A série A Cara do Pai, estrelada pelo comediante Leandro Hassum, foi criada e concebida pelo roteirista Paulo Cursino que, por divergências com a produção do programa, acabou pedindo demissão da Globo.

O humorístico foi exibido pela emissora entre 2016 e 2017 e foi planejado pelo escritor, que se inspirou em fatos de sua vida pessoal, para ser estrelado pelo comediante Leandro Hassum, segundo ele o artista ideal para viver o protagonista da série.

Contudo, a relação de trabalho entre Cursino e a produção do canal não foi das melhores, o que fez com que ele pedisse demissão da Globo dias antes do programa ir ao ar.

Dor de corno

Por conta disso, a emissora convocou Daniel Adjafre para assumir a roteirização do projeto. Logo de cara, o autor promoveu inúmeras mudanças no roteiro dos primeiros episódios que Cursino (foto acima) já havia escrito.

“Era um seriado autoral, mas a gente aprende a desapegar depois de um tempo. É claro que fica aquela dor de corno de ver no ar algo que é seu”, desabafou Cursino ao jornalista Daniel Castro do Notícias da TV em 8 de dezembro de 2016.

O seriado narra o relacionamento do comediante de stand up recém-divorciado Théo (Leandro Hassum), pai da pré-adolescente Duda (Mel Maia). O comediante volta a morar com o pai, Aldair (Walter Breda), e vive passando mico na frente da garota.

Apesar de A Cara do Pai lembrar a série norte-americana Loius C.K, sobre um artista de stand up (Louie), separado e pai e duas filhas, Cursino garante que é o seu DNA que está no texto.

“É a minha experiência que está ali. A minha filha é um pouquinho mais nova do que a Mel Maia. Eu vejo minha filha todo final de semana e no meio da semana às vezes ela vem pra cá, mas a impressão é que você perde alguns detalhes do crescimento dela. É essa brincadeira de você não saber mais lidar com a filha, do jeito que você lidava antes. É um seriado muito mais carinhoso, pai e filha”, afirmou.

Desencontros

Eduardo Melo

A situação entre Paulo Cursino e a Globo se tornou insustentável devido a uma série de desencontros nos bastidores, logo após a entrega dos quatro primeiros episódios.

“Na época, eu falei pra Globo: ‘Eu gostaria de desenvolver mais episódios, independentemente de entrar no ar ou não’. E aí a Globo foi muito categórica. Falou: ‘Não, nós vamos primeiro colocar esses quatro episódios no ar, ver qual vai ser a audiência, e aí você escreve o restante’. Eu falei ‘Okay’”, relembrou ele ao Notícias da TV.

“Isso foi em abril, entrei em outros projetos. Quando chegou agosto, a Globo me chamou e disse que tinha ‘uma oportunidade boa de botar o seriado lá na grade fixa de 2017’. É tudo o que um autor gostaria de ouvir”, completou.

Foi aí que o roteirista de filmes campeões de bilheteria do cinema nacional, como De Pernas pro Ar (2010) (foto acima) e Até que a Sorte Nos Separe 1 e 2 (2012-2013), se assustou com a encomenda da emissora, que exigiu dele 12 episódios para serem entregues até outubro e gravados entre novembro e janeiro.

“Eu tomei um susto. Caramba, 12 episódios de humor em três meses?”, relatou ele, que questionou quem iria fazer parte da equipe de colaboradores.

“Não, não tem equipe. Queremos que você escreva sozinho”, teria respondido a direção do canal. “Aí eu falei: ‘Não acho muito viável’”, respondeu.

Demissão

Ao constatar que o seu projeto não estava “sendo tratado como deveria” e após uma negociação turbulenta, Paulo Cursino decidiu entregá-lo para outro profissional e se desligar da Globo, onde trabalhou em programas de repercussão como Zorra Total (ao lado de Adjafre), A Grande Família (foto acima), Sob Nova Direção, entre outros.

“É um projeto do qual eu me orgulho muito, mas que passou por um processo muito atabalhoado. Por exemplo, a gente começou com Pedro Vasconcelos como diretor, um diretor com quem tenho muita afinidade, mas que saiu, foi pra novela da Gloria Perez. Num dado momento, me vi sem um diretor em quem confiava e sozinho, sem autores disponíveis para trabalhar. Me sugeriram dois ou três autores lá dentro, com quem não estava acostumado a trabalhar, então acabei saindo”, argumentou o artista.

Apesar de uma saída tensa, Cursino afirmou que as portas da Globo estão abertas para ele. No entanto, o autor não pensa em voltar à TV tão cedo. Cursino preferiu se dedicar ao cinema, como na continuação do longa O Candidato Honesto (2014), estrelado pelo Leandro Hassum, que foi lançado em 2018.

Compartilhar.
Avatar photo

Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor