Em 1º de julho de 1968, estreava um clássico da televisão: a novela A Pequena Órfã, exibida pela TV Excelsior até maio de 1969.

Você conhece essa história: menina órfã, carente e graciosa que é maltratada por uma megera e encontra carinho nos braços de um bondoso velhinho.

Poderia ser mais uma novela infantil do SBT com texto mexicano importado. Mas é uma história brasileira, criada pelo novelista Teixeira Filho (1922-1984).

A menina era Toquinho, vivida pela então garotinha Patrícia Aires (filha do ator Percy Aires). A malvada era Elza, papel de Riva Nimitz. E o velhinho, chamado Gui, era o ator Dionísio Azevedo, que também dirigia a novela.

Trama deu origem a dois sucessos

Carolina Pavanelli e Patrícia França em Sonho Meu

Essa história inspirou, pelo menos, duas novelas posteriores. Em 1993, a trama da menina carente foi adicionada à espinha dorsal da novela Sonho Meu, produzida pela Globo, com Carolina Pavanelli (a menina), Nívea Maria (a megera) e Elias Gleizer (o velhinho). Sonho Meu está sendo exibida atualmente pelo canal Viva.

Em 2005, foi a vez da Record TV adaptar a história, dentro da novela Prova de Amor, com Júlia Magessi (a menina), Vanessa Gerbelli (a megera) e Rogério Fróes (o velhinho). A novela pode ser vista diariamente, às 15h15, na reprise da Record.

Abandonou a novela

Patrícia Aires não foi até o fim de A Pequena Órfã. Com apenas cinco anos na época, a menina trabalhava cinco, seis dias por semana, quando o combinado inicial com seus pais era de dois dias semanais.

Patrícia acabou desenvolvendo estafa e anemia e perdeu peso. Devido a isso, os pais a tiraram da novela.

Do passado nos estúdios de televisão, Patrícia não guarda boas lembranças. Ainda criança, atuou em outras produções (como a primeira versão de Meu Pedacinho de Chão, em 1971), mas desistiu da carreira de atriz. Em uma entrevista para o UOL, em 2014, ela declarou: “A Pequena Órfã foi a novela que mais me traumatizou“.

De acordo com reportagem publicada na revista Veja de 25 de setembro de 1968, Percy Aires alegou que tirou a filha da novela pois estavam fazendo-a trabalhar além do estipulado pelo contrato. Além disso, a machucaram em uma cena mais bruta, em que ela levou um tapa, caiu e machucou o rosto e a boca.

O diretor Dionísio de Azevedo rebateu alegando que Percy tirou a filha da novela para assinar um contrato mais vantajoso em outra emissora (a Record, da qual Percy era contratado), e que ainda levou um automóvel Galaxie de brinde.

Para substituir Patrícia Aires na novela, foi chamada a garota goiana Marize Ney, parecida com a intérprete mirim, só que três anos mais velha que ela. O autor da história resolveu o problema com uma passagem de tempo.

Pingo de Gente

A repercussão de A Pequena Órfã foi tanta que levou a concorrência, na época, a investir no filão dramático da criança abandonada ou carente. No rastro do sucesso de Toquinho vieram: Ricardinho, Sou Criança, Quero Viver, na Bandeirantes (em 1968); Sozinho no Mundo, O Doce Mundo de Guida e Meu Pé de Laranja Lima, na Tupi (entre 1968 e 1971); e Tilim e Pingo de Gente (foto acima), na Record (entre 1970 e 1971).

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Dona Elza

Grande destaque para a atriz Riva Nimitz ao interpretar a vilã Elza, que maltratava Toquinho. As atitudes da megera eram risíveis: ela era meio maluca e seus dramas, na verdade, estavam ligados ao fato de não ser mãe.

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A atriz dizia que por muito tempo foi lembrada pela personagem e que, na época da novela, o nome Elza virou jargão entre as mães: se os filhos não comiam ou eram irresponsáveis na escola, elas ameaçavam “Olha que eu te levo para a Dona Elza!“.

A Globo reprisou “A Pequena Órfã” em 1971, após a extinção da TV Excelsior. Na nova abertura feita para esta reapresentação, podia-se ver a então menina Glória Pires (com 8 anos) em uma de suas primeiras aparições na televisão.

Em 1973, o cineasta Clery Cunha filmou a versão cinematográfica da novela da Excelsior, com o mesmo elenco base.

Patricia aceitou fazer o filme se ganhasse um presente:

“Quando eu tinha 9 anos me chamaram para fazer o filme da Pequena Orfã. O meu pai me perguntou se eu queria, e eu disse: ‘Quero, mas só se eu ganhar um mini-bug'”.

AQUI tem tudo sobre A Pequena Órfã: trama, elenco completo, personagens e mais curiosidades.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor