Algo inédito ocorreu recentemente nos bastidores da Globo: a emissora pegou uma novela que seria produzida na faixa das nove e acabou transferindo-a para o Globoplay. Todas as Flores, que inicialmente seria intitulada Olho por Olho, seria a substituta de Pantanal, mas agora será vista somente na plataforma de streaming, tendo perdido sua vaga para Travessia, de Gloria Perez.
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O fato foi visto como um rebaixamento para João Emanuel Carneiro. O autor, que escreveu sucessos como Da Cor do Pecado, A Favorita e Avenida Brasil, não conseguiu repetir os números em suas duas últimas tramas, A Regra do Jogo e Segundo Sol, que geraram problemas para a Globo.
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Contudo, não foi a primeira vez que um consagrado autor foi “rebaixado” pela emissora. A simples menção do título Força de um Desejo (1999) deixa os noveleiros em polvorosa. Trata-se de uma novela escrita por Gilberto Braga e Alcides Nogueira, que contou com um elenco estelar.
Mas, para Gilberto, o projeto causou incômodo no início, já que o autor produziu grandes sucessos na faixa das 20h e acabou tendo que retornar ao horário menos prestigiado das novelas da casa.
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A obra está no radar do Canal VIVA desde 2018, quando esteve cotada para substituir Vale Tudo (1988), às 15h30. Dois anos depois, o folhetim foi novamente cogitado, para a mesma faixa, na sequência de Chocolate com Pimenta (2003). Na primeira ocasião, Força de um Desejo foi preterida por Porto dos Milagres (2001); na segunda, por A Viagem (1994).
De acordo com informações da jornalista Patrícia Kogut, de O Globo, os direitos da trama estão em negociação. A expectativa é que a produção pinte no VIVA logo após a conclusão de Alma Gêmea (2005).
Amor e conflito
Inspirada em três contos de Visconde de Taunay, Força de um Desejo é ambientada na segunda metade do século XIX e conta a história de amor de Inácio Sobral (Fábio Assunção), filho do barão Henrique Sobral (Reginaldo Faria) e da baronesa Helena (Sônia Braga), com a cortesã Ester Delamare (Malu Mader), dona do bordel mais famoso da corte.
Os dois vivem um intenso romance, interrompido com a doença e consequente morte da mãe dele. Passado o luto, Inácio decide se casar com Ester; as intrigas da maquiavélica Idalina (Nathalia Timberg), avó do rapaz, acabam por separá-los. Tempos depois, a cortesão se une ao então viúvo Henrique, sem imaginar que ele é pai de seu amado.
Acerto de última hora
Curiosamente, Gilberto Braga não estava envolvido com Força de Um Desejo. Em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, o autor revelou que a intenção, naquele momento, era produzir um remake de Dancin’ Days (1978):
“Estava planejado que eu faria um remake de Dancin’ Days. Marluce (Dias da Silva) assumiu a direção da TV Globo e não quis fazer o remake às 20 horas. Propôs que eu fizesse às 18 horas. Ela queria muito um remake às 18 horas, mesmo que não fosse Dancin’ Days. Eu não queria fazer Dancin’ Days porque não conseguiria escrever. Acho que não é uma história adequada para às 18h”.
Com o impasse, a todo-poderosa da emissora perguntou se o novelista poderia desenvolver uma história original. Gilberto então recorreu à sinopse de Força de um Desejo, que Alcides Nogueira havia apresentado à casa na década de 1980.
Na ocasião, Alcides estava escalado para a faixa das 18h, após o término de Bambolê (1987). A Globo, no entanto, decidiu dar uma pausa em produções de época, entregando o horário para Walther Negrão, com a contemporânea Fera Radical (1988). Força de um Desejo, que já contava com Maria Zilda Bethlem e Thales Pan Chacon como protagonistas, acabou engavetada.
Frustração no início…
Para o livro A Seguir Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes, Gilberto Braga confidenciou que se sentiu rebaixado quando foi convocado para o horário das seis – que ele implantou na década de 1970.
“De certa forma, eu me senti rebaixado quando me escalaram para o horário das seis. Para piorar a situação, Força de Um desejo não atingiu a audiência que a emissora queria. (…) Mesmo assim, eu assistia à novela com prazer. O falecido Evandro Carlos de Andrade (então diretor de jornalismo da emissora) era fã da novela. Ele não gostava de Terra Nostra (a novela das oito da época) e pedia para sua equipe gravar os capítulos de Força de Um Desejo para assistir depois”.
…orgulho no final
O folhetim, aliás, marcou a retomada das produções de época na faixa das seis da Globo, suspensas desde Salomé (1991). A Globo, empolgada com os bons resultados da minissérie Chiquinha Gonzaga (1999), achou que seria uma ótima oportunidade de alavancar o horário.
“A novela foi esticada tremendamente: 227 capítulos, mas começou e terminou com amor. Não foi um sucesso, mas também nenhum fracasso retumbante: foi cansativo para o autor, Gilberto Braga, e toda a equipe que trabalhou com ele. (…) Era muito bem feita, muito bem representada. Em momento algum houve desarmonia em seu elenco, nem no elenco principal, nem no coadjuvante, nem nos estreantes”, relatou Daniel Filho no livro O Circo Eletrônico.
O time que acompanhou Alcides Nogueira e Gilberto Braga foi agraciado por este último com elogios num depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia:
“Gosto muito da forma como me relacionei com a equipe em Força de Um Desejo. Acho que é uma das minhas novelas menos pessoais e mais organizadas. Ela tem um nível de trama do qual me orgulho. Como a equipe era grande e talentosa, tive mais tempo de me dedicar à história”.
Esperamos que o final dessa história também seja feliz para João Emanuel Carneiro e sua nova trama.