• Lembra que reclamei, na última review, que a trama de Sonho Meu havia estagnado já em sua segunda semana? Acho que, à época, algum alarme deve ter soado, porque a história deu passos largos na terceira semana: Geraldo e Cláudia se encontraram com a filha Maria Carolina (separadamente). O autor preferiu não maturar essa catarse e já queimar munição. O que é bom e recomendável, quando a trama está parada.

Tio Zé, em vez de artesão, deveria ser detetive particular. Foi para o Rio de Janeiro com um nome – Geraldo Vieira, super comum -, e descobriu em qual cadeia o pai de Laleska estava preso. Mexeu os pauzinhos e conseguiu libertá-lo e trazê-lo para Curitiba.

Na sequência, Tio Zé concluiu que Cláudia, a mãe da menina, viria no dia tal ao banco tal depositar um dinheiro – depósito este que poderia ser feito de várias outras maneiras, mais comuns, sem a necessidade de dirigir-se ao banco. E que sorte encontrá-la de primeira! Detetive eficiente e sortudo.

• No capítulo de quarta-feira, antes do encontro de mãe e filha, houve toda a explicação dos desentendimentos de Geraldo e Cláudia. O marido acreditou em uma calúnia, de que sua mulher o traía com um colega de trabalho, e, bêbado, bateu nela. Era a preparação de terreno para o que viria depois: encontro de mãe e filha. Percebe como o autor trabalha a emoção do público?

• Emocionante a cena em que Cláudia encontra a filha! Quer dizer, em que Tio Zé descobre Cláudia e leva Laleska ao encontro da mãe, na igreja. Há todo um contexto religioso envolvido, com evocação de fé, milagre e palavras do gênero. O autor apela para a religiosidade do espectador para contrapor a lógica. “Alguma coisa me puxava para essa cidade“, disse Cláudia mais de uma vez.

• Interessante que Jorge, a princípio, usa Cláudia para atingir o irmão, mas acaba envolvido por ela, que, por sua vez, o usa para alcançar seus objetivos. No caso, aceitou o anel caríssimo e correu vendê-lo para levantar uma grana para a filha. É uma mãe que usa caminhos um tanto tortos para ajudar sua criança. Podemos julgá-la? Veremos como o autor conduz esse entrecho, porque sabemos que, mais adiante, a personagem Claudia sofre rejeição do público.

• Maria Carolina está doente. Não é explícito ainda, mas a menina tem leucemia. Achei pesado para uma novela de apelo infantil. Para ser sincero, eu nem lembrava que a menina era doente. Como me recordo pouco da novela, essa trama será inédita para mim, pois não tenho a menor lembrança do desenrolar desse entrecho.

• Semana passada comentei o quanto algumas tramas paralelas, ou de alívio de cômico, são fracas. Até surgir o “drama” do Dr. Fontana ao lidar com o filho “esquisitão” Santiago. O personagem de Ângelo Paes Leme é outro que eu não tinha a menor recordação. Sei não, acho que não rende nada, porque é muito sem sentido!

• Eu ri quando Jorge fala para Alice: “Você é uma guria fantástica“. Os termos “guri” e “guria” são até usados no Paraná, mas são mais famosos em Santa Catarina e Rio Grande do Sul – onde, inclusive, se usa mais comumente o “tu”, em vez de “você”. Então soa estranho ouvir “Você é uma guria fantástica“.

Também a expressão “guria” não está bem empregada. Fala-se quando se quer referir a outra pessoa – exemplo: “Aquela guria é fantástica“,- e não para o interlocutor. Enfim, só quem é da região pesca essas pequenas sutilezas do uso da língua e de expressões locais.

• Alice é amiga fura-olho de Cláudia. Dá em cima de Jorge deliberadamente. “Eu aqui e você preocupado com uma echarpe“. Sonsa!

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor