Autores de novelas, nem sempre, convivem com o sucesso. Várias emissoras apostaram tudo em produções caras e com grande elenco e, no final, o resultado foi um grande fiasco de audiência e crítica.

Máscaras

Responsável por sucessos como Carinhoso (1973), Roda de Fogo (1986) e O Salvador da Pátria (1989), entre outros títulos, Lauro César Muniz sentiu na pele o fracasso de uma trama com sua assinatura.

Contratado pela Record em 2006, ele foi a grande aposta do canal para trazer prestígio à dramaturgia. Cidadão Brasileiro (2006) e Poder Paralelo (2009) tiveram um bom desempenho, agradando a direção da casa.

Folhetim promissor e elenco de peso

Máscaras

Em 2012, Máscaras entrou no ar. A trama contava a história de Otávio (Fernando Pavão), que via o seu filho recém-nascido ser sequestrado e a esposa, Maria (Miriam Freeland), sumir misteriosamente. O herói entrava em colapso, tentando entender se a amada estava envolvida em um golpe ou se era vítima de uma organização criminosa.

A produção entrou no dia 10 de abril, às 22h. Além de Pavão e Miriam, nomes como Paloma Duarte, Heitor Martinez, Petrônio Gontijo, Cecil Thiré, Jussara Freire, Gisele Itiê, Nicola Siri, Bete Coelho, Jonas Bloch, Bárbara Bruno, Giuseppe Oristânio, Bemvindo Siqueira e Flávia Monteiro faziam parte do elenco.

Fiasco de audiência

Máscaras

A novela, que usava elementos do teatro, da literatura e do cinema, acabou não agradando o público. Os números foram caindo e a direção da emissora passou a buscar uma solução para salvar Máscaras. A produção foi transferida para depois das 23h, logo após A Fazenda. O bom desempenho do reality não ajudou. Máscaras seguiu patinando…

Com o fim da novela, em outubro de 2012, a emissora fez uma limpa no setor de dramaturgia, escancarando a crise que atingia também Rebelde (2011), parceria com a Televisa ofuscada pelo bom desempenho de Carrossel (2012) no SBT. Lauro César foi um dos profissionais demitido em meio aos fracassos.

Sabotagem?

Lauro César Muniz

Em dezembro de 2013, em entrevista ao Notícias da TV, Lauro César Muniz (foto) disse que suspeita ter sido vítima de uma armação dentro da emissora.

“Não tenho provas para falar em sabotagem, mas parecia que o comitê artístico estava em choque com o RecNov. Quem vivia nos escritórios da Barra Funda percebia isso. Eu comecei a me sentir o bode expiatório dentro de uma guerra de poder”, revelou.

Ele confidenciou que tão logo percebeu que tudo poderia dar errado, teve uma crise nervosa, antes da novela entrar no ar.

“Eu pressentia o desastre. Foi uma novela que nasceu numa crise brava. As gravações no navio ficaram horrorosas, o elenco estava perdido. Foi aí que eu decidi que esta seria minha última novela”.

Briga entre diretores

Ignácio Coqueiro

Outro ponto que ajudou a aumentar o disse-me-disse nos bastidores envolveu o conflito entre o então diretor de dramaturgia Hiran Silveira e o responsável direto pela direção da novela, Ignácio Coqueiro (foto, com Dado Dolabella) – além da falta de mão de obra.

“Foi um absurdo a falta de diálogo entre Hiran e Ignácio. Estava havendo um cochilo enorme da produção, e o cenário era muito ruim. Havia também a limitação das jornadas de trabalho das equipes técnicas, que tinham de cumprir as determinações do banco de horas. As gravações no navio tinham sérios problemas técnicos, limitações de horários de trabalho. Uma novela que começa assim não pode ser consertada”, desabafou o diretor.

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Grade equivocada

Vidas Opostas

Outro ponto, na visão de Lauro, foi o erro de estratégia da própria Record.

“Além disso, a Record cometeu um erro gravíssimo. Colocou, antes de ‘Máscaras’, uma reprise de ‘Vidas Opostas’, uma novela ótima do Marcílio Moraes, talvez a melhor já feita na emissora. Mas havia 14 atores comuns nas duas novelas. Isso foi desastroso. O público fazia piada com os atores. Comentavam: ‘Como você consegue ser pobre numa novela e ficar rico na outra?’. Era insuportável”.

Por fim, outras novelas entraram no ar e seguiram o caminho de Máscaras, sendo igualmente fiascos na audiência e com grandes críticas do público. A Record voltou a se dar bem quando apostou nas tramas bíblicas, atingindo o primeiro lugar de audiência no horário nobre com Os Dez Mandamentos (2015).

De fato, Máscaras foi o último folhetim que Lauro escreveu. Longe da televisão desde 2012, ele curte sua vida ao lado de sua nova namorada, a atriz Mayara Magri.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor