Autor nunca se recuperou de fracasso de novela: “Humilhação diária”
28/10/2022 às 12h45
Há um ano, em 26 de outubro de 2021, morria Gilberto Braga. O autor não deixou apenas saudades pela sua partida, mas também do seu modo de escrever e do recurso de suspense de “quem matou?” que sempre utilizava em suas obras. Ele não queria de jeito nenhum se despedir com o fracasso de Babilônia (2015) e deixou obras inéditas que, até hoje, são desconhecidas do público.
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Babilônia não teve bons resultados, o que fez Gilberto se sentir humilhado por perder para a novela das sete da época. Indagado em entrevista sobre o que gostaria de receber de presente de aniversário em seus 70 anos, o autor foi enfático: “Vencer I Love Paraisópolis”.
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Em entrevista ao jornal O Globo em 31 de maio de 2015, Gilberto Braga disse que sentia humilhado por perder para I Love Paraisópolis, novela das sete.
“Basicamente, a novela chocou por causa do beijo gay e porque tinha pouco amor e muito sexo. Mas não foi só o beijo. Foi incontável o número de pessoas com quem a Gloria Pires fez sexo. O primeiro capítulo tinha coisas chocantíssimas. Mas depois das mudanças, a audiência não subiu em São Paulo. Até agora eu sofro a humilhação pública diária de perder para a novela das 19 horas”, declarou.
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Por trás do fracasso de Babilônia
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O autor fracassou com Babilônia e teve a trama revirada de todos os lados, uma tentativa da emissora de reverter a rejeição do público para com a história. Ainda assim, Gilberto conseguiu preservar cerca de 80 capítulos inéditos da novela antes das mudanças realizadas pela alta cúpula do canal.
Esses textos estão guardados a sete chaves até hoje e ninguém teve acesso. Porém, eles são muito importantes, pois revelariam como a novela seria originalmente sem as mudanças impostas pela equipe de Silvio de Abreu, até então diretor de dramaturgia da Globo.
João Ximenez, colega do autor e seu confidente, foi quem revelou a existência desses textos à jornalista Cristina Padiglione, como forma de protesto para que a emissora disponibilize o projeto, até mesmo para pesquisadores conhecerem a verdadeira Babilônia escrita por Gilberto.
Obsessão
Ainda segundo João, desde então o autor passou a ter uma espécie de obsessão por superar o fracasso da novela das nove, que até aquele momento detinha o título de pior Ibope da história, graças a uma média geral de 25,5 pontos. Hoje, esse título fica a cargo de Um Lugar ao Sol, que acumulou 22,3 pontos durante a sua exibição entre 2021 e 2022.
Desde o fiasco, Gilberto se dedicou a novos projetos que pudessem fazê-lo recuperar o seu prestígio junto ao público e apagar o fracasso de sua última trama. Parecia haver uma pressa para tal.
Mas, todas as suas investidas acabavam sistematicamente canceladas na emissora e o autor acabou não conseguindo emplacar nada antes de sua morte.
Projetos inéditos
Gilberto Braga trabalhou em três projetos: uma minissérie sobre Elis Regina, que acabou esquecida em razão de um filme que foi realizado em 2016; um remake da novela Brilhante, de 1981, que agora se chamaria Intolerância; e um projeto inédito chamado Feira das Vaidades, que seria uma novela das seis e que já estava na fila de produção, mas acabou cancelada.
João Ximenez chegou a declarar que todos os capítulos de Intolerância chegaram a ser escritos, mas que o projeto foi sendo adiado até ser cancelado de vez, e que isso foi feito pelas mesmas “forças” que haviam destruído Babilônia. Foram 60 capítulos originais entregues à direção da Globo.
Ele ainda sugeriu que a emissora poderia produzir o título como uma homenagem póstuma, até mesmo para o Globoplay, ou simplesmente disponibilizar para consultas e pesquisas. O fato é que Gilberto Braga deixou obras inéditas e o público tem direito de conhecê-las.
Já a sua vida como um todo está perto de ser lançada em uma biografia que estará a cargo do jornalista Maurício Stycer – que assumiu a tarefa após a morte do biógrafo original Artur Xexéo. A publicação tem previsão para ser lançada em 2023.