Autor de Pantanal deu adeus às novelas: “Se continuasse, teria morrido”
21/10/2022 às 17h45
Escrever novela é uma verdadeira maratona, que exige muito do autor e dos outros envolvidos. Recentemente, o público acompanhou a segunda versão de Pantanal, folhetim criado por Benedito Ruy Barbosa – um grande sucesso em 1990, na Manchete. Novelista consagrado, ele demonstrou, muitas vezes, que estava cansado do trabalho.
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Em 1993, Benedito voltou à Globo com o sucesso Renascer. A trama, que contava a saga de José Inocêncio (Antônio Fagundes), foi um fenômeno de audiência, mas desgastou o autor.
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“Estou cansado. Escrever para televisão é um trabalho muito estafante. Cada sinopse minha equivale a um romance. Já estou quase parando de fazer novela”, confessou Ruy Barbosa em entrevista ao Jornal do Brasil.
Longe dos filhos por causa do trabalho
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O ritmo intenso do folhetim fez com que Benedito Ruy Barbosa tomasse uma decisão: aquela era a última vez em que ele escrevia uma novela sozinho.
“Eu também achava que se a novela sai da cabeça de uma pessoa, deve ser escrita só por ela. Mas esses loucos estão acabando. Ninguém mais quer escrever sozinho, o volume de produção é muito grande”, declarou à Folha de S. Paulo.
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O que pesou em sua decisão foi um acidente de automóvel que envolveu dois de seus seis filhos enquanto ele escrevia Renascer.
“Eu mal pude vê-los direito porque tinha de escrever os capítulos desta semana. Ator e diretor ficam doentes e são substituídos. Com o autor, isso não acontece”, desabafou ele, que escreveu as últimas cenas no hospital, pois estava tratando de uma úlcera.
Canseira, apesar da ajuda
Três anos depois, Benedito estava de volta ao horário nobre com outro sucesso: O Rei do Gado (1996). Na colaboração, de forma mais “incisiva”, as filhas dele, Edmara e Edilene Barbosa. Mesmo com o bom salário e a ajuda, ele ainda sentiu o peso de estar à frente do produto de maior êxito da TV brasileira.
Além de muitas dores nas costas, Ruy Barbosa enfrentou o estresse que envolvia ameaças por conta do conflito relacionado ao Movimento Sem Terra na trama.
Em 1999, o novelista levou para o público a história dos imigrantes italianos vindos para o Brasil, com Terra Nostra. O cansaço permanecia…
“O problema é que, como não tenho colaboradores, por achar que não conseguiria dividir com ninguém tudo o que está na minha cabeça, achei que não seria possível produzir 270 capítulos de uma vez. Já fiz os cálculos: isso daria quase 12 mil laudas! Preciso descansar, como qualquer ser humano, e me reciclar”, esclareceu ao O Globo.
“Se eu continuasse escrevendo, teria morrido”
Em 2002, entrava no ar Esperança, espécie de continuidade de Terra Nostra. A novela estreou no meio da Copa do Mundo – ano em que o Brasil venceu –, enfrentou as férias escolares e irrompeu o horário político. A audiência foi caindo e a narrativa sofreu inúmeras críticas.
O autor estava extenuado com inúmeros conflitos pessoais: a mãe há tempos no CTI por problemas pulmonares; ele próprio enfrentando dificuldades com o cigarro, além de um acidente de carro. Benedito decidiu então se afastar da produção; Walcyr Carrasco tornou-se o responsável pela continuidade.
“O que aconteceu em ‘Esperança’ é que tive problemas de saúde. Na época, cheguei a trabalhar 14 horas e a fumar quatro maços por dia. Não é à toa que caí doente. Para piorar a situação, perdi meu irmão e minha mãe adoeceu. Fiquei muito mal. Não tinha condições de continuar escrevendo. Imagina… Felizmente, a Globo entendeu. Pôs lá um autor que mudou tudo, mas… (pausa) Se eu continuasse escrevendo, teria morrido”, relatou Benedito em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.
Desde então, Ruy Barbosa atua como supervisor. Ele supervisionou as filhas em quatro remakes de obras suas: Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006), Paraíso (2009) e Meu Pedacinho de Chão (2014).
O último folhetim em que “colocou a mão na massa” foi Velho Chico (2016), em parceria com o neto Bruno Luperi – que desenvolveu o remake de Pantanal. A trama ficou marcada por uma tragédia: a morte do protagonista Domingos Montagner.