Em 2002, a Globo tentou repetir o sucesso de Terra Nostra (1999) com Esperança, de Benedito Ruy Barbosa. No entanto, a novela das oito não foi bem recebida pelo público e teve os mais variados problemas em sua trajetória, incluindo a substituição do autor, que quase resultou numa briga.

A novela estreou com consideráveis 47 pontos e picos de 51 pontos, desempenho similar ao da antecessora, O Clone (2001).

No segundo capítulo, contudo, os índices despencaram para 40. Surgiram os primeiros comentários acerca do “luto” do público, afeito à novela anterior, e dos desajustes entre Benedito e Luiz Fernando, desmentidos por ambos com direito à carta aberta para o elenco.

O folhetim sobreviveu às férias escolares e ao horário político, com índices próximos aos 40 pontos. Mas a Globo preferia enaltecer os feitos da novela publicando os números do share (participação no total de televisores ligados), mais “impressionantes” – um indicativo de que o desempenho estava aquém do esperado. O primeiro grupo de discussão trouxe queixas sobre a iluminação escura e, pasmem, a falta de proximidade com Terra Nostra.

A audiência minguou de vez com a excessiva quantidade de flashbacks, cenas de transição – aquelas que não servem para nada além de indicar uma curta passagem de tempo – e filmes em preto-e-branco das greves ocorridas na década de 1930. Recursos que serviam para preencher os capítulos, entregues em cima da hora pelo autor.

Em setembro, jornais e revistas deixaram de publicar os resumos da semana porque a Globo, simplesmente, não tinha o que divulgar. Cenas gravadas pela manhã eram exibidas no mesmo dia à noite; ventilou-se, inclusive, a possibilidade de encurtar Esperança e substituí-la pela minissérie A Casa das Sete Mulheres, então em produção – a emissora chegou a tentar a reclassificação da obra, para levá-la ao ar mais cedo.

Em dezembro de 2002, a novela chegou a então preocupantes 27 pontos num sábado, com o elenco gravando mais de 12 horas por dia. As dificuldades de produção e as queixas da equipe tornaram-se públicas. Não deu mais para Benedito.

Beatriz Segall, em participação especial como Antônia (mãe de Murruga), gravou o suficiente para concluir, em entrevista a Hebe Camargo: “É uma tremenda falta de respeito com o ator entregar o texto daquele jeito”. Benedito revidou: “Não fui eu quem a escolheu para fazer o papel. Para mim, ela é a eterna Odete Roitman”, referência à clássica vilã de Vale Tudo (1988).

Autor substituído

O autor estava extenuado, com inúmeros problemas pessoas – a mãe há tempos no CTI por problemas pulmonares; ele, enfrentando conflitos com o cigarro, ainda se acidentou com o carro. Não houve jeito. Benedito se afastou da novela e Walcyr Carrasco assumiu o posto de titular, embora as notícias insistissem em tratar o esquema como “colaboração”.

A princípio, Benedito Ruy Barbosa definiu Walcyr Carrasco como “um ótimo autor e de um belo caráter”. Depois, em entrevista ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes, se declarou insatisfeito.

“O que aconteceu em Esperança é que tive problemas de saúde. Na época, cheguei a trabalhar 14 horas e a fumar quatro maços por dia. Não é à toa que caí doente. Para piorar a situação, perdi meu irmão e minha mãe adoeceu. Fiquei muito mal. Não tinha condições de continuar escrevendo. Imagina… Felizmente, a Globo entendeu. Pôs lá um ator que mudou tudo, mas… (pausa) se eu continuasse escrevendo, teria morrido”, explicou, se referindo a Carrasco.

“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele”, enfatizou.

“Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo] e disse ‘avisa o Walcyr que quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’. Ele simplesmente acabou com minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! O sujeito andava ressabiado comigo. No fim, tudo terminou bem. Acendemos o charuto da paz”, completou.

À frente de Esperança, Walcyr alterou substancialmente o perfil de alguns personagens – como Farina (Paulo Goulart) e Justine (Gabriela Duarte em ótimo trabalho), temporariamente convertidos em vilões. Também trouxe novos tipos, como a tia e a prima de Murruga (Jussara Freire, Amália, e Luciana Braga, Adelaide) e investiu em sequências de erotismo.

A novela reagiu: embora tenha chegado ao fim com uma das piores médias da faixa naquele tempo (38 pontos), a trama voltou aos 40, batendo os 45, 51 e 50 de média, respectivamente, nos últimos três capítulos, nunca sendo reprisada pela Globo.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.