Mauro Wilson, autor de Quanto Mais Vida, Melhor!, revelou em recente entrevista que ficou decepcionado por ter levado ao ar sua história totalmente gravada, sem poder fazer ajustes, diferente do que acontece com o atual folhetim das nove, Travessia, que conta com esse privilégio. Entre as principais críticas da trama, por exemplo, esteve o desenvolvimento da personagem Rose, vivida por Bárbara Colen.

Barbara Colen

Conhecido por ter escrito vários seriados de sucesso, como A Grande Família e Doce de Mãe, o autor admitiu em entrevista que ficou frustrado ao ter sua novela totalmente gravada previamente, o que aconteceu por conta da pandemia da Covid-19.

“Hoje, vendo no ar, tem coisas que acho que poderia ter feito melhor. Penso: ‘Poderia ter desenvolvido isso melhor’. É claro! Passei a vida inteira escrevendo seriados, mas eram 12 episódios, não eram 161 capítulos, uma história longuíssima em que mudanças a fazer, viradas o tempo inteiro”, destacou Mauro em entrevista ao Notícias da TV em 10 de fevereiro de 2022.

Frustração

Mauro Wilson

Wilson ainda assumiu que sentiu falta de poder movimentar a sua história, algo comum em uma obra aberta, que pode ser alterada de acordo com a resposta do público.

“Sinto um pouco falta disso (de poder mexer na novela). Na verdade, quando resolvi escrever a novela, uma das coisas que me deu vontade de fazer foi a oportunidade de poder mexer na obra em continuidade, coisa que nenhum de nós aqui conseguimos”, disse.

Satisfação

Quanto Mais Vida Melhor

Quanto Mais Vida, Melhor!, assim como tramas como Nos Tempos do Imperador e Amor de Mãe, teve que ter seus trabalhos totalmente concluídos antes de ir ao ar por conta dos procedimentos de segurança rígidos adotados pela Globo em decorrência do agravamento da pandemia.

Mesmo com essa frustração, o escritor ressaltou que ficou bastante satisfeito com o resultado do seu projeto, que marcou sua estreia no gênero.

“Estou amando a novela, amando os quatro protagonistas. Vejo a novela como se fosse um espectador comum, esqueço tudo que escrevi e de repente estou lidando como se fosse uma novidade. Mesmo sem a oportunidade de fazer alguns ajustes, que seria o normal, estou gostando muito”, afirmou na época.

Privilégio

Travessia - Gloria Perez

Diferente dos demais, Gloria Perez, autora de Travessia, teve mais sorte nessa questão, já que ela pode alterar os rumos de sua obra.

“As novelas que vieram antes de Travessia aconteceram dessa maneira de estarem todas escritas por causa da pandemia. Mas é uma exigência de a obra aberta ser escrita enquanto a novela é contada, porque a novela, pelo seu próprio formato, é um grande diálogo com o público. Quando você escreve tudo antes para passar depois, o público fica para fora desse diálogo. A grande dificuldade e a grande beleza de escrever uma obra aberta é ter o público dentro”, explicou Gloria ao Notícias da TV em 19 de setembro de 2022.

A novelista, que é assídua nas redes sociais, confessa que gosta de trocar ideias com os telespectadores e de ouvir a opinião deles em relação à história que está desenvolvendo.

“Eu sempre presto atenção no que o público está recebendo porque eu acho que, se o público não está entendendo o que você está dizendo, a culpa é sua, o erro é seu. Não é que precise mudar a história, mas trate de contar diferente ou de perceber onde é que está o ruído para tirá-lo fora”, contou.

Contato direto

No entanto, Gloria Perez faz questão de ressaltar que, apesar de usar a internet como termômetro de repercussão e audiência, ela ainda prefere o contato direto – olho no olho – com o público das ruas.

“Apesar das redes sociais, hoje eu tenho pesquisadora que também faz esse trabalho de estar em fila de banco, na fila de algum lugar, e aí soltar um bordão, por exemplo, ‘Não é brinquedo, não’. Se a novela for sucesso, a pessoa que está atrás da fila vai dizer: ‘Viu ontem a Dona Jura (Solange Couto em O Clone, novela de 2000)?’. A gente vai capturando esse ruído em pequenos espaços e vai prestando atenção nas redes usando o filtro certo”, avaliou.

Por fim, ela assumiu que mesmo escutando a opinião das pessoas, ela gosta também de surpreender os fãs de suas histórias.

“Eu não mudo a história porque acho que o público gosta de ser surpreendido. Ele pensa nas soluções que ele já viu. Então ele gosta de ser surpreendido com desfecho que não estava ainda no imaginário dele, mas pra isso mudar a forma de contar é essencial, porque se aquilo não está chegando ao público a falha é do escritor, com certeza. Então, a gente reformula a maneira de dizer para chegar”, finalizou ela.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor