Zamenza

O remake de Pantanal vem sendo muito bem adaptado por Bruno Luperi. O autor vem honrando a obra de sucesso de Benedito Ruy Barbosa, seu avô, exibida em 1990 na Rede Manchete. As alterações na história são sutis, o que até facilita as comparações com a versão original através de vídeos na internet. Justamente por não ter optado em maiores mudanças que o escritor manteve a morte de Madeleine no enredo 32 anos depois. E foi aí que errou feio.

Pantanal

Após ter protagonizado discussões com Irma (Camila Morgado) e Mariana (Selma Egrei) no Rio de Janeiro, a mãe de Jove (Jesuíta Barbosa) morreu em um trágico acidente. A personagem entrou em um avião de pequeno porte e foi atrás de José Leôncio (Marcos Palmeira).

Arrependida de ter largado aquela vida há 20 anos, Madeleine tentou fazer as pazes com o filho e ainda se reconciliar com o ex. Mas o tempo ruim provocou a queda do avião, que não deixou sobreviventes. A cena foi muito bem realizada e Karine deu um banho de emoção com a personagem fazendo um breve retrospecto sobre sua vida.

Autor magoado

Pantanal

Em 1990, foi exatamente a tragédia que encerrou o ciclo da ricaça. Porém, não era o plano de Benedito Ruy Barbosa. O autor queria que Madeleine sobrevivesse ao acidente graças ao Velho do Rio (vivido por Cláudio Marzo na época e por Osmar Prado atualmente). E seria uma virada incrível para a personagem que sempre teve uma vida de futilidades. O objetivo era expor o descobrimento de uma nova vida, assim como ocorreu com Joventino no Pantanal, com um outro olhar.

Mas Ítala Nandi, intérprete de Madeleine, pediu para sair da novela porque já tinha acertado sua participação em um filme. A atriz recentemente em uma entrevista ao Jornal Extra, do RJ, chegou a dizer que até hoje o autor guarda mágoa dela.

Ao manter o trágico desfecho, Bruno Luperi perde a chance de inserir um diferencial em seu remake e finalmente concluir o que seu avô tinha planejado há 32 anos.

Mudança inesquecível

Éramos Seis

No remake de Éramos Seis, em 2019, por exemplo, Ângela Chaves manteve toda a estrutura da trama de Silvio de Abreu e Rubens Edwald Filho, mas o final de Dona Lola (Glória Pires) não foi sozinha, abandonada pelos filhos. Foi ao lado de seu grande amor, Seu Afonso (Cássio Gabus Mendes), e em um novo arranjo familiar. Uma mudança que jamais será esquecida.

Assim como aconteceu no folhetim das seis, o público poderia ter algo para lembrar da adaptação de Pantanal: a versão que Madeleine não morre e tem um final feliz. Até porque a filha de Mariana (Selma Egrei) nunca foi uma vilã que merecesse ‘punição’.

Aliás, o autor foi feliz na adaptação que fez na vida da personagem. Em 1990, era uma perua que não fazia nada da vida. Em 2022, virou uma influencer, o que fez todo sentido com a época atual. Mas a mãe de Jove fingia uma felicidade que nunca teve.

Egoísta e mimada, a ex de Leôncio só se importava com ela mesma, mas nem assim tinha prazer. Sua vida era vazia. E não deixa de ser algo bastante real na vida de muitos dos ‘influencers’ que vendem uma vida perfeita nas redes. A trajetória de Madeleine seria muito mais impactante se tivesse sido salva pelo Velho do Rio e encarasse uma nova realidade por conta da experiência traumática de uma quase morte.

Auge da carreira

Karine Teles

A saída de Karine Teles é outra infeliz questão oriunda da decisão do autor. A atriz lembrava Bruna Linzmeyer em várias cenas e a semelhança das duas impressionava. Foi o perfil que representou a passagem de tempo de 20 anos da forma mais crível da trama. E como a personagem só tinha amadurecido por fora e não por dentro, os trejeitos vistos na primeira fase com Bruna ficavam ainda mais explícitos com Karine.

Premiada no cinema (sua atuação em Que Horas Ela Volta? e Benzinho é irretocável) e no teatro, a intérprete vivia seu melhor momento na televisão, após pequenas participações em novelas e séries. Suas sequências com Selma Egrei, Camila Morgado e Jesuíta Barbosa eram ótimas e a parceria com Silvero Pereira, embora breve, funcionou.

A morte de Madeleine é o primeiro grande equívoco do remake de Pantanal. Bruno Luperi deixou escapar a oportunidade de imprimir algo marcante e diferenciado na obra, sem prejudicar o conjunto tão bem elaborado por seu avô. Ainda perdeu Karine Teles, que abrilhantava o elenco. Pena.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor