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Após fazer sucesso no Globoplay, Todas as Flores chegou à TV Globo, possibilitando que um público maior descubra a trama escrita por João Emanuel Carneiro. O autor conseguiu dar a volta por cima com a produção, após amargar a má recepção de A Regra do Jogo (2015) e Segundo Sol (2018).
No entanto, apesar de apresentar um enredo envolvente e dinâmico, Todas as Flores tem seus defeitos. O maior deles é a presença de tramas secundárias ruins, que parecem perdidas em meio ao arco central, que, por sua vez, é bastante forte. Poucos foram os destaques, como a história envolvendo Patsy (Suzy Rêgo) e Mauritânia (Thalita Carauta).
Mas não é a primeira vez que Carneiro derrapa na concepção de tramas paralelas. Aliás, todas as suas novelas tiveram exatamente o mesmo problema.
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Ponto fraco
Em Todas as Flores, é possível se deliciar com as maldades debochadas das vilãs Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letícia Colin), além de torcer pela volta por cima de Maíra (Sophie Charlotte) e Diego (Nicolas Prattes). A história central do folhetim, embora rocambolesca, é bastante envolvente.
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Mas não se pode dizer o mesmo das tramas paralelas da produção. Os enredos secundários de Todas as Flores são todos ruins, com personagens pouco carismáticos que passam capítulos a fio presos em tramas desinteressantes e repetitivas.
A história da família de Oberdan (Douglas Silva) é o maior exemplo disso. Tudo gira em torno dos casos extraconjugais do músico, que trai a mulher Jussara (Mary Sheila) sempre que tem oportunidade. Há aqui uma pretensa tentativa de fazer humor, mas que não funciona. Aliás, a trama chega a resvalar no mau gosto, com contornos machistas que incomodam bastante.
O núcleo da Gamboa também não diz a que veio. A casa de Darcy (Zezeh Barbosa), onde vivem Chininha (Micheli Machado), Darci (Xande de Pilares), Brenda (Heloísa Honein) e Javé (Jona Burjack), não chama a atenção.
Erro que se repete
Desde Da Cor do Pecado (2004), sua primeira novela, João Emanuel Carneiro demonstra dificuldade em criar tramas paralelas interessantes. Na verdade, o autor acabou ficando conhecido por criar núcleos que mal se conectavam com o restante da história.
Na trama estrelada por Taís Araújo, por exemplo, havia a história de Pai Helinho (Matheus Nachtergaele), que corria no Maranhão enquanto o restante da trama era situada no Rio de Janeiro. O núcleo só se conectou com o restante do enredo no início da novela e na reta final. Verinha (Maitê Proença) e Eduardo (Ney Latorraca), um casal de golpistas, também viviam situações que nada tinham a ver com o restante da trama.
Em Cobras & Lagartos, a situação se repetiu com a família de Eva (Eliane Giardini), que parecia viver num universo paralelo. O mesmo aconteceu em A Favorita (2008), com núcleos como o de Maria do Céu (Deborah Secco) e Orlandinho (Iran Malfitano).
Já em Avenida Brasil (2012), Cadinho (Alexandre Borges) e suas três mulheres também ficaram distantes da trama central durante um bom tempo. A única conexão da história com o restante da trama era Débora (Nathália Dill), filha de Cadinho que era namorada de Jorginho (Cauã Reymond), o filho de Tufão (Murilo Benício).
Mais erros
Os núcleos paralelos criados por João Emanuel Carneiro atingiram o auge da “ruindade” em A Regra do Jogo. O Morro da Macaca abrigava várias histórias de humor que giravam em círculos, envolvendo personagens como Merlô (Juliano Cazarré), Rui (Bruno Mazzeo) e Oziel (Fabio Lago). Outro núcleo que irritava era o da família de Feliciano (Marcos Caruso).
Em todas essas novelas, haviam tramas centrais tão fortes que as histórias paralelas – que já eram ruins – acabavam ficando ofuscadas. Mas, com Segundo Sol (foto acima), a coisa praticamente se inverteu, já que a história central é que era ruim, assim como a maioria dos núcleos paralelos. A única trama que se “salvou” foi a que envolvia Edgar (Caco Ciocler) e Roberval (Fabricio Boliveira), dois irmãos separados por diferenças sociais graves.
Apesar das muitas críticas recebidas em suas novelas anteriores, João Emanuel Carneiro ainda não se mostrou capaz de criar histórias paralelas minimamente interessantes em suas novelas. Todas as Flores é um claro exemplo de que este problema permanece. Ao menos, o autor costuma acertar no enredo central. Melhor que nada.