Quando alguém menciona a novela Paraíso Tropical, qual personagem lhe vem à mente? Muito provavelmente você responderia: a prostituta Bebel (Camila Pitanga) e o canalha Olavo (Wagner Moura). Porém, os protagonistas da trama de Gilberto Braga, exibida originalmente em 2007, eram outros: Paula (Alessandra Negrini) e Daniel (Fábio Assunção). O que explica, então, o sucesso avassalador da nossa versão brasileira do casal protagonista de Uma Linda Mulher?

Um ano após o desfecho da novela, o autor, em entrevista no Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro fez várias revelações bombásticas sobre a sua própria carreira, e não poupou críticas à estrela de sua última novela na época.

Braga explicou que, originalmente, gostaria que sua parceira Cláudia Abreu tivesse vivido as gêmeas que protagonizaram o folhetim. No entanto, na época, a atriz engravidou e não pode aceitar o papel.

“Alessandra Negrini é competente, só não tem a empatia e o carisma da Cacau. Ela faz um pouco demais, não é minha praia. É boa: ganhou prêmio pelo filme do Bressane. Mas os prêmios todos da novela foram para a Camila Pitanga e para o Wagner Moura”, disse o autor, sem papas na língua.

Ele ainda ousou falar mais, desmerecendo o trabalho da atriz na novela. “Se Cláudia tivesse feito as gêmeas, todos os prêmios seriam dela”, completou.

Por não estar satisfeito com a escalação, especula-se que o autor tenha dado um destaque um pouquinho maior ao casal coadjuvante. Na trama, Camila Pitanga era uma prostituta que foi da Bahia ao Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades. Lá, ela conhece o ambicioso Olavo e se apaixona. Eles vivem mil aventuras e ficam juntos no final.

Se não fosse o ‘quase’

E por falar em Camila Pitanga, a atriz quase não viveu a icônica prostituta. Mariana Ximenes foi o primeiro nome pensado pelo autor para viver a personagem. Ela declinou, alegando estar fazendo um papel atrás do outro, e Pitanga foi o nome sugerido pela direção da emissora para substituí-la.

De início, o autor revelou que odiou a ideia: “Eu achava que a Camila Pitanga não era capaz de fazer a Bebel porque não é safada – e não é mesmo, é boa moça”, disse o escritor ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo.

Ainda pelos idos de 2007, Camila Pitanga soube do papel e ligou para Braga para reivindicar o cargo. “Foi nessa conversa que eu acho que ganhei a Bebel”, disse a atriz em entrevista à Folha.

“Não foi uma conversa extensa”, afirma. Na entrevista, Pitanga recordou mencionar estar muito animada para se desconstruir e vestir a máscara da personagem na época. Mesmo com tantos argumentos apresentados ao famoso novelista, ela diz acreditar que conseguiu o papel por ter demonstrado que queria fazê-lo.

“Foi na base do afeto, do desejo, do querer e de eu declarar o meu querer. Eu nunca tinha feito isso antes [de pedir um papel a um autor]”, destaca.

E o resto todos nós já sabemos: Camila Pitanga e Wagner Moura ganharam o prêmio de melhor ator e atriz de televisão de 2007 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) — ela dividiu o troféu com Jussara Freire (“Vidas Opostas”, Record) e ele com Marcelo Serrado (por “Vidas Opostas” e a série “Mandrake, da HBO).

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Alexandre Pequeno é jornalista e apaixonado pelas novelas brasileiras desde a infância. A paixão foi tanta que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. Em 2018, lançou o canal Novelando, onde aborda, de forma bem humorada, sobre as tramas que marcaram a história da TV. Já publicou contos e crônicas em antologias nacionais Leia todos os textos do autor