Autor de Pantanal recusou outro remake na Globo: “Não me senti à vontade”
25/07/2022 às 16h47
Se hoje a Globo colhe os louros do remake de Pantanal, em 2 de janeiro de 1995, a emissora iniciava a exibição do remake de Irmãos Coragem, produção que abriu as comemorações de suas três décadas de existência.
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Apesar de não ter obtido os índices de audiência almejados pela emissora, a segunda versão deste clássico de Janete Clair, que terminava em 30 de junho do mesmo ano, reserva inúmeras histórias de bastidores.
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Confira algumas abaixo:
Autor de Pantanal foi o primeiro cotado
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Quando a Globo enfim se decidiu pela regravação da novela – após duas tentativas frustradas, em 1989 e 1993 – José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, procurou Benedito, colhendo os louros de seu brilhante trabalho em Renascer (1993) e já envolvido com O Rei do Gado (1996).
Autor de Pantanal, cuja nova versão atualmente está sendo exibida pela emissora, Barbosa recusou a incumbência:
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“Não me senti à vontade para mexer no universo de Janete Clair. É quase uma intromissão”, declarou ao jornal Folha de São Paulo, de 14 de setembro de 1994.
Boni então recrutou Dias Gomes, viúvo de Janete, que só aceitou retomar o texto por ser esta “a deixa que os diretores da Globo encontraram para homenagear Janete. Ela merece – colocou muitos tijolos no edifício do Jardim Botânico“, disse, na mesma matéria.
Dias esteve à frente dos primeiros vinte capítulos; Marcílio Moraes, Ferreira Gullar e Lílian Garcia conduziram o barco – auxiliados, posteriormente, por Antônio Mercado e Margareth Boury.
Patrícia Pillar recusou o convite para viver a protagonista Lara
A princípio, a atriz chegou a topar o “papel triplo” – Lara sofria de distúrbio de personalidade: sempre agia de forma contida como a tia Dalva (Suzana Faini), mas era tomada pelo destempero, tal e qual a mãe Estela (Eliane Giardini), quando “dominada” por Diana; por fim, unia as duas mulheres que a “habitavam” em uma terceira, a equilibrada Márcia. Letícia Sabatella acabou se encarregando da personagem, após se submeter a testes com o diretor Luiz Fernando Carvalho.
Marcos Palmeira foi a primeira e única escolha para João Coragem; já para os outros irmãos do título, Jerônimo e Duda – defendidos por Ilya São Paulo e Marcos Winter – foram cotados Cássio Gabus Mendes, Marcos Frota e Maurício Mattar.
Chico Diaz surgiu nas primeiras listas de elenco como o delegado Rodrigo, posteriormente entregue a Giuseppe Oristânio. Bernadete Lys, então esposa de Dias Gomes, chegou a gravar como Cema, mas acabou substituída por Denise Milfont.
Glória Menezes e Tarcísio Meira foram convidados
Do elenco da trama de 1970, participaram da nova versão Cláudio Marzo (Duda / Coronel Pedro Barros), Emiliano Queiróz (Juca Cipó / Dr. Maciel) e Suzana Faini (Cema / Dalva). Para reverenciar o original, as equipes de texto e direção desenvolveram pequenas participações, quase figuração, para nomes como Cláudio Cavalcanti, Regina Duarte e Zilka Salaberry.
Cláudio, o Jerônimo de 1970, surgiu como o motorista do ônibus que levava o Jerônimo de 1995 para o Rio de Janeiro; chegando na rodoviária, o irmão Coragem “do meio” se depara com Zilka, uma vendedora de cafezinho – na primeira versão, a atriz respondia por Sinhana, a chefe do clã central; no remake, a cargo de Laura Cardoso (também presente na cena). Já Regina era a prostituta em quem Ritinha esbarrava ao sair de uma boate; a jovem defendida pela “namoradinha do Brasil” em 1970 fora entregue à sua filha, Gabriela Duarte, em 1995.
Apenas Glória e Tarcísio, embora cotados, não gravaram. Glória – que viveria uma beata com quem Lara cruzava na igreja – estava comprometida com a novela das 20h, A Próxima Vítima; Tarcísio vinha da estafante Pátria Minha, também das 20h.
Um diamante de verdade fora encontrado na locação
A produção escolheu um garimpo real, em Extração – cidadezinha a dez minutos de Diamantina, Minas Gerais -, para ambientar a fictícia Coroado. Na véspera do primeiro dia de gravações, o filho de um garimpeiro da região pisou no cascalho e acabou se deparando com uma pedra bruta.
O episódio emocionou o produtor executivo, Sérgio Madureira, e os 80 profissionais que participaram da primeira bateria de cenas no local, conforme conta matéria do jornal O Globo, de 11 de dezembro de 1994.
A conturbada saída do diretor geral
A ideia, a princípio, era entregar a produção aos parceiros Mauro Mendonça Filho e Carlos Araújo. O insucesso do remake, contudo, acabou implicando numa drástica mudança de estilo. Maurinho fora demitido. E o remanescente Carlos passou a responder a Reynaldo Boury, tarimbado profissional da casa, atualmente responsável pela teledramaturgia do SBT.
A morosidade da narrativa e a pobreza estética foram apontadas como causadoras da fuga de telespectadores; além, claro, da equivocada opção pelo horário das 18h, onde figuram folhetins “água-com-açúcar”, diferentes de ‘Irmãos’, uma trama masculina adequada à faixa das 20h. Boury deu “ritmo de novela” ao enredo e repaginou cenários e figurinos – segundo ele, era impossível, por exemplo, o jogador de futebol Duda manter a mãe Sinhana num casebre caindo aos pedaços e usando roupas esfarrapadas.
A estreia de Malhação ajudou a turbinar os índices
Os primeiros cinco capítulos da soap opera tupiniquim auxiliaram Irmãos Coragem, então em processo de reestruturação, a reconquistar o público. A audiência da trama das 18h, que girava em torno de 30 pontos na Grande São Paulo, saltou para índices próximos aos 35 na semana de 24 a 28 de abril.
Os números se estagnaram neste patamar, rodando a casa dos 40 da segunda metade de maio até o último capítulo, em 1° de julho – recorde de toda a produção, com 43 pontos.
Durante o “padecimento” de Irmãos Coragem, a concorrência cresceu: o SBT, com o jornalístico Aqui Agora, e a Manchete, com o anime Cavaleiros do Zodíaco, foram os mais beneficiados.
Em Portugal, foi transformada em novela das oito
A SIC, da qual a Globo era sócia, costumava reservar o horário mais nobre, das 20h30, para folhetins de êxito por aqui. Como a aposta em Irmãos Coragem era alta, tanto no Brasil como em Portugal, a emissora alocou o remake na faixa. Substituindo, aliás, outra regravação: a de A Viagem (1994), produzida originalmente pela Tupi, em 1975.
O esquema adotado nos primeiros capítulos auxiliou ‘Irmãos’ a emplacar rapidamente: a novela era transmitida entre o primeiro e os dois últimos blocos da antecessora.
Logo abriu larga vantagem sobre a principal concorrente, a RTP, com a também brasileira 74.5 – Uma Onda no Ar, da Manchete – estrelada, vejam só, por Letícia Sabatella. Com Irmãos Coragem às 20h30, a novela das oito daqui, Pátria Minha (rebatizada como Vidas Cruzadas) era exibida às 18h em Portugal.
Sucesso do casal Jerônimo e Potira motivou mudanças
Queridinhos do público, os personagens foram poupados do trágico desfecho dado por Janete Clair aos dois na primeira versão: em fuga, são baleados pela polícia e morrem abraçados. Aqui, optou-se pelo lúdico: também em fuga, os dois se atiram no rio.
E desaparecem… Se minha memória não falha, há uma passagem, nos momentos finais, com Jerônimo e Potira a bordo de um veleiro. Estariam vivos ou em “outra dimensão”?
Também foram alterados os desfechos do Coronel Pedro Barros – morto num incêndio causado por ele em 1970; enlouquecido e sob os cuidados da esposa em 1995. Juca Cipó, após deixar a prisão, amargava a pobreza ao lado da mulher e dos cinco filhos; na segunda versão, herda os bens de Pedro, seu pai biológico.