Escrever novela é uma verdadeira maratona, que exige muito do autor e dos outros envolvidos. Recentemente, o público acompanhou a segunda versão de Pantanal, folhetim criado por Benedito Ruy Barbosa – um grande sucesso em 1990, na Manchete. Novelista consagrado, ele demonstrou, muitas vezes, que estava cansado do trabalho.

Em 1993, Benedito voltou à Globo com o sucesso Renascer. A trama, que contava a saga de José Inocêncio (Antônio Fagundes), foi um fenômeno de audiência, mas desgastou o autor.

“Estou cansado. Escrever para televisão é um trabalho muito estafante. Cada sinopse minha equivale a um romance. Já estou quase parando de fazer novela”, confessou Ruy Barbosa em entrevista ao Jornal do Brasil.

Longe dos filhos por causa do trabalho

Benedito Ruy Barbosa

O ritmo intenso do folhetim fez com que Benedito Ruy Barbosa tomasse uma decisão: aquela era a última vez em que ele escrevia uma novela sozinho.

“Eu também achava que se a novela sai da cabeça de uma pessoa, deve ser escrita só por ela. Mas esses loucos estão acabando. Ninguém mais quer escrever sozinho, o volume de produção é muito grande”, declarou à Folha de S. Paulo.

O que pesou em sua decisão foi um acidente de automóvel que envolveu dois de seus seis filhos enquanto ele escrevia Renascer.

“Eu mal pude vê-los direito porque tinha de escrever os capítulos desta semana. Ator e diretor ficam doentes e são substituídos. Com o autor, isso não acontece”, desabafou ele, que escreveu as últimas cenas no hospital, pois estava tratando de uma úlcera.

Canseira, apesar da ajuda

O Rei do Gado - Patrícia Pillar

Três anos depois, Benedito estava de volta ao horário nobre com outro sucesso: O Rei do Gado (1996). Na colaboração, de forma mais “incisiva”, as filhas dele, Edmara e Edilene Barbosa. Mesmo com o bom salário e a ajuda, ele ainda sentiu o peso de estar à frente do produto de maior êxito da TV brasileira.

Além de muitas dores nas costas, Ruy Barbosa enfrentou o estresse que envolvia ameaças por conta do conflito relacionado ao Movimento Sem Terra na trama.

Em 1999, o novelista levou para o público a história dos imigrantes italianos vindos para o Brasil, com Terra Nostra. O cansaço permanecia…

“O problema é que, como não tenho colaboradores, por achar que não conseguiria dividir com ninguém tudo o que está na minha cabeça, achei que não seria possível produzir 270 capítulos de uma vez. Já fiz os cálculos: isso daria quase 12 mil laudas! Preciso descansar, como qualquer ser humano, e me reciclar”, esclareceu ao O Globo.

“Se eu continuasse escrevendo, teria morrido”

Esperança

Em 2002, entrava no ar Esperança, espécie de continuidade de Terra Nostra. A novela estreou no meio da Copa do Mundo – ano em que o Brasil venceu –, enfrentou as férias escolares e irrompeu o horário político. A audiência foi caindo e a narrativa sofreu inúmeras críticas.

O autor estava extenuado com inúmeros conflitos pessoais: a mãe há tempos no CTI por problemas pulmonares; ele próprio enfrentando dificuldades com o cigarro, além de um acidente de carro. Benedito decidiu então se afastar da produção; Walcyr Carrasco tornou-se o responsável pela continuidade.

“O que aconteceu em ‘Esperança’ é que tive problemas de saúde. Na época, cheguei a trabalhar 14 horas e a fumar quatro maços por dia. Não é à toa que caí doente. Para piorar a situação, perdi meu irmão e minha mãe adoeceu. Fiquei muito mal. Não tinha condições de continuar escrevendo. Imagina… Felizmente, a Globo entendeu. Pôs lá um autor que mudou tudo, mas… (pausa) Se eu continuasse escrevendo, teria morrido”, relatou Benedito em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.

Desde então, Ruy Barbosa atua como supervisor. Ele supervisionou as filhas em quatro remakes de obras suas: Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006), Paraíso (2009) e Meu Pedacinho de Chão (2014).

O último folhetim em que “colocou a mão na massa” foi Velho Chico (2016), em parceria com o neto Bruno Luperi – que desenvolveu o remake de Pantanal. A trama ficou marcada por uma tragédia: a morte do protagonista Domingos Montagner.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor