Em 2005, enquanto lançava América, Gloria falou sobre sua relação com a crítica numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, de 13 de março daquele ano. Quando a repórter Etienne Jacintho colocou que Gloria era acusada pela crítica de ser muito populista, a autora disparou:
“Eu não ligo para crítico, dou ibope”.
“Acho que a maioria dos críticos no Brasil não gosta de TV, mas sim de cinema. Tradicionalmente a elite sempre rejeitou o que é popular. Mas essa questão não me interessa em nada. Novela é feita para o grande público e é esse público que eu quero atingir”, arrematou a autora de Travessia.